A
MISSÃO DOS DOZE
Texto Base: Mateus 10:1-23
INTRODUÇÃO:
Depois de ser batizado
(Mateus 3:13-17), Jesus foi levado ao deserto pelo Espírito Santo, a terceira
pessoa da Trindade, para ser provado pelo Diabo. Humanamente falando, Jesus não
tinha necessidade de passar por esta experiência, mas Deus colocou o Seu Filho à
prova a fim de que tivéssemos um exemplo
a ser seguido.
“Porque não
temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa
semelhança, mas sem pecado. (Hebreus 4:15)
Jesus
foi tentado em sua natureza humana, porém Ele não pecou. Nas áreas em que foi
tentado, a Palavra de Deus foi a arma utilizada por Jesus para derrotar o
Diabo.
Jesus Cristo saiu do deserto
vitorioso e deixou-nos o exemplo de que nós também podemos ser vencedores, mas
para isso, é necessário que estejamos fortalecidos pelo Espírito Santo de Deus
e tenhamos uma vida de oração e leitura da Palavra assim como Ele. Passada a
provação, Jesus foi para a região praiana da Galileia e deu início ao seu
ministério público.
"Daí por diante, passou
Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos
céus" (Mateus
4:17).
I.
JESUS CHAMA E CAPACITA OS DOZE (10:1-4)
É interessante observar
que a escolha de todos os discípulos de Jesus foi direcionada e amparada pelo
Pai; após Jesus passar uma noite em oração no monte, Ele passou a chamar cada
um.
Naqueles dias,
retirou-se para o monte, a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. E,
quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles,
aos quais deu também o nome de apóstolos: (Lucas 6:12,13).
A
chamada dos primeiros quatro primeiros discípulos de Jesus está registrada em
Mateus 4:18-22 e Lucas 1:16-20 e aconteceu no local de trabalho deles: na
praia.
Caminhando
junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André,
que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de
homens. Então, eles deixaram
imediatamente as redes e o seguiram. Passando adiante, viu outros dois
irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam
no barco em companhia de seu pai, consertando as redes; e
chamou-os. Então, eles, no mesmo instante, deixando o barco e seu pai, o
seguiram.
...
e deste texto aprendo que:
1. Jesus
valoriza as nossas experiências de vida e ensina que elas são muito úteis no
exercício do ministério apostólico.
2. Todos
nós somos chamados para testemunhar, mas para ministérios específicos, Deus
chama pessoas específicas.
3. Jesus
chama pessoas que estão ocupadas, trabalhando! O ofício de pescador requer do
profissional, além dos conhecimentos relativos à arte da pesca, a
responsabilidade, a força, a persistência, a perseverança, a fé e a coragem
para enfrentar diariamente o perigo, os embates das ondas e a fúria do
mar.
4. Jesus
conhece muito bem aqueles que Ele separa e chama para realizar Seu trabalho
aqui na terra.
5. Deus
conta com pessoas preparadas, envolvidas em trabalhos, pessoas que têm
objetivos, destemidas, responsáveis e que vivam pela fé.
6. Deus
move o coração dos vocacionados para responder, de imediato a Jesus,
respondendo SIM ao chamado.
7. O
chamado de Deus é claro e objetivo.
8. O
trabalho que estamos realizando quando Deus nos chama para o ministério, pode
muito bem ser realizado por outras pessoas.
9. Os
pais não devem impedir, nem ofuscar e nem desviar seus filhos do chamado
missionário, mas encorajá-los a obedecer a Deus.
10. O
chamado de Deus é para a família. Acerca disso, vamos falar mais adiante.
A.
Breve
histórico da vida dos discípulos:
Simão Pedro, André, Tiago e João eram pescadores e
estavam trabalhando com seus pais. Jesus os chama para serem "pescadores de homens". Quando chamados, todos eles deixaram imediatamente as
redes e seguiram Jesus.
Caminhando
junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, que
lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de
homens. Então, eles deixaram
imediatamente as redes e o seguiram. (Mateus
4:18-20)
SIMÃO é um
nome de origem hebraica e significa "ele ouviu". Simão teve seu nome
acrescentado para Pedro, nome de origem grega que significa "pedra,
rochedo". Pedro foi um líder de grande influência na Igreja Primitiva. Não
encontramos nenhuma menção no Novo Testamento sobre a morte de Pedro de Pedro,
porém livros históricos registram que ele sofreu martírio em Roma por ordem do
imperador. Conta-se que na hora de ser morto, pediu que fosse crucificado de
cabeça para baixo, por não se julgar digno de morrer como Seu Mestre e Senhor.
ANDRÉ também
é um nome de origem grega e significa "homem", "másculo,
viril". André era um dos discípulos João Batista e conheceu Jesus através
de João Batista que o apresentou como sendo "O Cordeiro de Deus".
André seguiu Jesus até a casa onde Ele estava morando. Ao retornar para sua
casa, contou ao seu irmão Pedro que havia encontrado Jesus e estado com Ele.
André levou Pedro até Jesus (João 1:35-42). Assim sendo, quando Jesus os chamou
na praia, tanto André como Pedro já sabiam era Jesus e não hesitaram em
segui-LO prontamente.
Sobre André:
Diz a tradição que André
viveu seus últimos dias na Cítia, ao norte do mar negro. Mas um livreto
intitulado: Atos de André (provavelmente escrito por volta do ano 260 d.C) diz
que ele pregou primariamente na Macedônia e foi martirizado em Patras. Diz
ainda, que ele foi crucificado numa cruz em forma de “X”, símbolo religioso
conhecido como Cruz de Sto. André [1].
TIAGO, o
filho de Zebedeu é de origem grega do
hebraico Ya’aqov,
Iago e significa
‘suplantador‘
ou ainda ‘o que segura o
calcanhar‘. Também pode ser lido como ‘aquele que ultrapassa‘. A interpretação deste
nome implica em atitudes que estão relacionadas à Fé como forma de superação,
tornando-a o único método para perpassar as adversidades, quaisquer que sejam
elas [2]. Este
Tiago foi o primeiro dos apóstolos a ser morto, por Herodes. Sua morte está
registrada no livro de Atos.
