domingo, 7 de junho de 2020

A Mordomia do Tempo em Tempo de Isolamento Social


Primeira Igreja Batista de Sobradinho. Brasília-DF
EBD Online YouTube – Estudo Bíblico

Brasília, 07 de junho de 2020
Professora: Raquel Sueli de Almeida Alcantara da Silva



A MORDOMIA DO TEMPO EM TEMPO DE ISOLAMENTO SOCIAL

Texto Base: Efésios 5:15,16

Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus”.

INTRODUÇÃO

A pandemia que assola o mundo nomeada como COVID-19 obrigou as pessoas ao isolamento social em suas casas; perdemos a liberdade de ir e vir; fechou o comércio de lojas e de rua, paralisou a maioria dos serviços públicos e privados, instalou o medo fazendo-nos refém de um vírus que não podemos ver, mas que está livre e pronto a contaminar as pessoas que por aí andam, uns por necessidade para salvar vidas, outros por negligência.
Se antes da pandemia a maioria de nós reclamava que não tinha tempo para fazer isso ou aquilo, agora o tempo está sobrando para esta maioria.
Você deve ter ouvido pessoas que diziam: não tenho tempo para ir à igreja, para ler a Bíblia, para orar, para cuidar de minhas plantas, da casa, para organizar o quartinho da bagunça e tantas outras atividades...
E agora, o que fazer já que este vírus impôs um freio ao nosso ativismo? O slogan mais defendido nestes dias é: Fique em casa, para o nosso e para o seu bem! E aqui estamos encerrados há mais de dois meses. Muita gente já está beirando à loucura! Afinal, não fomos feitos para viver isolados, porque somos seres relacionais, precisamos pelo menos ver gente como a gente.
Os efeitos do COVID-19 são sentidos no mundo na política, na economia, na cultura, nas relações internacionais, na estabilidade social e outras áreas mais. Também está afetando as pessoas em sua saúde física, emocional, espiritual, social e financeira. Tão minúsculo e invisível à olho nu o coronavírus, mas tão poderoso e avassalador!
Entretanto, apesar do caos que o vírus instalou no mundo, tudo continua totalmente debaixo do controle de Deus e é isso que conforta o coração do cristão. O tempo de pandemia está nas mãos de Deus. Em tempos de pandemia, é propício que a Igreja reflita sobre a mordomia do tempo.
1.   O QUE É O TEMPO?
O dicionário define a palavra tempo[1] como “a duração dos fatos, é o que determina os momentos, os períodos, as épocas, as horas, os dias, as semanas, os séculos etc. A palavra ‘tempo’ pode ter vários significados diferentes, dependendo do contexto em que é empregada”. Isso é bem verdade, pois a nossa sociedade ocidental define o tempo como algo que se pode medir pelo relógio, cronômetros, calendários e agendas; mas para as sociedades dos povos tradicionais e não ocidentalizadas, o tempo medido e mensurado não é importante, mas sim os eventos; com isso, o evento prioriza a pessoa e não o produto que o tempo medido produz. E foi exatamente isso que o coronavírus veio resgatar: a priorização das pessoas em nossas vidas!  Ficando em casa, muitos estão aprendendo a valorizar o outro, estão conhecendo melhor os membros da família e estão conhecendo melhor a si mesmos.
Embora o ‘tempo’ seja assunto de longas e infindas reflexões os entre filósofos com suas teorias, o fato é que estamos inseridos no tempo, vivendo nele, administrando e dividindo-o conforme as nossas prioridades e necessidades. Por isso, é bom parar e considerar o que Jesus nos pergunta em Mateus 6:26 – “Não é a vida [tempo] mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestido?”. A nossa vida é muito mais do que respirar, comer, beber e exercer as funções do corpo.
Deus é o Criador e o dono do tempo, mas Ele não está limitado ao tempo conforme o salmista nos diz - Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite” (Salmo 90:4). Jesus Cristo é a segunda pessoa da Trindade Santa e Ele declara – Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (Apocalipse 22:13). Nós somos apenas os mordomos do tempo que Deus nos dá; assim sendo, cabe a cada um de nós refletir: como estamos administrando e valorizando o tempo e as oportunidades que Deus tem nos concedido? Eu estou sendo responsável com o tempo que Deus tem me dado nestes dias de isolamento social? Pois Deus está nos alertando hoje: Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus” (Efésios 5:15,16).

