sábado, 16 de maio de 2020

Nós amamos como Deus nos ama?




Primeira Igreja Batista de Sobradinho
EBD  Classe Cartas Menores do Novo Testamento


Brasília, 17 de maio de 2020
Professora: Raquel Sueli de Almeida Alcantara da Silva



NÓS AMAMOS COMO DEUS NOS AMA?





TEXTO BASE: I João 4:7-12


INTRODUÇÃO

O título da lição de hoje nos chama para uma reflexão. Nós bem sabemos que a resposta a essa pergunta é NÃO. Por nós mesmos, com a nossa velha natureza adâmica, caída e pecaminosa, não conseguimos amar na mesma medida e proporção com que Deus nos ama. O salmista bem afirma esta verdade Eu sou pobre e necessitado, ...” (Salmo 40:17a NAA).
Nós só conseguimos amar como Deus nos ama quando o próprio Deus faz uma mudança radical em nós. Isso acontece quando Deus vem habitar em nós através do Espírito Santo, aí SIM é que conseguimos ver as coisas e as pessoas sob o prisma de Deus; então somos capacitados por Deus a amar e a perdoar como Ele; e, para que isso aconteça, devemos orar como Davi “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Salmo 51:10).
Vamos refletir nas palavras inspiradas do apóstolo João. Vemos na passagem que o autor da carta é bem didático em nos ensinar que Deus é amor. Um Deus amoroso não deixaria a sua criatura perecer; portanto, Deus manifestou Seu amor enviando Seu Filho Amado para realizar a propiciação pelos nossos pecados. Veremos o significado de propiciação mais a frente, no v. 10. Diante de tal manifestação de amor por nós, o que nos cabe é praticar o amor de Deus em nossa vivência e relacionamento diários com nossos semelhantes. Desde o Antigo Testamento, a Palavra de Deus aponta para a cruz de Cristo como um lugar de encontro, de Deus com a humanidade e, do ser humano com o seu próximo.


  

I.     DEUS É AMOR  (I João 4:7,8)

“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus... (4:7a)
Já falamos da forma carinhosa que João trata e conquista a atenção de seus leitores. Ele os chama de “Amados”. Na carta de I João notamos que a palavra “amados” aparece 6 vezes; “filhinhos” 9 vezes e “amor” 19 vezes.
O comentarista bíblico Guilherme W. Orr [1] menciona que a carta de I João...

... é uma carta familiar do Pai Celestial para os Seus filhinhos. O mundo é visto como estando lá fora. Aqui Deus está preocupado com o procedimento de Seus filhos [...] Aqui a família é importante [...] as cartas de João nos fazem sentirmo-nos em casa [...] João está preocupado com a nossa proximidade com o Pai.
           
            Vemos, portanto, o quanto João foi um escritor movido pelo amor e zeloso com o rebanho que Deus colocou sob a sua responsabilidade.  Guilherme Orr diz ainda que a carta de I João é escrita ... para filhos, isto é, “os filhos de Deus, em outras palavras, apenas para os crentes” e que “o capítulo 4 usa a palavra amor mais do que qualquer outro capítulo da Bíblia”. João declara que “Deus é amor (4:8), mas a verdadeira manifestação desse amor é mostrada no versículo 9”.
         É bom ressaltar que a carta é dirigida aos crentes e, portanto, são os cristãos que devem ser a luz no mundo que jaz nas trevas conforme Jesus Cristo disse: Vocês são a luz do mundo. [...] Assim brilhe também a luz de vocês diante dos outros, para que vejam as boas obras que vocês fazem e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus” (Mateus 5:14a,16 NAA).
         João estimula os crentes ao amor fraternal. Escrevendo sobre o amor fraternal, o escritor e teólogo Daniel Conegero [2] diz que
[...] na Bíblia o amor fraternal significa um sentimento de bondade e afeição que vai além dos laços sanguíneos. O amor fraternal enfatizado nos textos bíblicos caracteriza o relacionamento dos verdadeiros cristãos que através de sua união com Cristo são recebidos por Deus em sua família. No Novo Testamento o termo traduzido com o sentido de “amor fraternal” geralmente é a palavra grega philadelphia. Curiosamente na literatura grega esse termo e seus correlatos sempre são empregados para se referir ao sentimento de pessoas da mesma linhagem familiar. Até mesmo no Antigo Testamento a ideia de fraternidade estava muito restrita à comunidade judaica. Palavras como “irmão” ou “próximo” normalmente significam algo como “compatriota israelita” (cf. Levítico 19:17).