"Por
aquele tempo, mandou o rei Herodes prender alguns da igreja para os maltratar,
fazendo passar a fio de espada, a Tiago, irmão de João" (Atos 12:1,2)
JOÃO, o
filho de Zebedeu e irmão de Tiago significa ‘agraciado
por Deus‘ ou ‘Deus
é cheio de graça‘. Outra interpretação possível é ‘dádiva de Deus‘. O nome
pode ser entendido como uma referência ao amor e ao perdão que o Senhor concede
por meio da fé daqueles que nela perseveram pelo ministério [3].
João é o autor do quarto evangelho e do livro de Apocalipse. Foi o último dos
discípulos a morrer. Ainda sobre João:
Diz a
tradição que ele cuidou da mãe de Jesus enquanto pastoreou a congregação em
Éfeso, e que ela morreu ali. Preso, foi levado a Roma e exilado na Ilha de Patmos.
Acredita-se que ele viveu até avançada idade, e seu corpo foi devolvido a Éfeso
para sepultamento [4]. Jesus deu o apelido a
Tiago e a João de "filhos do trovão":
"Tiago, filho de Zebedeu, e
João, seu irmão, aos quais deu o nome de Boanerges, quer dizer: filhos do trovão"
(Marcos 3:17)
MATEUS,
também chamado de Levi (Lucas 5:27-29) foi chamado por Jesus enquanto
trabalhava. Mateus trabalhava para o governo romano cobrando impostos do povo
palestino. Esses cobradores eram chamados de publicanos, uma classe social
odiada pelo povo dado à fama de serem corruptos cobrando impostos acima do que
a lei permitia. O valor superfaturado ia para os bolsos dos publicanos
tornando-os ricos às custas da miséria do povo. Um
bom judeu não se associava com publicanos (Mt 9.10-13). No entanto,
Jesus rompe este paradigma e vê em Mateus um potencial para ser Seu discípulo. Ao
se aproximar de Mateus, Jesus dirige a ele a palavra e ordena que O siga.
Mateus não vacilou. Deixou aquele emprego que dava a ele "vantagens"
e seguiu a Jesus. O evangelista Lucas vai além em seu relato (5:27-27) e diz
que Levi "deixou tudo" para seguir a Jesus.
Mateus e Levi são
nomes hebraicos. Mateus significa
"presente, dádiva de Deus" e Levi
significa "ligado, vinculado, unido".
Segundo a tradição,
Mateus morreu de morte natural na Etiópia ou na Macedônia[5].
A chamada de Filipe,
de Bartolomeu (Natanael), de Tomé; de Tiago, o filho de
Alfeu; de Tadeu; de Simão, o zelote; e de Judas Iscariotes são
mencionados em Marcos 3:18. Judas, o filho de Tiago é mencionado em
Lucas 6:16.
FILIPE é o prenome grego Φίλιππος [Fílipos], latinizado em
Philippus, composto de φιλέω [filéo], "querer, amar com afeto de
amizade", e ἵππος [híppos], "cavalo", portanto, significa
"amigo dos cavalos" ou "aquele que gosta de guerras" e
sugere a capacidade de ser fiel em qualquer circunstância, mostrando sempre a
lealdade como principal característica [6].
Além de André, o
evangelista João menciona o chamado missionário de Filipe e de Natanael. Filipe
era da cidade de Betsaida, a mesma cidade de André e Pedro. Jesus o chamou e
Filipe também O seguiu sem vacilar; além disso, anunciou a Natanael que havia
encontrado Jesus (João 1:43-51). Felipe também morreu de morte natural.
BARTOLOMEU,
também chamado de NATANAEL, creu
em Jesus depois do Mestre ter dito que o vira debaixo de uma figueira antes
mesmo de Filipe o chamar. Admirado, Bartolomeu exclamou: "Mestre,
tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel" . Sobre Bartolomeu:
Creem alguns estudiosos que
Bartolomeu era o sobrenome de Natanael. A palavra aramaica bar significa
“filho”, por isso o nome Bartolomeu significa literalmente, “filho de Talmai”.
A Bíblia não identifica quem foi Talmai. Supondo que Bartolomeu e Natanael
sejam a mesma pessoa, o Evangelho de João nos proporciona várias informações
acerca de sua personalidade. Jesus chamou Natanael de “israelita em quem não há
dolo” (Jo 1.47). Diz a tradição que ele serviu como missionário na Índia e que
foi crucificado de cabeça para baixo [7].
TOMÉ também era chamado de Dídimo (Jo 20.24 – "Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava
com eles quando veio Jesus"). Dídimo é a palavra grega para
“gêmeos” assim como a palavra hebraica t’hom significa “gêmeo”. Sobre Tomé:
Diz a
tradição que Tomé finalmente tornou-se missionário na Índia. Afirma-se que ele
foi martirizado ali e sepultado em Mylapore, hoje subúrbio de Madrasta. Seu
nome é lembrado pelo próprio título da igreja Martoma ou “Mestre Tome” [8].
TIAGO, o
filho de Alfeu. Sobre ele:
Muitos estudiosos creem que
Tiago era irmão de Mateus, visto a Bíblia dizer que o pai de Mateus também se
chamava Alfeu (Marcos 2:14). Outros creem que este Tiago se identificava como
“Tiago, o Menor”, mas não temos prova alguma de que esses dois nomes se
referiam ao mesmo homem (Marcos 1:40). Se o filho de Alfeu era, deveras, o
mesmo homem Tiago, o Menor, talvez ele tenha sido primo de Jesus (Mateus 27:56;
João 19:25). Alguns comentaristas da Bíblia teorizam que este discípulo trazia
uma estreita semelhança física com Jesus, o que poderia explicar por que Judas
Iscariotes teve de identificar Jesus na noite em que foi traído. (Marcos 14:43-45;
Lucas 22:47-48). Dizem as lendas que ele pregou na Pérsia e aí foi crucificado.
Mas não há informações concretas sobre sua vida, ministério posterior e morte [9].
TADEU é a identificação
que Mateus e Lucas dão a este discípulo (Mateus 10:3 e Lucas 3:18). Lucas o menciona como “Judas, filho de Tiago” (Lucas
6:16; Atos 1:13). João distingue um dos discípulos como Judas, "o
que não era o Iscariotes" (João 14:22). Sobre Tadeu, ou Judas, a história
diz que
Judas foi a Abgar depois da
ascensão de Jesus, e permaneceu para pregar em várias cidades da Mesopotâmia.