2.   A PRECIOSIDADE DO TEMPO
Para o cristão, cada momento de sua vida é precioso. Vimos que somos mordomos
de Deus em relação ao tempo que Ele nos dá. O dicionário[2] define o mordomo como aquela pessoa que tem a responsabilidade de administrar, em residência alheia, as tarefas domésticas cotidianas, distribuindo-as entre os demais empregados. Também define como a pessoa que administra os bens de uma irmandade ou qualquer outro estabelecimento.
Ora, então está muito claro para nós cristãos esta definição. Nós estamos vivendo neste mundo em um corpo que nos foi emprestado por Deus, portanto estamos em uma casa que não é nossa. O apóstolo Paulo nos lembra disso ao afirmar: Pois sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos humanas, eterna, nos céus” (II Coríntios 5:21). Como mordomos, membros do Corpo de Cristo, que é a Igreja, também pesa sobre nós a responsabilidade de administrar o tempo que dedicamos a Deus na Igreja local. A mordomia do tempo também envolve nossos dons, talentos e habilidades em prol do crescimento do Reino de Deus na terra. Deus espera de nós os cristãos a prática da mordomia com seriedade, comprometimento e zelo.  
O mordomo sábio é aquele que faz bom uso do tempo dado a ele para administrar. Quando Deus nos diz que devemos “remir o tempo” Ele quer dizer que devemos otimizar o aproveitamento tempo, pois o tempo perdido por causa da má administração ou da negligência não tem como ser recuperado. O tempo é como uma joia muito preciosa. Então, transformemos cada minuto de nossas vidas em joia de valor real no serviço ao nosso Mestre!

3.   NOSSO TEMPO PERTENCE A DEUS
Já vimos que tanto o tempo como as nossas vidas pertencem a Deus. O tempo para Deus é ilimitado, eterno, não tem início e nem fim. Ele é o Criador e nós somos as criaturas e, quando aceitamos a Jesus Cristo como nosso Único e Suficiente salvador de nossas vidas nos tornamos os Seus filhos. Como criaturas de Deus, nosso tempo de vida é limitado e finito. A expressão popular “ninguém vai ficar para semente” fala de nossa finitude sobre a terra, se não formos arrebatados pelo Senhor, a morte física nos aguarda em nosso futuro terreno. O salmista nos lembra desta realidade – Pois todos os nossos dias se passam na tua ira; acabam-se os nossos anos como um breve pensamento. Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos”. (Salmo 90:9,10).
Portanto, irmãos, sejamos bons mordomos do tempo que Deus tão bondosamente nos dá. Deus nos dá o trabalho, o nosso sustento, o descanso, a recreação, a vida em família, o culto na igreja, o estudo e tantas outras atividades. Tudo isso tem um propósito sagrado em nossas vidas! E o que Deus exige de nós? O mínimo! Sim, o mínimo do nosso sustento através dos dízimos e ofertas; o mínimo de nosso tempo ao Seu serviço na igreja local e na comunhão com os irmãos; o mínimo de nós na realização do culto doméstico, o mínimo de nós na ação social em prol dos menos favorecidos; o mínimo de nós na propagação do evangelho.
Lembram da parábola dos talentos? Os dois servos (mordomos) fieis que duplicaram seus talentos investiram tempo, foram bons administradores. Esses tiveram a alegria de ouvir do seu senhor: “Muito bem, servo bom e fiel! Você foi fiel no pouco; eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu senhor” (Mateus 25:21).
Se cada um de nós começarmos a corresponder com Deus com o mínimo, nossos corações vão se abrir e estaremos mais dispostos e abertos a dar o máximo e o melhor de nós; pois o exemplo foi-nos dado pelo próprio Deus que nos deu o que Ele tinha de melhor e mais excelente: O Seu Filho amado em sacrifício para nos livrar da morte e castigo eterno!

4.   O TEMPO DESPERDIÇADO

É lamentável como a maioria das pessoas empregam mal o seu tempo. Desperdiçam o tempo que Deus dá em atividades que não cooperam para o seu bem.  Eis algumas situações em que o tempo precioso é desperdiçado:

4.1.       Em conversas fúteis e inúteis: Conversar é muito bom e saudável, mas quando as conversas são frívolas, ou seja, desprovidas de valor, elas degeneram e tiram a saúde da alma. Palavras frívolas jogam a pessoa escada abaixo, destrói a reputação e revela o verdadeiro caráter de quem as pronuncia.
4.2.       Em leituras sem proveito: Nosso tempo nesta terra é escasso, também é muito valioso. Procuremos selecionar com sabedoria o que vamos ler. Sejamos prudentes e sábios conforme Efésios 5:15,16. Atente para a exortação de Jesus Cristo de que tudo o que passa pelos nossos olhos tem o poder de influenciar, para o bem e para o mau, todo o nosso corpo – “Os olhos são a lâmpada do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz; mas, se forem maus, o seu corpo ficará em trevas”. (Lucas 11:34). Tome a firme decisão do salmista que diz -“Não porei coisa injusta diante dos meus olhos... Longe de mim o coração perverso; não quero conhecer o mal. Os meus olhos procurarão os fiéis da terra, para que habitem comigo” (Salmo 101:3,4,6). Deus é Santo e Puro; e Ele requer de seu povo a santidade e a pureza.
4.3.       No exagero de atividades não essenciais: Há pessoas que gastam tempo demasiado em passeios, viagens, brinquedos, jogos noites adentro e outras atividades sociais. Temos que ter vida social sim, precisamos relaxar, mas tudo que é demais, sobra e é desperdício.
4.4.   Em negligência às atividades essenciais: É bom ficar atento também para não fazer em excesso as necessidades essenciais como dormir, por exemplo, pois isso é negligência, desperdício e pecado – Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante, no estio, prepara o seu pão, na sega, ajunta o seu mantimento. Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para encruzar os braços em repouso, assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade, como um homem armado”  (Provérbios 6:6-11). Nosso tempo é muito precioso! Sejamos mordomos sábios e diligentes.           
4.5.       Matando o tempo: O dicionário conceitua que, no sentido vulgar, o ócio remete à noção de folga, de falta de compromissos de trabalho e, nesse contexto, possui uma conotação negativa que liga a ideia de ociosidade à ideia de vadiagem e de preguiça. Foi em um desses momentos de “não ter nada para fazer, de ficar andando pra lá e pra cá” que Eva deu ouvidos à serpente (Gênesis 3); que Diná andando sozinha pela cidade encontrou com Siquém, o qual se apaixonou por ela e veio a violentá-la (Gênesis 34) e que Davi, no tempo em que deveria estar na guerra, optou por ficar em casa e viu de sua janela a bela Bate-Seba pela qual se sentiu atraído e caiu em pecado de adultério (II Samuel 11). Cuidado! Matar o tempo pode levar você a cair no pecado entrando em sites e salas de bate-papo que o levarão à ruína moral e espiritual. Os dias em que vivemos são maus, é preciso valorizar e remir o tempo e não desperdiçar o tempo.