            João ensinou o que ele aprendeu com Jesus. Ao contar a parábola do bom samaritano, Jesus ensinou o amor fraternal. O samaritano pertencia a um povo ao qual os judeus não viam com bons olhos e não se relacionavam, entretanto, Jesus mostrou que aquele homem excluído demonstrou amor fraternal a um desconhecido. O samaritano se compadeceu do estado daquele homem semimorto. Ele não quis saber se o moribundo era judeu, ou até mesmo se era outro samaritano. O seu amor o levou a agir em favor de um desconhecido. O samaritano socorreu o homem moribundo prestando cuidados imediatos de assepsia ao colocar óleo e vinho nos ferimentos; prosseguiu a viagem à pé, pois cedeu o seu animal para carregar o ferido; proveu hospedagem e um cuidador para o pobre homem; pagou pelo tratamento e se responsabilizou por cobrir o valor que excedesse ao que ele estava pagando de imediato. (Lucas 10:30-37). O samaritano deu um grande exemplo de amor pelo próximo, ele teve uma atitude muito diferente do sacerdote e do levita judeus que se achavam tão santos e cumpridores da Lei, mas que passaram pelo homem semimorto no caminho e o deixaram lá abandonado. O verdadeiro amor, o Amor de Deus, move o nosso interior levando-nos a fazer algo pelo outro.
“... e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (4:7b)
João prossegue abordando sobre o novo nascimento. Em seu evangelho ele menciona o diálogo de Jesus com Nicodemos sobre esse assunto. Vamos conferir em João 3:1-21. Nicodemos era um homem de proeminência em sua classe social. Ele pertencia a um grupo de judeus que eram devotos à Torá, ou seja, os cinco primeiros livros da Bíblia, também conhecidos como a Lei Mosaica.
O teólogo e escritor Tiago Rosas[3] nos informa sobre o termo Fariseu:
Segundo o Dicionário Wycliffe, é incerta a origem tanto da palavra quanto do grupo religioso judeu que recebe este nome, mas provavelmente, como sugere a palavra hebraica “parash”, fariseu queira dizer “separado” e faça alusão ao partido religioso que ao menos em tese pretendia demonstrar uma vida moral elevada e distinta dos impuros. Provavelmente surgiram durante o cativeiro de Judá em Babilônia ou durante o período interlinear, naqueles quase quatro séculos antes de Cristo.

Nicodemos conhecia Jesus de ouvir falar e isso despertou nele o desejo de conhecer o Mestre pessoalmente. Mas como isso poderia acontecer se ele era um homem influente na sociedade? O que as pessoas pensariam dele? Sua posição social estaria comprometida e Nicodemos não queria se expor e se mostrar vulnerável.
Mas havia uma sede naquele coração, algo que o impelia a conhecer os ensinos do Mestre. Nicodemos programou um encontro pessoal com Jesus à noite (v.1). Frente a frente com Jesus, Nicodemos não teve receio de declarar que reconhecia a autoridade divina de Jesus (v.2). O Mestre, todavia, conhecedor do que estava no mais secreto do coração de Nicodemos faz uma declaração que dá início ao diálogo que poderia mudar a vida daquele homem – “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (v.3 ARA). O comentarista bíblico Joel Bueno [4] diz que