Diz outra tradição que esse discípulo foi assassinado por mágicos na cidade de
Suanir, na Pérsia, que o mataram a pauladas e pedradas [10].
SIMÃO, é
identificado como zelote. Segundo a história:
Esse apelido pode
significar tanto a cidade de origem, como a sua participação na seita
ultra-nacionalista e não religiosa chamada de Os Zelotes, ou zeladores, conservadores
das tradições hebraicas que lutavam para a libertação de Israel dos Romanos.
Como os outros apóstolos, também percorreu os caminhos da Palestina pregando o
evangelho. Da mesma forma que Felipe, parece ter ido primeiro ao Egito,
seguindo a tradição sinóptica de que Jesus enviava seus discípulos aos pares.
No entanto, parece ter voltado através da África do Norte, Espanha e Bretanha,
chegando a Ásia Menor. Deste ponto pode ter viajado com Judas pela Mesopotâmia
e Síria, juntado-se a outros Apóstolos orientais na Pérsia. Segundo uma notícia
de Egésipo, o apóstolo teria sofrido martírio durante o império de Trajano,
contando já com a avançada idade de 120 anos.
JUDAS ISCARIOTES é identificado como o traidor de Jesus Cristo. Dentre os discípulos, ele era o único que não era galileu. Judas Iscariotes era filho de Simão de Queriote, cidade próxima a Hebrom (Josué 15:25) segundo João 6:71 e 13:26). Após trair Jesus, tocado pelo remorso, Judas procurou devolver o dinheiro que ganhou para trair Jesus e buscou resolver sua situação tirando a sua própria vida através do enforcamento (Mateus 27:5). Triste fim teve este discípulo. Judas Iscariotes teve muitas oportunidades para ser um discípulo de verdade, mas preferiu colocar seus interesses acima de Deus e de Sua obra.
Jesus chamou doze
discípulos. A palavra "discípulo" vem do grego μαθητης (máfitis) e significa “aprendiz, pupilo, aluno, discípulo”
[11].
Mas por que Jesus
chamou 12 discípulos? Segundo pesquisadores, o número 12 na Bíblia tem um
significado simbólico e diferem de numerologia.
Os significados simbólicos
dos números na Bíblia que acabamos de considerar não são o mesmo que
numerologia, que envolve a busca de significados ocultos em números,
combinações ou totais numéricos. Por exemplo, cabalistas judeus analisaram as
Escrituras Hebraicas usando uma técnica chamada gematria, que procura um código
oculto nos equivalentes numéricos das letras. A numerologia é uma forma de
adivinhação, algo que Deus condena [12].
— Deuteronômio 18:10-12.
O número 12 é o resultado de 4 vezes 3, isto é, um número bem
completo. Encontramos para o número 4 a simbologia da terra com os quatro
pontos cardeais: Norte, Sul, Leste e Oeste. O número 3 nos liga a realidade
divina em sua Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Unindo céu e terra
multiplicando 4 x 3 teremos o número 12. O número 12 englobando a Terra (4) e o
céu (3) multiplicado indica o número perfeito. Portanto nos livros do Antigo
Testamento encontramos o número 12 na nomeação das 12 tribos de Israel. No
livro do Apocalipse encontramos os anciãos são 24, isto é, 2 X 12 (Ap 4:4). Os
que serão salvos (Ap 7:4) serão 144.000, isto é 12 X 12 X 1000! Enfim podemos
considerar o número da totalidade (Ap 21:12-14). Muitos chegam a pensar que
Jesus escolhe 12 discípulos (apóstolos), para dar entender que com o grupo
estava nascendo o Novo Israel, o novo Povo de Deus. Jesus foi sábio em formar
seu grupo de discípulos (apóstolos) com 12 pessoas.
De forma que o número 12 encontrado nos livros sagrados falam da
totalidade perfeita, na economia de Deus. O número 12 é a perfeição na ciência
e no conhecimento. Somente Deus pode ser entendido como perfeição absoluta.
B.
Capacitados
com autoridade Espiritual para serem embaixadores
Com
sua equipe já formada, Jesus passa a capacitá-los para a obra missionária dando
a eles autoridade sobre o mundo espiritual e físico das pessoas.
"... Deu-lhes Jesus autoridade sobre os espíritos imundos
para os expelir e para curar toda sorte de doenças e enfermidades".
(10:1b)
·
Doença
e enfermidade:
Ambas
palavras não são sinônimas. Segundo o teólogo Luis Roldan [13],
A doença: É algo que todos nós estamos
sujeitos, isso porque vivemos em um corpo físico, de carne e osso, aonde temos
células que podem ficar doentes, morrerem, podemos ser atingidos por ações de
vírus e bactérias ou de um mal funcionamento de algum sistema do nosso corpo,
ou de um órgão. As doenças são de cunho patológico, a sua causa é física, isso
afeta nosso corpo e até mesmo nossa mente. Não tem por sua causa algo espiritual.
A enfermidade: É de cunho espiritual, ou
seja, tem sua causa em uma ação espiritual demoníaca. Podemos ver nos quatro
evangelhos que Jesus quando curava um enfermo, sempre saia um ou mais demônios
do corpo do indivíduo, ou primeiro Jesus expulsava o demônio e consequentemente
a cura acontecia instantaneamente. Isso porque aquele demônio que ali estava,
era um espírito de doença, ou seja, um demônio que atua na saúde das pessoas
causando males. Claro que os males atingem o corpo físico, a mente, a psiquê da
pessoa, por isso muitos acham que é apenas um doença normal, mas a raiz de tudo
isso é uma ação espiritual.
Assim
sendo, podemos entender porque Isaías diz que – "Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades
e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de
Deus e oprimido" (Isaías 53:4).
Prosseguindo
em nosso estudo vemos que os discípulos foram investidos de autoridade para
representar Aquele que os estava enviando. Eles foram enviados como
embaixadores de Deus. Que grande responsabilidade! Nós também somos chamados e
enviados como embaixadores conforme o apóstolo Paulo nos assegura em II
Coríntios 5:20 – "De sorte que somos embaixadores em
nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo,
pois rogamos que vos reconcilieis com Deus".