5.   ALGUMAS RECOMENDAÇÕES PARA O BOM USO DO TEMPO
5.1.       Seja metódico (a): ser metódico não é ser uma pessoa “cri-cri” ou chata. Ser metódico é ter uma vida em ordem, organizada de tal maneira que o tempo é otimizado. Ser metódico é organizar a rotina do dia de forma planejada, com antecedência. Para muitas pessoas isso é difícil, mas não é impossível de aprender. Ser metódico, também, é ser flexível. Podemos muito bem remanejar para o dia seguinte o que não foi possível fazer hoje.
5.2.       Seja pontual: Certa vez ouvi que quem chega 5 minutos antes, chega no horário. Mas quem chega na hora marcada, já está atrasado. Isso é fato, pois quem chega antes da hora marcada, tem tempo para se refazer física e mentalmente para o compromisso a ser cumprido. A pontualidade faz parte da mordomia do tempo.  A falta de pontualidade, se não for por motivo de força maior, é um mau emprego do tempo que Deus está nos dando além de ser um desrespeito com o outro. A pontualidade e a precaução fizeram com que com as cinco virgens prudentes entrassem para as bodas quando o noivo veio tarde da noite (Mateus 25:1-13).
5.3.       Seja equilibrado (a): Como disse anteriormente, precisamos usar o nosso tempo com equilíbrio e moderação. A família, o trabalho, a escola, a igreja e outras boas instituições sociais são bênçãos de Deus para nós. Sejamos sábios em dar o devido tempo a elas e às coisas na proporção do seu valor –  Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação (II Timóteo 1:7). A moderação, ou equilíbrio, é um dos requisitos do candidato ao pastorado – É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, moderado, sensato, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar;” (I Timóteo 3:2).
5.4.       Seja servo(a): Gary Chapman, em seu livro “As cinco linguagens do amor” apresenta o Serviço como uma das linguagens do amor pelo outro seja quem for: esposo(a), filhos, pais, irmãos, vizinhos ou qualquer outra pessoa que Deus colocar em seu caminho. Chapman diz: “Jesus Cristo deu uma ilustração simples, porém profunda, ao
expressar amor através de uma forma de serviço quando lavou os pés dos discípulos. Em uma cultura onde as pessoas usavam sandálias e caminhavam por estradas poeirentas, era costume os servos da casa lavar os pés dos convidados que chegavam. Depois daquela simples expressão de amor, o Filho de Deus encorajou seus discípulos a seguirem seu exemplo. Anteriormente, Jesus dissera que, em seu Reino, os que desejavam ser grandes deveriam ser servos um dos outros. Na maioria das sociedades existentes, o maior reina sobre o menor, mas Cristo disse que os que quisessem ser grandes, deveriam servir aos outros. O apóstolo Paulo resumiu essa filosofia ao dizer: “Sirvam uns aos outros, em amor”. Vimos então que o nosso maior exemplo de ser servo é Jesus Cristo. Ele mesmo disse – “e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mateus 20:27,28). O tempo mais bem empregado é aquele usamos servindo uns aos outros.

CONCLUSÃO
Vimos neste estudo que Deus é o Criador e o dono do tempo e que nós somos os Seus mordomos. Portanto, é necessário que utilizemos com sabedoria o tempo que Deus nos dá.
O nosso tempo pertence a Deus, mas Ele confiou a nós a responsabilidade da boa administração, portanto devemos evitar o desperdício mesmo em tempos de isolamento social.
Não vamos nos conformar ao confinamento e “deixar a vida nos levar”. Este pensamento é totalmente contra a mordomia do tempo que Deus nos dá.
Portanto, faça a escolha certa: seja prudente e sábio otimizando e remindo o seu tempo em tempos de pandemia  sabendo “... porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá contas” (Eclesiastes 11:9c).


[1] O que é tempo. Disponível em https://www.significados.com.br/tempo/. Acessado em 25.mai.2020 às 11:09.
[2] Mordomo. Disponível em https://www.dicio.com.br/mordomo/. Acessado em 25.mai.2020 às 11:53.

sábado, 16 de maio de 2020

Nós amamos como Deus nos ama?