A observação de Nicodemos à declaração de Jesus era a expressão viva de sua imaturidade espiritual. Até uma criança teria o mesmo raciocínio! E é nesse ambiente de uma fé infantil e humilde que o Espírito Santo traz discernimento e a inteligência espiritual indispensáveis para o acolhimento da verdade que há no Evangelho. [...] o novo nascimento ocorre quando o Espírito Santo faz uso da Palavra de Deus e gera no pecador a fé que ele precisa para acolher a Graça de Deus, isto é, o amor de Deus imerecido pelo pecador. Nos momentos seguintes daquela noite, Nicodemos teve a oportunidade de ouvir o plano de Deus para a salvação pessoal dele e da humanidade. O novo nascimento é espiritual e é a porta de entrada no Reino de Deus. [...] O que Nicodemos ouviu foi suficiente para nascer de novo. Os frutos do renascido o identificam como filho de Deus”.

Aquela noite de encontro pessoal com Jesus certamente mudou a vida de Nicodemos. Por ocasião da Festa dos Tabernáculos, Jesus foi para o templo e ensinava. Além do povo, estavam presentes os principais sacerdotes e fariseus. Houve um embate entre Jesus, os principais sacerdotes e os fariseus, e o povo foi incitado a se voltar contra Jesus, pois esses líderes não criam que Jesus era de fato o Messias enviado por Deus – “Nós, todavia, sabemos donde este é; quando, porém, vier o Cristo, ninguém saberá donde ele é” (João 7:27). Esses homens procuravam um motivo para prender Jesus e mandaram os guardas prenderem o Mestre – “Os fariseus, ouvindo a multidão murmurar estas coisas a respeito dele, juntamente com os principais sacerdotes, enviaram guardas para o prenderem” (João 7:32).
Ao ouvirem Jesus, os guardas não o prenderam, mas voltaram e testemunharam para os principais sacerdotes e fariseus: “Jamais alguém falou como este homem” (João 7:46). Houve entre esses líderes uma suspeita de que algumas autoridades e fariseus possivelmente teriam crido em Jesus – “Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?” (João 7:48). Nicodemos estava ali no grupo dos fariseus e ele se manifestou, discretamente, sobre a ordem dos demais de seu grupo em mandar prender Jesus – “Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes: Acaso, a nossa lei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez? (João 7:50,51).
Depois que Jesus morreu, José de Arimateia foi até Pilatos requisitar o corpo de Jesus para sepultar. Nicodemos também estava lá, acompanhou o sepultamento de Jesus e colaborou levando perfumes para envolver o corpo do Mestre – Depois disso, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus — ainda que em segredo, porque tinha medo dos judeus —, pediu a Pilatos permissão para tirar o corpo de Jesus. E Pilatos deu permissão. Então José de Arimateia foi e retirou o corpo de Jesus. E Nicodemos, aquele que anteriormente tinha ido falar com Jesus à noite, também foi levando cerca de trinta e cinco quilos de um composto de mirra e aloés. Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com os óleos aromáticos, como é costume entre os judeus na preparação para o sepultamento” (João 19:38-40).
Para estar entre os seguidores de Jesus e sepultando o corpo do Mestre, Nicodemos precisou romper muitas barreiras, a começar, deixando o grupo dos fariseus e optando estar entre os seguidores de Jesus. Creio que naquele momento, mais abertamente, Nicodemos estava dando testemunho de seu novo nascimento, corroborando assim o que a Palavra de Deus: Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos são mais altos do que os pensamentos de vocês. Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não voltam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei” (Isaías 55:9-11).
O novo nascimento nos dá discernimento para conhecer intimamente a Deus e forças para romper com tudo aquilo que nos prende e nos afasta de Deus. O novo nascimento tira de nós tudo o que nos oprime, o medo, o anonimato e nos dá alegria e intrepidez para declarar que somos de Cristo.