O
embaixador é uma pessoa autorizada a comunicar os interesses de um grupo a
representantes de outro. Nós somos investidos de autoridade por Deus Pai, Filho
e Espírito Santo para comunicar a mensagem de Boas Novas de Salvação às pessoas
do mundo a fim de que elas se reconciliem, ou seja, façam as pazes com Deus.
É
requerido de todo embaixador que ele esteja em sintonia com quem está
representando, por isso, Jesus convoca seus embaixadores para que tenham uma
vida de oração pela seara (mundo) e pelos trabalhadores.
Diferentemente
do que muitas pessoas pensam, Jesus não romantiza e nem floreia o campo
missionário; pelo contrário, Ele é muito claro aos seus discípulos e a nós
sobre a realidade que vamos viver em Sua obra – "Eis
que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos... porque vos entregarão aos
tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas..." (10:16a, 17b).
Portanto,
"orar é a missão possível que nós podemos fazer. Salvar, chamar, capacitar
e enviar é a missão impossível que só Deus pode fazer. Façamos o possível e
deixemos os impossíveis com Deus" (Raquel Alcantara, 01/05/2018) e "Rogai,
pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara." (9:38)
II.
INSTRUÇÕES PARA OS EMBAIXADORES EM MISSÃO
(10:5-8)
As instruções que Jesus dá
aos seus discípulos são verdadeiras aulas de diplomacia, boas maneiras, ética e
cidadania.
A.
Em
relação ao público alvo:
Os vs. 5 e 6 tratam do público alvo. Os discípulos deveriam
pregar, preferencialmente, aos judeus não convertidos, aos quais são
considerados como "ovelhas perdidas da casa de Israel". É também uma
alusão ao povo de Deus. Isso nos ensina que, apesar de Israel ser o povo
escolhido de Deus, a salvação dos pais não garante a salvação dos filhos. A
salvação é uma decisão pessoal.
O comentarista Champlin [14]
diz
... as ovelhas sempre precisam dos cuidados de
um pastor para que precisam sobreviver... por sua própria natureza, a ovelha
tem pouquíssima iniciativa, que chega às raias da fraqueza; e assim sendo, elas
tendem a perder-se ou ser guiadas erradamente com grande facilidade. As ovelhas
também quase não sabem se defender. Essas debilidades das ovelhas sugerem o
quanto o povo de Deus deve depender de Deus, para que seja guiado pelo caminho,
pois o homem é moralmente fraco.
B.
Em
relação ao tema da mensagem:
No v. 7 "e,
à medida que seguirdes, pregai que está próximo o reino dos céus" temos o tema da mensagem que deviam pregar: a
proximidade do reino de Deus. E o que é o Reino de Deus? É o reino espiritual
de Jesus Cristo na vida das pessoas que O aceitam como Salvador e no mundo
futuro sem a presença do pecado e de Satanás.
A mensagem deve ser pregada
em todo tempo, continuamente, daí a ênfase nas palavras de Jesus "e, à medida que seguirdes, pregai...".
Paulo também recomendou a
Timóteo sobre a importância de pregar a Palavra de Deus – "prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer
não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina" (II
Timóteo 4:2).
C.
Em
relação à prática da mensagem e do princípio da gratuidade
No v. 8 "Curai
enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça
recebestes, de graça dai" Jesus menciona a prática da mensagem e o princípio
da gratuidade no ensino do caminho da Salvação. A autoridade dada aos discípulos para a
realização da missão era sobre a lepra, uma doença física que segregava e
excluía a pessoa do convívio social (purificai
leprosos), sobre a morte (ressuscitai
mortos) e sobre as enfermidades (curai enfermos, expeli os demônios).
Além disso, Jesus ensina que
seus embaixadores deviam prestar serviços gratuitos na pregação da mensagem de
salvação. Assim como eles haviam recebido gratuitamente de Jesus Cristo a bênção
da salvação, deviam compartilhá-la a todos os povos de todos os tempos. Esta também
é a nossa missão nos dias de hoje.
III. PROVISÃO
PARA A MISSÃO (10:9-15)
A.
Dinheiro
No v. 9 "Não
vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre nos vossos cintos;" Jesus instrui como os seus embaixadores deviam
se portar enquanto viajavam em Missão e sobre a provisão para a viagem.
Eles não deveriam prover com
antecedência determinado valor e nem adiar sua partida para a Missão por causa
do dinheiro. Não deviam perder o foco da Missão. É fato que o dinheiro é
necessário, mas temos que estar cientes de que o dinheiro pertence a Deus e Ele
dará a provisão no tempo certo e à sua maneira. Jesus queria ensinar seus
discípulos e a nós a não colocarmos nosso coração na "segurança aparente"
que o dinheiro dá. Ele estava ensinando sobre o perigo da avareza.
No sermão do monte, Jesus já
havia advertido sobre o perigo de colocar o coração nos bens terrenos, como o
dinheiro, visto que ele faz de nós pessoas dependentes e inseguras, pois quando
há escassez ou falta do dinheiro as nossas emoções e a nossa vida espiritual
tendem a ficar abaladas e estagnadas até ao ponto de perder a fé em Deus que
tudo nos supre.
Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a
ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem
ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu
coração. (Mateus 6:19-21)
Outros fatos temos a
considerar. Naquele tempo as estradas não eram favoráveis aos caminhantes e não
havia meios de transporte que pudessem dar um pouco mais de segurança. Os
viajantes andavam à pé por estradas rochosas, montanhosas, cheia de
pedregulhos, desniveladas e, além disso, havia muito perigo de ladrões e
salteadores. Jesus mesmo ilustrou este perigo na parábola do bom samaritano em
Lucas 10:30 – "Jesus prosseguiu, dizendo: Certo
homem descia de Jerusalém para Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os
quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos,
retiraram-se, deixando-o semimorto".
Além disso, em nenhum momento
Jesus ensina sobre o voto de pobreza; pelo contrário, a proibição de não levarem
dinheiro ou coisas de valor consigo tem como objetivo livrá-los de perigo que
poderiam custar as suas vidas. Jesus está ensinando seus discípulos a confiarem
nEle e em Deus e a terem fé na provisão do Senhor.