Primeira Igreja Batista de Sobradinho
EBD  Classe Cartas Menores do Novo Testamento


Brasília, 17 de maio de 2020
Professora: Raquel Sueli de Almeida Alcantara da Silva



NÓS AMAMOS COMO DEUS NOS AMA?





TEXTO BASE: I João 4:7-12


INTRODUÇÃO

O título da lição de hoje nos chama para uma reflexão. Nós bem sabemos que a resposta a essa pergunta é NÃO. Por nós mesmos, com a nossa velha natureza adâmica, caída e pecaminosa, não conseguimos amar na mesma medida e proporção com que Deus nos ama. O salmista bem afirma esta verdade Eu sou pobre e necessitado, ...” (Salmo 40:17a NAA).
Nós só conseguimos amar como Deus nos ama quando o próprio Deus faz uma mudança radical em nós. Isso acontece quando Deus vem habitar em nós através do Espírito Santo, aí SIM é que conseguimos ver as coisas e as pessoas sob o prisma de Deus; então somos capacitados por Deus a amar e a perdoar como Ele; e, para que isso aconteça, devemos orar como Davi “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Salmo 51:10).
Vamos refletir nas palavras inspiradas do apóstolo João. Vemos na passagem que o autor da carta é bem didático em nos ensinar que Deus é amor. Um Deus amoroso não deixaria a sua criatura perecer; portanto, Deus manifestou Seu amor enviando Seu Filho Amado para realizar a propiciação pelos nossos pecados. Veremos o significado de propiciação mais a frente, no v. 10. Diante de tal manifestação de amor por nós, o que nos cabe é praticar o amor de Deus em nossa vivência e relacionamento diários com nossos semelhantes. Desde o Antigo Testamento, a Palavra de Deus aponta para a cruz de Cristo como um lugar de encontro, de Deus com a humanidade e, do ser humano com o seu próximo.


  

I.     DEUS É AMOR  (I João 4:7,8)

“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus... (4:7a)
Já falamos da forma carinhosa que João trata e conquista a atenção de seus leitores. Ele os chama de “Amados”. Na carta de I João notamos que a palavra “amados” aparece 6 vezes; “filhinhos” 9 vezes e “amor” 19 vezes.
O comentarista bíblico Guilherme W. Orr [1] menciona que a carta de I João...

... é uma carta familiar do Pai Celestial para os Seus filhinhos. O mundo é visto como estando lá fora. Aqui Deus está preocupado com o procedimento de Seus filhos [...] Aqui a família é importante [...] as cartas de João nos fazem sentirmo-nos em casa [...] João está preocupado com a nossa proximidade com o Pai.
           
            Vemos, portanto, o quanto João foi um escritor movido pelo amor e zeloso com o rebanho que Deus colocou sob a sua responsabilidade.  Guilherme Orr diz ainda que a carta de I João é escrita ... para filhos, isto é, “os filhos de Deus, em outras palavras, apenas para os crentes” e que “o capítulo 4 usa a palavra amor mais do que qualquer outro capítulo da Bíblia”. João declara que “Deus é amor (4:8), mas a verdadeira manifestação desse amor é mostrada no versículo 9”.
         É bom ressaltar que a carta é dirigida aos crentes e, portanto, são os cristãos que devem ser a luz no mundo que jaz nas trevas conforme Jesus Cristo disse: Vocês são a luz do mundo. [...] Assim brilhe também a luz de vocês diante dos outros, para que vejam as boas obras que vocês fazem e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus” (Mateus 5:14a,16 NAA).
         João estimula os crentes ao amor fraternal. Escrevendo sobre o amor fraternal, o escritor e teólogo Daniel Conegero [2] diz que
[...] na Bíblia o amor fraternal significa um sentimento de bondade e afeição que vai além dos laços sanguíneos. O amor fraternal enfatizado nos textos bíblicos caracteriza o relacionamento dos verdadeiros cristãos que através de sua união com Cristo são recebidos por Deus em sua família. No Novo Testamento o termo traduzido com o sentido de “amor fraternal” geralmente é a palavra grega philadelphia. Curiosamente na literatura grega esse termo e seus correlatos sempre são empregados para se referir ao sentimento de pessoas da mesma linhagem familiar. Até mesmo no Antigo Testamento a ideia de fraternidade estava muito restrita à comunidade judaica. Palavras como “irmão” ou “próximo” normalmente significam algo como “compatriota israelita” (cf. Levítico 19:17).