II. O AMOR DE DEUS MANIFESTO AO MUNDO  (I João 4:8-10)

“Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (4:8)
Deus é real e a Sua natureza se revela pelos seus atributos. O comentarista Bíblico Bancroft [5] nos ensina que

Os atributos de Deus, portanto, são aquelas características essenciais, permanentes e distintivas, que podem ser afirmados a respeito de Seu Ser. Seus atributos são Suas perfeições, inseparáveis de Sua natureza e que condicionam Seu caráter”.

  Os atributos de Deus se dividem em Naturais e Morais. Os atributos Naturais de Deus são:
1)   Deus é Vida – “Porque assim como o Pai tem a vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter a vida em si mesmo” (João 5:26).
2)   Deus é Espírito – “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (João 4:24).
3)   Deus é Pessoa – “Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros” (Êxodo 3:14).
4)   Deus é Triuno – “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (II Coríntios 13:13).
5)   Deus auto-existe – O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas; nem é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa, pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais. De um só homem fez todas as nações para habitarem sobre a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem Deus se, porventura, tateando, o possam achar, ainda que não esteja longe de cada um de nós; pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns dos poetas de vocês disseram: “Porque dele também somos geração” (Atos 17:24-28).
6)   Deus é eterno – “Antes que os montes nascessem e tu formasses a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Salmo 90:2).
7)   Deus é imutável – “Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Malaquias 3:6).
8)   Deus é onisciente – “A palavra ainda nem chegou à minha língua, e tu, SENHOR, já a conheces toda” (Salmo 139:4).
9)   Deus é onipotente – “Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível” (Mateus 19:26).
10) Deus é onipresente – Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda ali a tua mão me guiará, e a tua mão direita me susterá” (Salmo 139:7-10).


Os atributos Morais de Deus são:
1)   Santidade – “Porque escrito está: Sede santos. Porque eu sou santo” (I Pedro 1:16).
2)   Retidão - “Para anunciar que o Senhor é reto. Ele é a minha rocha, e nele não há injustiça” (Salmo 92:15).
3)   Justiça - “Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras” (Salmo 145:17).
4)   Amor – “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (I João 4:8).
5)   Misericórdia - “Benigno e misericordioso é o SENHOR, tardio em irar-se e de grande clemência” (Salmo 145:8).
6)   Graça - “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Efésios 2:8).

Vimos então, que o Amor é um atributo moral de Deus. Isso nos mostra que é sempre Deus quem toma a iniciativa para se comunicar com o ser humano; e é Ele, somente Ele, que tem o melhor para a humanidade. Quando a pessoa conhece a Deus por meio do sacrifício vicário de Jesus Cristo, então é capaz de amar, pois o atributo moral de Deus é compartilhado no coração humano. Deus nos dá do Seu amor – “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo” ( I João 3:1).
         O amor de Deus é gratuito e está disponível a toda a humanidade agora mesmo!

“Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho Unigênito ao mundo para vivermos por meio dele” (4:9)
João escreve aos cristãos e relembra-os que Jesus Cristo é a manifestação perfeita do amor de Deus em nós.  Bancroft [6] diz que

A Pessoa de Jesus Cristo não somente está firmemente  engastada [7] na história humana e gravada nas páginas abertas das Escrituras Sagradas, mas também é experimentalmente materializada nas vidas de milhões de crentes e entrelaçada no tecido de toda a civilização digna desse nome.