B.
Bagagem
No v. 10 "nem
de alforge , para o caminho, nem de duas túnicas, nem de sandálias, nem de
bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento" Jesus fala
sobre a bagagem para a viagem. Ela deveria ser a mais essencial possível, por
dois motivos: 1) a bagagem é alvo da cobiça de ladrões e 2) a bagagem pode ser
um empecilho na caminhada, principalmente para os andarilhos.
O dicionário [15]
define alforge como um saco fechado
em ambas as extremidades e com uma abertura no centro, de modo a formar duas
bolsas (uma de cada lado); usa-se para distribuir o peso dos dois lados.
As túnicas faziam e fazem parte das vestimentas dos povos do oriente,
conforme relato [16]:
A túnica como
vestimenta no Oriente.
A túnica é uma
vestimenta muito usada no Oriente. Feita de tecido fino e leve, e sendo
espaçosa internamente, é usada como vestimenta, para enfrentar o calor
escaldante do clima de deserto que estas populações vivem.
Assim encontramos no
Egito, nos países árabes, e nas nações que vão até a India. A túnica vestida
pelos homens tem cor clara e é muito larga, a fim de refletir melhor os raios
solares e permitir que o ar circule por baixo da roupa com mais facilidade... Assim
como muitos outros trajes típicos dos muçulmanos, a túnica tem sua origem nas
tribos de beduínos que habitavam o Oriente Médio no século VI.
Quando paravam a caminhada, os discípulos poderiam
lavar a túnica e secá-la rapidamente ao sol. Quanto às roupas íntimas, Jesus
não diz nada. Mas segundo pesquisadores, era costume usar um tipo de tanga para
cobrir as partes íntimas.
Vestuário:
O guarda-roupa dos
indivíduos daquela época eram bem diferente das que temos hoje, as
roupas eram bem básicas. Uma tanga que
possivelmente era usado de baixo de uma túnica e também
usava-se algo para cobrir a cabeça. Calçados e casacos eram
opcionais. [17]
Quanto às sandálias, Jesus não ensina que deviam
andar descalços, mas a recomendação é a mesma quanto à túnica, apenas levar o
que estava calçado nos pés, visto que um par excedente poderia acarretar em
peso na bagagem vindo a retardar a viagem e o pior, causar dores no corpo do
viajante devido ao excesso de peso.
O bordão era uma vara maciça cuja extremidade era em formato de
gancho e usada para dar apoio. Jesus também dispensou este item aos seus
discípulos, provavelmente seguindo o mesmo princípio em relação à túnica e às
sandálias.
C.
Alimento
Em relação à provisão do
alimento do obreiro, Jesus diz: "...porque
digno é o trabalhador do seu alimento". Deus usa pessoas para proverem
o sustento de todos nós, ministros ou não do evangelho. Em relação aos
missionários enviados por Jesus, Deus havia de levantar o sustento para os
Seus.
A Bíblia nos dá vários exemplos
de que Deus envia provisão nas situações mais inusitadas:
1) Corvos foram enviados por
Deus para levar comida ao profeta Elias quando ele estava fugindo da ira da
rainha Jezabel que queria matá-lo. Na Bíblia, o corvo é considerado uma animal
imundo e era proibido aos judeus comer este animal – "...
Das aves, estas abominareis... todo corvo, segundo a sua espécie..." (Levítico 13a, 15a). O corvo é uma ave que tem
hábitos alimentares necrófagos, ou seja, comem cadáveres, carnes apodrecidas.
Entretanto, Deus usou este animal impuro para prover o alimento a Elias.
2) Uma viúva pobre, em tempo de seca e fome em
Israel foi instrumento de Deus para alimentar o profeta Elias - "Mas, passados dias, a torrente secou, porque não
chovia sobre a terra. Então veio a palavra do SENHOR, dizendo: Dispõe-te, e vai
a Sarepta, que pertence a Sidom, e demora-te ali, onde ordenei a uma mulher
viúva que te dê comida" (I Reis 17:7-9).
3) Deus
usou o lanche de um menino, cinco pães e dois peixinhos, para alimentar fartamente
uma multidão:
Então, Jesus,
erguendo os olhos e vendo que grande multidão vinha ter com ele, disse a
Filipe: Onde
compraremos pães para lhes dar a comer? Mas dizia isto para o experimentar; porque
ele bem sabia o que estava para fazer. Respondeu-lhe Filipe: Não lhes
bastariam duzentos denários de pão, para receber cada um o seu pedaço. Um
de seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, informou a Jesus: Está
aí um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas isto que é para
tanta gente? Disse Jesus: Fazei o povo assentar-se; pois havia naquele lugar muita relva.
Assentaram-se, pois, os homens em número de quase cinco mil. Então, Jesus
tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles; e também
igualmente os peixes, quanto queriam. E, quando já estavam fartos, disse
Jesus aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada
se perca. (João 6:5-12)
Poderíamos
citar aqui outros exemplos, mas vamos mencionar o que o rei Davi chegou a
declarar: "Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo
desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão" (Salmo 37:25).
Portanto,
nosso Deus é o Deus que cuida, que vê as nossas necessidades, que ouve a nossa
oração e provê "...
abundantemente além
daquilo que pedimos ou pensamos" (Efésios 3:20).
Champlin comenta que "Jesus ensina aqui, claramente, que
os ministros devem receber o sustento físico daqueles que são beneficiados por
seu ministério". O apóstolo Paulo cita as palavras de Jesus em I Coríntios
9:14 – "Assim ordenou também o Senhor aos que
pregam o evangelho que vivam do evangelho". O apóstolo Paulo ensina o jovem pastor Timóteo a
respeito do sustento do obreiro – "Pois a
Escritura declara: não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: o
trabalhador é digno do seu salário" (I Timóteo 5:18).