            João ensinou o que ele aprendeu com Jesus. Ao contar a parábola do bom samaritano, Jesus ensinou o amor fraternal. O samaritano pertencia a um povo ao qual os judeus não viam com bons olhos e não se relacionavam, entretanto, Jesus mostrou que aquele homem excluído demonstrou amor fraternal a um desconhecido. O samaritano se compadeceu do estado daquele homem semimorto. Ele não quis saber se o moribundo era judeu, ou até mesmo se era outro samaritano. O seu amor o levou a agir em favor de um desconhecido. O samaritano socorreu o homem moribundo prestando cuidados imediatos de assepsia ao colocar óleo e vinho nos ferimentos; prosseguiu a viagem à pé, pois cedeu o seu animal para carregar o ferido; proveu hospedagem e um cuidador para o pobre homem; pagou pelo tratamento e se responsabilizou por cobrir o valor que excedesse ao que ele estava pagando de imediato. (Lucas 10:30-37). O samaritano deu um grande exemplo de amor pelo próximo, ele teve uma atitude muito diferente do sacerdote e do levita judeus que se achavam tão santos e cumpridores da Lei, mas que passaram pelo homem semimorto no caminho e o deixaram lá abandonado. O verdadeiro amor, o Amor de Deus, move o nosso interior levando-nos a fazer algo pelo outro.
“... e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (4:7b)
João prossegue abordando sobre o novo nascimento. Em seu evangelho ele menciona o diálogo de Jesus com Nicodemos sobre esse assunto. Vamos conferir em João 3:1-21. Nicodemos era um homem de proeminência em sua classe social. Ele pertencia a um grupo de judeus que eram devotos à Torá, ou seja, os cinco primeiros livros da Bíblia, também conhecidos como a Lei Mosaica.
O teólogo e escritor Tiago Rosas[3] nos informa sobre o termo Fariseu:
Segundo o Dicionário Wycliffe, é incerta a origem tanto da palavra quanto do grupo religioso judeu que recebe este nome, mas provavelmente, como sugere a palavra hebraica “parash”, fariseu queira dizer “separado” e faça alusão ao partido religioso que ao menos em tese pretendia demonstrar uma vida moral elevada e distinta dos impuros. Provavelmente surgiram durante o cativeiro de Judá em Babilônia ou durante o período interlinear, naqueles quase quatro séculos antes de Cristo.

Nicodemos conhecia Jesus de ouvir falar e isso despertou nele o desejo de conhecer o Mestre pessoalmente. Mas como isso poderia acontecer se ele era um homem influente na sociedade? O que as pessoas pensariam dele? Sua posição social estaria comprometida e Nicodemos não queria se expor e se mostrar vulnerável.
Mas havia uma sede naquele coração, algo que o impelia a conhecer os ensinos do Mestre. Nicodemos programou um encontro pessoal com Jesus à noite (v.1). Frente a frente com Jesus, Nicodemos não teve receio de declarar que reconhecia a autoridade divina de Jesus (v.2). O Mestre, todavia, conhecedor do que estava no mais secreto do coração de Nicodemos faz uma declaração que dá início ao diálogo que poderia mudar a vida daquele homem – “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (v.3 ARA). O comentarista bíblico Joel Bueno [4] diz que

A observação de Nicodemos à declaração de Jesus era a expressão viva de sua imaturidade espiritual. Até uma criança teria o mesmo raciocínio! E é nesse ambiente de uma fé infantil e humilde que o Espírito Santo traz discernimento e a inteligência espiritual indispensáveis para o acolhimento da verdade que há no Evangelho. [...] o novo nascimento ocorre quando o Espírito Santo faz uso da Palavra de Deus e gera no pecador a fé que ele precisa para acolher a Graça de Deus, isto é, o amor de Deus imerecido pelo pecador. Nos momentos seguintes daquela noite, Nicodemos teve a oportunidade de ouvir o plano de Deus para a salvação pessoal dele e da humanidade. O novo nascimento é espiritual e é a porta de entrada no Reino de Deus. [...] O que Nicodemos ouviu foi suficiente para nascer de novo. Os frutos do renascido o identificam como filho de Deus”.

Aquela noite de encontro pessoal com Jesus certamente mudou a vida de Nicodemos. Por ocasião da Festa dos Tabernáculos, Jesus foi para o templo e ensinava. Além do povo, estavam presentes os principais sacerdotes e fariseus. Houve um embate entre Jesus, os principais sacerdotes e os fariseus, e o povo foi incitado a se voltar contra Jesus, pois esses líderes não criam que Jesus era de fato o Messias enviado por Deus – “Nós, todavia, sabemos donde este é; quando, porém, vier o Cristo, ninguém saberá donde ele é” (João 7:27). Esses homens procuravam um motivo para prender Jesus e mandaram os guardas prenderem o Mestre – “Os fariseus, ouvindo a multidão murmurar estas coisas a respeito dele, juntamente com os principais sacerdotes, enviaram guardas para o prenderem” (João 7:32).
Ao ouvirem Jesus, os guardas não o prenderam, mas voltaram e testemunharam para os principais sacerdotes e fariseus: “Jamais alguém falou como este homem” (João 7:46). Houve entre esses líderes uma suspeita de que algumas autoridades e fariseus possivelmente teriam crido em Jesus – “Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?” (João 7:48). Nicodemos estava ali no grupo dos fariseus e ele se manifestou, discretamente, sobre a ordem dos demais de seu grupo em mandar prender Jesus – “Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes: Acaso, a nossa lei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez? (João 7:50,51).
Depois que Jesus morreu, José de Arimateia foi até Pilatos requisitar o corpo de Jesus para sepultar. Nicodemos também estava lá, acompanhou o sepultamento de Jesus e colaborou levando perfumes para envolver o corpo do Mestre – Depois disso, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus — ainda que em segredo, porque tinha medo dos judeus —, pediu a Pilatos permissão para tirar o corpo de Jesus. E Pilatos deu permissão. Então José de Arimateia foi e retirou o corpo de Jesus. E Nicodemos, aquele que anteriormente tinha ido falar com Jesus à noite, também foi levando cerca de trinta e cinco quilos de um composto de mirra e aloés. Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com os óleos aromáticos, como é costume entre os judeus na preparação para o sepultamento” (João 19:38-40).
Para estar entre os seguidores de Jesus e sepultando o corpo do Mestre, Nicodemos precisou romper muitas barreiras, a começar, deixando o grupo dos fariseus e optando estar entre os seguidores de Jesus. Creio que naquele momento, mais abertamente, Nicodemos estava dando testemunho de seu novo nascimento, corroborando assim o que a Palavra de Deus: Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos são mais altos do que os pensamentos de vocês. Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não voltam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei” (Isaías 55:9-11).
O novo nascimento nos dá discernimento para conhecer intimamente a Deus e forças para romper com tudo aquilo que nos prende e nos afasta de Deus. O novo nascimento tira de nós tudo o que nos oprime, o medo, o anonimato e nos dá alegria e intrepidez para declarar que somos de Cristo.


II. O AMOR DE DEUS MANIFESTO AO MUNDO  (I João 4:8-10)

“Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (4:8)
Deus é real e a Sua natureza se revela pelos seus atributos. O comentarista Bíblico Bancroft [5] nos ensina que

Os atributos de Deus, portanto, são aquelas características essenciais, permanentes e distintivas, que podem ser afirmados a respeito de Seu Ser. Seus atributos são Suas perfeições, inseparáveis de Sua natureza e que condicionam Seu caráter”.

  Os atributos de Deus se dividem em Naturais e Morais. Os atributos Naturais de Deus são:
1)   Deus é Vida – “Porque assim como o Pai tem a vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter a vida em si mesmo” (João 5:26).
2)   Deus é Espírito – “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (João 4:24).
3)   Deus é Pessoa – “Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros” (Êxodo 3:14).
4)   Deus é Triuno – “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (II Coríntios 13:13).
5)   Deus auto-existe – O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas; nem é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa, pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais. De um só homem fez todas as nações para habitarem sobre a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem Deus se, porventura, tateando, o possam achar, ainda que não esteja longe de cada um de nós; pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns dos poetas de vocês disseram: “Porque dele também somos geração” (Atos 17:24-28).
6)   Deus é eterno – “Antes que os montes nascessem e tu formasses a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Salmo 90:2).
7)   Deus é imutável – “Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Malaquias 3:6).
8)   Deus é onisciente – “A palavra ainda nem chegou à minha língua, e tu, SENHOR, já a conheces toda” (Salmo 139:4).
9)   Deus é onipotente – “Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível” (Mateus 19:26).
10) Deus é onipresente – Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda ali a tua mão me guiará, e a tua mão direita me susterá” (Salmo 139:7-10).


Os atributos Morais de Deus são:
1)   Santidade – “Porque escrito está: Sede santos. Porque eu sou santo” (I Pedro 1:16).
2)   Retidão - “Para anunciar que o Senhor é reto. Ele é a minha rocha, e nele não há injustiça” (Salmo 92:15).
3)   Justiça - “Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras” (Salmo 145:17).
4)   Amor – “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (I João 4:8).
5)   Misericórdia - “Benigno e misericordioso é o SENHOR, tardio em irar-se e de grande clemência” (Salmo 145:8).
6)   Graça - “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Efésios 2:8).

Vimos então, que o Amor é um atributo moral de Deus. Isso nos mostra que é sempre Deus quem toma a iniciativa para se comunicar com o ser humano; e é Ele, somente Ele, que tem o melhor para a humanidade. Quando a pessoa conhece a Deus por meio do sacrifício vicário de Jesus Cristo, então é capaz de amar, pois o atributo moral de Deus é compartilhado no coração humano. Deus nos dá do Seu amor – “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo” ( I João 3:1).
         O amor de Deus é gratuito e está disponível a toda a humanidade agora mesmo!

“Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho Unigênito ao mundo para vivermos por meio dele” (4:9)
João escreve aos cristãos e relembra-os que Jesus Cristo é a manifestação perfeita do amor de Deus em nós.  Bancroft [6] diz que

A Pessoa de Jesus Cristo não somente está firmemente  engastada [7] na história humana e gravada nas páginas abertas das Escrituras Sagradas, mas também é experimentalmente materializada nas vidas de milhões de crentes e entrelaçada no tecido de toda a civilização digna desse nome.