Assim sendo, os que são beneficiados pelos ministros de Deus
têm a grata oportunidade de liberalmente participarem no sustento daqueles que
Deus chamou para uma obra específica. É uma tarefa que não deve ser um
considerada um peso, mas um privilégio e uma bênção. Há igrejas que se engajam
e são bênção; Mas, infelizmente, ainda há outras igrejas que impõem um peso
desnecessário sobre o obreiro de Deus; e, assim o fazem retendo a sua mão de
abençoar, cobram do obreiro como se ele fosse um empregado ou terceirizam um
trabalho que é propriamente o seu de acordo com a Palavra de Deus. Tais igrejas
se tornam avarentas e, consequentemente, não são abençoadas por Deus, não
crescem, não se desenvolvem, se definham, morrem fecham as portas e são motivos
de escândalo e tropeço para o mundo.
Que
Deus sensibilize os nossos corações, a IGREJA, para que não sejamos
remissos e nem omissos na Missão de Deus.
IV.
A HOSPEDAGEM E POSTURA DO DISCÍPULO
(VS.11-15)
Ainda
como parte das instruções aos seus discípulos, Jesus trata da postura deles ao
entrar e sair em alguma cidade ou casa e sobre o devido respeito que deviam
manter durante o acolhimento.
Algumas
regras éticas são explicitadas:
1) Local de Hospedagem:
"E, em qualquer cidade
ou povoado em que entrardes, indagai quem neles
é digno; e aí ficai até vos retirardes" (10:11).
Os discípulos
não deviam se hospedar em qualquer lugar. O comentarista bíblico Champlin
(idem) informa que:
as
regras sociais no oriente, acerca da hospitalidade, abririam muitas casas aos
discípulos, mas Jesus queria que estes procurassem certos indivíduos que
mostrassem simpatia pelo seu ministério e seus propósitos... Jesus indicou que
só as pessoas que simpatizassem pelo trabalho dos discípulos – provavelmente
conhecidas como pessoas piedosas – seriam dignas de receber a visita dos
enviados de Jesus... talvez tais pessoas pudessem ajudar muito no trabalho e
assim seriam desejáveis como hospedeiras dos discípulos, que tinham sido
encarregados de uma missão religiosa.
Deus nos ensina que a hospedagem é uma
prática cristã muito importante para os cidadãos do Reino de Deus. Há pessoas
que não gostam de hospedar e, portanto, perdem a bênção de serem abençoadas. A
hospedagem abençoa tanto o hospedeiro como o hóspede. Temos na Bíblia vários
exemplos de pessoas que foram bons hospedeiros como Abraão (Gênesis 18:1-15) que hospedou bem os anjos que o visitaram
para informar que Sara daria um filho a ele; e, Marta e Maria que hospedavam Jesus quando ele passava em Betânia
(Lucas 10:38-42). A hospitalidade é incentivada na Palavra de Deus – "praticai a hospitalidade" (Romanos 12:13b). A hospitalidade é uma prática
de amor fraternal e Deus nos alerta para o perigo de negligenciar esta prática
– "Não negligencieis a hospitalidade, pois alguns,
praticando-a, sem o saber acolheram anjos" (Hebreus 13:2).
2) Permanência: enquanto
hóspedes, os missionários de Jesus deviam permanecer fixos na casa que os
acolhera; não deviam pular de casa em casa, pois esta atitude mostrava falta de
respeito e consideração com o hospedeiro, falta de compromisso com a obra e com
quem os tinha enviado, podendo até chegar ao descrédito do obreiro, da obra e
de quem os havia enviado, que neste caso era Jesus Cristo.
3) Educação e Bênção:
"Ao entrardes na casa,
saudai-a" . (v.12,13)
A hospitalidade requer
reciprocidade. Fomos chamados para abençoar, então nada mais recomendável do
que, ao entrar na casa que os estava hospedando, os missionários de Jesus abençoassem
a casa trazendo para dentro dela a Paz do Senhor.
A paz é ordenada pelo Senhor:
- "Quando
te aproximares de alguma cidade para pelejar contra ela, oferecer-lhe-ás a
paz" (Deuteronômio 20:10)
- "Aparta-te
do mal e pratica o que é bom; procura a paz e empenha-te por alcança-la" (Salmo 34:14)
- "Quanto
ao mais, irmãos, adeus! Aperfeiçoai-vos, consolai-vos, sede do mesmo parecer,
vivei em paz; e o Deus de amor e de paz estará convosco" (II Coríntios 13:11)
- "...
vivei em paz uns com os outros" (I Tessalonicenses 5:13b).
A paz é a essência do caráter
de Jesus Cristo e de Deus – "Porque
Ele é a nossa paz" (Efésios
2:14a).
4)
Atitude
em caso de rejeição:
"se, com
efeito, a casa for digna, venha sobre ela a vossa paz; se, porém, não o for,
torne para vós outros a vossa paz.e alguém não vos receber, nem ouvir as vossas
palavras, ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que menos
rigor haverá para Sodoma e Gomorra, no Dia do Juízo, do que para aquela cidade". (vs. 13,14,15)
Jesus previne seus
missionários de que eles poderiam encontrar obstáculos à pregação da Palavra de
Deus. Haveria cidades e casas que não os receberiam e, nestes casos, a atitude
deles deveria ser sempre pacífica. Não deviam desdenhar, nem exercer juízo com
suas próprias forças e nem imprecar sobre a casa ou cidade, mas simplesmente
"sacudir o pó" de seus pés. O comentarista Champlin explica que
Os judeus tinham forte preconceito contra a
"poeira dos pagãos", tanto que se estes tocassem em algum sacrifício,
este deveria ser imediatamente queimado. Essa poeira era considerada a
putrefação da morte. Lê-se que era costume, entre as autoridades religiosas, ao
deixarem algum lugar ocupado pelos gentios, sacudirem o pó dos pés, adquirido nas
caminhadas de um lugar para o outro. Assim também, os lugarejos ou cidades que
rejeitassem os ministros e o ministério de Cristo, foram reputados por pagãos
por Jesus, ainda que seus moradores fossem judeus.
Deus deseja abençoar, mas a casa ou a cidade que rejeita a
Palavra e a paz que Deus oferece acaba por empobrecer.
Sodoma e Gomorra foram duas
cidades extremamente pecaminosas e pervertidas, entretanto, Deus executou Seu
juízo sobre elas. Os missionários de Jesus deveriam entregar para Deus a cidade
que os havia rejeitado, pois é Deus quem é o juiz e Ele sabe muito bem como
aplicar o juízo sobre todos quantos O rejeitam.