É Jesus é quem dá sentido à nossa razão de viver. Fora de Jesus Cristo não há vida. A vida eterna está NELE, porque Jesus é o Cordeiro perfeito que satisfez o pagamento pelo pecado, pela ofensa a Deus  - “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus” (Hebreus 10:12).
A iniciativa de salvar o mundo partiu de Deus em enviar seu Filho. Em Gênesis 3:15 temos a primeira profecia do envio de Jesus Cristo, o Filho amado de Deus e de Sua obra redentora pela humanidade. Gênesis 3:15 é o proto-evangelho no Antigo Testamento; isso quer dizer que foi a primeira vez no mundo que houve um vislumbre ou um reflexo de luz do Evangelho, das Boas Novas de salvação. E o mais maravilhoso é que esse proto-evangelho foi pregado e prometido pelo próprio Deus.
Deus comunicou imediatamente ao Diabo o proto-evangelho [8] e fez com que o Diabo soubesse em primeira mão que ele já estava derrotado, pois o Filho Único e perfeito de Deus, “... o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo...” (João 1:29) haveria de derrotá-lo e destruí-lo para sempre. O Diabo conseguiu fazer com que Adão e Eva pecassem desobedecendo o Criador e como consequência o casal e toda a humanidade que deles procederam também estão espiritualmente separados de Deus, sujeitos a uma vida terrena pecaminosa, perecível e destinados à morte física e espiritual. O que parecia uma vitória do Diabo se tornou em sua derrota e juízo, pois os planos de Deus são eternos e jamais são frustrados. Temos de Deus esta abençoada promessa: “Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo” (I Coríntios 15:21,22).
Em Cristo temos a vida plena, eterna e a vitória sobre Satanás e a morte.
“Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória?
Onde está, ó morte, o teu aguilhão?
O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.
Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.
(I Coríntios 15:54d-57)

“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (4:10)
Quando Adão e Eva pecaram eles sentiram medo e se esconderam. Em seu esconderijo buscaram uma solução paliativa e efêmera para cobrir a sua nudez e se apresentarem perante Deus. Agora eram pecadores, desfigurados espiritualmente e incapazes de resolver a sua salvação. Deus, em Sua infinita misericórdia, providenciou uma roupa de peles de animal. Com isso, Deus estava ensinando-os o sentido da expiação pelo pecado.
O pecado produziu a inimizade entre Deus e a sua criatura. A única maneira de estabelecer as pazes novamente, ou seja, a reconciliação, seria o derramamento do sangue de um inocente. A vida está no sangue. Um inocente estava morrendo no lugar do casal para que eles pudessem ser cobertos, purificados e se apresentassem perante o Seu Criador sem a mácula do pecado. A iniciativa e o ensino de Deus estava apontando para o futuro e para a obra que Jesus faria na cruz, expiando, pagando pelos nossos pecados através do derramamento de Seu sangue em favor dos pecados da humanidade desde o Éden até hoje. Quando aceitamos pela fé a Jesus Cristo em nossa vida como nosso Senhor e Salvador, estamos fazendo as pazes com Deus e somos aceitos por Ele. Deus olha para nós e vê o sangue do Cordeiro Santo e Imaculado. Deus vê Jesus Cristo! – “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Efésios 1:7).
Deus não implora o nosso amor por Ele e nem impõe condições para O amarmos. O amor de Deus é incondicional – “Mas Deus demonstra o seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando éramos ainda pecadores” (Romanos 5:8).  O amor de Deus se move de íntima compaixão pelas mais de 7 bilhões e 700 milhões (7,7) [9] de vidas que habitam o planeta Terra hoje. Ele conhece cada uma dessas pessoas particularmente. Isso quer dizer que você e eu não passamos despercebidos aos olhos de Deus.
E porque somos tão preciosos e especiais para Deus, por amor a nós Ele fez de Seu Filho querido a propiciação pelos nossos pecados. A palavra propiciação descreve um aspecto importantíssimo da salvação, ela está ligada ao fato de aplacar ou acalmar a ira de Deus. Vimos no versículo 7 que Deus é Amor. Deus também é Santo, Justo e Reto. Portanto, todo e qualquer pecado e perversão estão sob a ira de Deus – “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Romanos 1: 18).
O propiciatório que estava no tabernáculo era a tampa da arca da aliança. Uma vez por ano o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos e colocava no propiciatório o sangue do sacrifício de animais feito pelos pecados do povo de Israel. O sangue era um pedido de perdão pelos pecados cometidos, ao mesmo tempo em que apresentava a Deus a morte de um animal perfeito e inocente no lugar do povo. O sangue no propiciatório tinha como objetivo reconciliar os pecadores com o Deus Santo, Justo e Reto. No Novo Testamento, o propiciatório é a cruz onde Jesus Cristo foi crucificado e derramou o Seu sangue em favor de muitos, de uma vez por todas - “... porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu. Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção” (Isaías 53:12b; Hebreus 9:11,12).
Ah! Como é grande o Amor de Deus por nós! Não merecemos, mas Deus nos dá abundantemente. Que nossos corações agradecidos cantem exaltando nosso Salvador:
Lindo, lindo, lindo és. Glória, glória eu Te dou, Jesus, Jesus.
Lindo, lindo, lindo és. Glória, glória eu Te dou, Jesus, Jesus...