V.
RISCOS E PREVENÇÕES NA MISSÃO (10:16-18)
Após instruir seus
missionários, Jesus passa a adverti-los quanto ao que poderiam sofrer enquanto
estavam em Missão.
1) Dissimulação e Traição: "Eis que eu vos envio como ovelhas para
o meio de lobos" (v.16a)–
uma ovelha sem os cuidados do pastor fica vulnerável e não sabe se defender
diante do perigo. Neste caso, imaginem a ovelha no meio de uma matilha de
lobos: será estraçalhada até a morte.
Também pode significar dissimulação e traição. Os discípulos eram judeus
e foram enviados ao seu próprio povo para pregar o Evangelho. Eles iam encontrar
vários tipos de pessoas: aquelas que aceitavam e bom grado a mensagem, mas
também os que fingiam a aceitação ao evangelho e até mesmo aqueles que os
apunhalariam pelas costas entregando-os aos tribunais para serem presos e
mortos.
Sabedor destas possibilidades
e de outras mais, Jesus os aconselha "...sede,
portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas" (v. 16b). As serpentes
são animais perigosos ao ser humano. Venenosas ou não, causam medo e
repugnância. As serpentes sentem a temperatura do ambiente através das escamas
que cobrem seu corpo. Apesar de não terem ouvidos externos, as serpentes
possuem orelhas internas que capturam ondas sonoras de sua pele, músculos e
ossos. Assim sendo, elas estão sempre atentas ao que acontece ao seu redor e,
quando se sentem ameaçadas, atacam ligeiramente e desaparecem.
As pombas são quase que
animais domésticos, parecem frágeis e vulneráveis, mas elas estão sempre
alertas para voarem quando sentem alguma ameaça e isso se deve à sua excelente
visão.
2) Prisão,
açoites e condenação humana: "E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão
aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; por minha causa sereis levados à presença de
governadores e de reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios"
(vs. 17,18)
Os
tribunais a que Jesus se refere, não é o sinédrio[18],
mas a um tribunal composto por sete
juízes, estabelecido de acordo com Deuteronômio 16:18 – " Juízes e oficiais
constituirás em todas as tuas cidades que o SENHOR, teu Deus, te der entre as tuas tribos, para
que julguem o povo com reto juízo".
A sinagoga também, segundo Champlin (idem), tinha autoridade
para infligir diversas punições , tanto por crimes como por faltas
religiosas... o castigo de açoite era aplicado na própria sinagoga.
Vê-se que os líderes religiosos que deviam ensinar a Palavra
de Deus, se julgavam acima de Deus aplicando, eles mesmos, o juízo. Por isso,
Jesus deixa seus ministros bem conscientes de sua decisão de segui-LO. Jesus
não floreia e nem romantiza o ministério. Ele mostra tal como realmente é: uma
batalha que se trava entre Deus e Satanás incessantemente.
Esse
é o preço do discipulado, portanto, só mesmo o amor a Deus para levar um
obreiro ou missionário a enfrentar um ministério como o que Jesus estava e está
propondo ainda hoje. A Palavra de Deus está repleta de pessoas que disseram SIM
para Deus, mas que sofreram com aprisionamento, passaram por açoites e foram
condenados pelos homens (Hebreus 11).
Que
dizer de José do Egito (Gênesis 37 e
39) que foi vendido por seus irmãos e depois lançado na prisão por causa de uma
mentira? Ele pagou o preço de ser fiel a Deus. Paulo e Silas também foram presos e açoitados por pregarem a
Palavra de Deus defenderem a fé em Cristo (Atos 16:16-23). O próprio Jesus foi açoitado por se revelar ao
mundo como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 19:1).
Jesus
assegura aos seus discípulos que o árduo trabalho deles teria uma recompensa:
serviria de testemunho para o próprio povo de Israel como para os gentios.
Com
exceção de Judas Iscariotes, os discípulos de Jesus não recuaram em sua missão.
Permaneceram fieis, espalharam a mensagem, foram martirizados e nós hoje somos
o fruto do penoso trabalho deles e de Jesus Cristo.
Ainda
hoje, muitos pastores e missionários têm realizado árduos trabalhos, debaixo de
muitas lutas e perseguições. A repercussão destes ministérios têm sido o meio
pelo qual Deus tem salvado a vida de milhares de pessoas onde o Evangelho é
reprimido e proibido.
VI.
PALAVRAS DE TESTEMUNHO PROVIDAS PELO
ESPÍRITO (10:19-20)
Esta palavra de Jesus foi
dada a mártires, aos santos em Cristo, muitos deles em estado de perseguição.
Esta palavra ficaria gravada no coração daqueles homens simples, mas
determinados a obedecerem o seu Mestre. Jesus estava dando a eles um RX do que
seria o futuro deles e nosso também.
Da mesma forma como Jesus
disse para não nos preocuparmos com o que comer, beber e vestir em Mateus 6:25 – "Por
isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de
comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a
vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?" , assim também Ele diz que a ansiedade não deve
dominar o mártir, mas sim a fé de que é Deus quem fala, quem luta, quem olha e
zela por ele. É o Espírito Santo quem colocará na boca as palavras de defesa.
As palavras inspiradas por Deus desarmam os intentos humanos deixando os
algozes boquiabertos e mudos.
Um exemplo desta verdade é o
apóstolo Paulo. Ele foi levado ao rei Agripa e diante desta autoridade teve
oportunidade de se defender. Paulo, então, pronunciou um eloquente discurso de
defesa em Atos 26 que quase persuadiu o rei Agripa a se tornar um cristão.
Agripa não professou a fé em Cristo, pois não queria perder o seu prestígio, todavia,
Agripa emudeceu diante das palavras que o Espírito Santo colocou na boca de
Paulo.
VII. RESISTÊNCIA
À MISSÃO (Mateus 10:21-23)
Ainda como parte das
admoestações, Jesus agora fala sobre a importância da perseverança diante das
perseguições que haviam de acontecer enquanto estavam em Missão.