III.              RECOMENDAÇÕES À PRATICA DO AMOR DE DEUS (I João 4:11,12)

“Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros” (4:11)
Depois de ensinar sobre o Amor de Deus e como Ele se manifestou no mundo, o apóstolo João passa a recomendar aos cristãos a prática do amor de Deus. Seu ensino é conclusivo “Se Deus de tal maneira nos amou”. João chama a atenção dos cristãos para a grandeza do amor de Deus manifesto na pessoa e obra de Jesus. O amor de Deus é imensurável “de tal maneira”. O ensino de João sobre o amor de Deus está em sintonia com o ensino do apóstolo Paulo aos efésios – E assim, pela fé, que Cristo habite no coração de vocês, estando vocês enraizados e alicerçados em amor. Isto para que, com todos os santos, vocês possam compreender qual é a largura, o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que vocês fiquem cheios de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3:17-19).
Impelidos pelo amor de Deus derramado em seus corações os cristãos são conclamados à prática do amor fraternal, à mutualidade cuja reciprocidade é valorizada e incentivada. Os cristãos da igreja primitiva nos dão o exemplo de amor uns para com os outros. Havia amor mútuo; todos perseveravam na sã doutrina pregada pelos apóstolos; a comunhão no partir do pão e nas orações eram notadas no Corpo de Cristo; todos tinham tudo em comum, de maneira que não havia desigualdade social e cristã; a liberalidade era incentivada e praticada; a unanimidade de espírito, a assistência assídua no templo e a comunhão ao redor das mesas nos lares eram motivos de alegria e singeleza de coração; o louvor e o testemunho eram características que contagiavam e atraíam as pessoas de fora para dentro da igreja - “Enquanto isso, acrescentava-lhes o  Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”  (Atos 2:47).
A Igreja cresce quando o Corpo de Cristo vive a prática do Amor de Deus!


“Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor, é em nós, aperfeiçoado” (4:12)
João faz referência ao que ele escreveu no seu evangelho – “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (João 1:18). Nenhum olho mortal viu a Deus, nem mesmo a Moisés foi permitido ver a Deus por ser isso algo impossível (Êxodo 33:15-20), então, qual é o propósito de João ao iniciar o versículo com esta afirmação? A resposta vem logo em seguida. Quando nós amamos o nosso próximo e nossos irmãos uns aos outros por meio de ações concretas, as nossas vidas evidenciam a existência de Deus e a Sua presença viva em nós. O exercício do amor aperfeiçoa a obra de Deus em nossa vida como igreja e revela Deus ao mundo. 
Quando Deus nos transforma segundo a imagem de Cristo, o amor, que é um atributo moral de Deus, entra em nós e assim passamos a evidenciar que Deus habita em nós através do Espírito Santo.
O comentarista Champlin [10] diz que “amar é ter aperfeiçoada em nós a extensão da presença do Pai” e que “amamos a Deus amando a outros; ninguém pode desvincular as duas realidades”.

CONCLUSÃO

Vimos que Deus é amor e que Jesus Cristo, o Seu Unigênito Filho, é a mais perfeita manifestação de amor que Deus nos deu.
E agora? Será que é possível amarmos como Deus nos ama? Sim, é possível, pois quando amamos o nosso próximo, nós o estamos amando com o amor de Deus que foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Romanos 5:5). Ao mesmo tempo, a prática do amor fraternal é um modo de proclamarmos às pessoas que Deus existe, que Ele tem um grande amor por elas e quer tê-las não somente como criaturas, mas como filhos e filhas eternamente.
Que possamos nos dispor para sermos proclamadores das Boas Novas de salvação e bons discípulos na prática do amor cristão conforme o apóstolo João carinhosamente nos orienta – Meus filhinhos, o nosso amor não deve ser somente de palavras e de conversa. Deve ser um amor verdadeiro, que se mostra por meio de ações” (I João 3:18 NTLH).



[1] ORR, Guilherme W. 27 Chaves para o Novo Testamento: um manual prático para estudo bíblico. São Paulo: Imprensa Batista Regular do Brasil, 1981.
[2] CONEGERO, Daniel. O que é amor fraternal. Disponível em https://estiloadoracao.com/amor-fraternal/. Acessado em 12.abr.2020 às 10:48.
[3] O que significa “Fariseu”? Disponível em https://www.gospelprime.com.br/o-que-significa-fariseu/. Acessado em 04.mai.2020 às 10:17.
[4] BUENO, Joel Evangelista. João apresenta Jesus: estudos bíblicos – Volume I – Caps. 1-10. São Paulo: Primeira Igreja Batista Bortolândia/Ministério de Educação Cristã/EBD. Disponível também em http://vidacristasempre.blogspot.com/. Acessado em 19.abr.2020 às 10:48.
[5] BANCROFT, Emery H. Teologia Elementar: doutrinária e conservadora. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1983.
[6] Idem nota 5.
[7] Engastada: assentada, embutida, encravada, inserida, introduzida.
[8] Proto significa: primeiro ou início. Evangelho significa: Boas Novas. O proto-evangelho é o início das Boas Novas.
[9] Informação disponível em https://www.overpopulationawareness.org/pt/. Acessado em 10.mai.2020 às 17:03.
[10] CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Volume IV [Tiago a Apocalipse].  São Paulo: Millenium Distribuidora Cultural Ltda, 1983.