Jesus tinha experiência de
resistência entre seu próprio povo e cidade. Em certa ocasião Ele estava em
Nazaré (Mateus 13:53-58; Lucas 4:16-30), a cidade onde havia crescido. Após ler
as Escrituras em Isaías 61:1,2 e fazer um sermão afirmando que as Escrituras haviam
se cumprido em Sua pessoa, foi expulso de sua cidade, levado até o alto de um
monte onde o plano era matá-Lo atirando-O ribanceira abaixo. Este relato está
em Lucas 4:16-30. Os intentos dos líderes religiosos foram frustrados, pois
ainda não era a hora de Jesus morrer. Ele saiu da cidade e prosseguiu Sua
Missão. Quando este fato aconteceu, seus discípulos estavam com Ele e foi uma
grande lição que certamente eles se lembrariam quando estivessem passando por
situação semelhante no ministério.
Jesus também diz que a
perseguição pode vir em forma de homicídio no lugar de onde nós menos
esperamos: dentro da família – "Um irmão
entregará à morte outro irmão, e o pai, ao filho; filhos haverá que se
levantarão contra os progenitores e os matarão" (v. 21).
Jesus menciona o fratricídio, que é o crime de
assassinato contra o irmão; o filicídio,
que é o crime de assassinato contra o (a) filho (a); o parricídio e o matricídio
que são crimes de assassinato contra o pai e a mãe.
CONCLUSÃO
Destruir a família é o alvo
de Satanás desde o Jardim do Éden. Já vimos em lição anterior que a família é "célula matter" da sociedade,
portanto, destruindo a família, Satanás crê que destruirá as nações e o mundo. Satanás
ignora que Deus é Quem tem todo o poder sobre o mundo e sobre o próprio
Satanás.
Como dissemos no início, a obra
missionária começa na família. Na Missão dos Doze havia famílias envolvidas. Nós
temos uma Missão a cumprir no mundo, todavia, o nosso campo missionário começa
dentro de nosso lar.
Mais uma vez, Jesus revela o
que aguarda seus servos no ministério: morte, ódio e perseguição e alerta os
seus discípulos, e a nós também, para a necessidade de sermos perseverantes até
o fim, com prudência, Não podemos evitar a perseguição que pode levar à morte,
mas quando sabemos que ela pode estar às portas, deslocar do local é uma
atitude de prudência, pois insistir em permanecer em lugares vulneráveis com a finalidade
de se tornar um mártir não é uma decisão sábia, mas uma imprudência que não
glorifica a Deus e não faz da pessoa um mártir, mas um insano.
Que Deus nos ajude a cumprir
a Grande Comissão com excelência a partir de nossa Jerusalém até aos confins da
terra. Amém!
Raquel Sueli de Almeida Alcantara da Silva.
Estudo Bíblico ministrado na Escola Bíblica Dominical, Classe Mateus, da Primeira Igreja Batista de Sobradinho-DF, em 06 de maio de 2018.
[1] RESUMO SOBRE A VIDA DOS APÓSTOLOS.
Disponível em http://cleofas.com.br/resumo-sobre-a-vida-dos-apostolos/.
Acessado em 30.abr.2018 às 21:16.
[2]
SIGNIFICADO DO
NOME TIAGO. Disponível em https://www.nomesbiblicos.com/tiago/.
Acessado em 30.abr.2018 às 22:17.
[3] SIGNIFICADO DO NOME JOÃO. Disponível em
https://www.nomesbiblicos.com/joao/.
Acessado em 30.abr.2018 às 22:22.
[4]
Idem anotação n. 1
[5] COMO MORRERAM OS 12 DISCÍPULOS DE JESUS?
Disponível em http://novotempo.com/radio/a-morte-dos-discipulos/.
Acessado em 10.mai.2018 às 17:39.
[7]
Idem anotação n.1
[8]
Idem anotação n.1
[9]
Idem anotação n.1
[10]
Idem anotação n.1
[11] QUAL A DIFERENÇA ENTRE DISCÍPULO E
APÓSTOLO. Disponível em https://defendendoafecrista.wordpress.com/2016/10/18/qual-a-diferenca-entre-discipulo-e-apostolo/.
Acessado em 30.abr.2018 às 20:17.
[12] O QUE OS NÚMEROS SIGNIFICAM NA BÍBLIA? A
NUMEROLOGIA TEM BASE BÍBLICA? Disponível em https://www.jw.org/pt/ensinos-biblicos/perguntas/significado-biblico-dos-numeros/.
Acessado em 07.abr.2018 às 09:40
[13]
QUAL A DIFERENÇA ENTRE DOENÇA E ENFERMIDADE? Disponível em https://estudos.gospelmais.com.br/qual-a-diferenca-entre-doenca-e-enfermidade.html.
Acessado em 02.mai.2018 às 20:14.
[14]
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo
Testamento Interpretado versículo por versículo. Volume I, São Paulo:
MILENIUM Distribuidora Cultural Ltda, 1983.
[16] A
TÚNICA COMO VESTIMENTA NO ORIENTE. Disponível em http://www.abiblia.org/ver.php?id=9216.
Acessado em 03.mai.2018 às 21:48.
[17] COMO ERAM OS VESTUÁRIOS NOS TEMPOS
BÍBLICOS. Disponível m http://estudodedeus.com.br/vestuario-nos-tempos-biblicos/.
Acessado em 05.mai.2018 às 10:17.
[18]
SINÉDRIO: "O Sinédrio era uma assembleia religiosa judaica do tempo de Jesus. Os
membros do Sinédrio governavam e julgavam o povo judeu de acordo com a Lei de
Moisés e as tradições judaicas. Jesus foi julgado pelo Sinédrio antes de ser
crucificado. Era composto por 71 lideres importantes
na sociedade, que conheciam as leis judaicas. Eles se reuniam em Jerusalém para
tomar decisões e julgar crimes religiosos. O chefe do Sinédrio era o
sumo-sacerdote, o líder de todos os sacerdotes do templo. No tempo
de Jesus, os judeus viviam debaixo do domínio romano. Além das leis do império
romano, os judeus obedeciam às leis de Moisés, que estão no Velho Testamento, e
às regras da tradição. O Sinédrio apenas julgava os
crimes contra as leis judaicas. Os gentios não eram julgados
pelo Sinédrio". – Disponível em https://www.respostas.com.br/o-que-significa-sinedrio/. Acessado em
05.mai.2018 às 16:43.