É Jesus é quem dá sentido à nossa razão de viver. Fora de Jesus Cristo não há vida. A vida eterna está NELE, porque Jesus é o Cordeiro perfeito que satisfez o pagamento pelo pecado, pela ofensa a Deus  - “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus” (Hebreus 10:12).
A iniciativa de salvar o mundo partiu de Deus em enviar seu Filho. Em Gênesis 3:15 temos a primeira profecia do envio de Jesus Cristo, o Filho amado de Deus e de Sua obra redentora pela humanidade. Gênesis 3:15 é o proto-evangelho no Antigo Testamento; isso quer dizer que foi a primeira vez no mundo que houve um vislumbre ou um reflexo de luz do Evangelho, das Boas Novas de salvação. E o mais maravilhoso é que esse proto-evangelho foi pregado e prometido pelo próprio Deus.
Deus comunicou imediatamente ao Diabo o proto-evangelho [8] e fez com que o Diabo soubesse em primeira mão que ele já estava derrotado, pois o Filho Único e perfeito de Deus, “... o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo...” (João 1:29) haveria de derrotá-lo e destruí-lo para sempre. O Diabo conseguiu fazer com que Adão e Eva pecassem desobedecendo o Criador e como consequência o casal e toda a humanidade que deles procederam também estão espiritualmente separados de Deus, sujeitos a uma vida terrena pecaminosa, perecível e destinados à morte física e espiritual. O que parecia uma vitória do Diabo se tornou em sua derrota e juízo, pois os planos de Deus são eternos e jamais são frustrados. Temos de Deus esta abençoada promessa: “Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo” (I Coríntios 15:21,22).
Em Cristo temos a vida plena, eterna e a vitória sobre Satanás e a morte.
“Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória?
Onde está, ó morte, o teu aguilhão?
O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.
Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.
(I Coríntios 15:54d-57)

“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (4:10)
Quando Adão e Eva pecaram eles sentiram medo e se esconderam. Em seu esconderijo buscaram uma solução paliativa e efêmera para cobrir a sua nudez e se apresentarem perante Deus. Agora eram pecadores, desfigurados espiritualmente e incapazes de resolver a sua salvação. Deus, em Sua infinita misericórdia, providenciou uma roupa de peles de animal. Com isso, Deus estava ensinando-os o sentido da expiação pelo pecado.
O pecado produziu a inimizade entre Deus e a sua criatura. A única maneira de estabelecer as pazes novamente, ou seja, a reconciliação, seria o derramamento do sangue de um inocente. A vida está no sangue. Um inocente estava morrendo no lugar do casal para que eles pudessem ser cobertos, purificados e se apresentassem perante o Seu Criador sem a mácula do pecado. A iniciativa e o ensino de Deus estava apontando para o futuro e para a obra que Jesus faria na cruz, expiando, pagando pelos nossos pecados através do derramamento de Seu sangue em favor dos pecados da humanidade desde o Éden até hoje. Quando aceitamos pela fé a Jesus Cristo em nossa vida como nosso Senhor e Salvador, estamos fazendo as pazes com Deus e somos aceitos por Ele. Deus olha para nós e vê o sangue do Cordeiro Santo e Imaculado. Deus vê Jesus Cristo! – “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Efésios 1:7).
Deus não implora o nosso amor por Ele e nem impõe condições para O amarmos. O amor de Deus é incondicional – “Mas Deus demonstra o seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando éramos ainda pecadores” (Romanos 5:8).  O amor de Deus se move de íntima compaixão pelas mais de 7 bilhões e 700 milhões (7,7) [9] de vidas que habitam o planeta Terra hoje. Ele conhece cada uma dessas pessoas particularmente. Isso quer dizer que você e eu não passamos despercebidos aos olhos de Deus.
E porque somos tão preciosos e especiais para Deus, por amor a nós Ele fez de Seu Filho querido a propiciação pelos nossos pecados. A palavra propiciação descreve um aspecto importantíssimo da salvação, ela está ligada ao fato de aplacar ou acalmar a ira de Deus. Vimos no versículo 7 que Deus é Amor. Deus também é Santo, Justo e Reto. Portanto, todo e qualquer pecado e perversão estão sob a ira de Deus – “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Romanos 1: 18).
O propiciatório que estava no tabernáculo era a tampa da arca da aliança. Uma vez por ano o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos e colocava no propiciatório o sangue do sacrifício de animais feito pelos pecados do povo de Israel. O sangue era um pedido de perdão pelos pecados cometidos, ao mesmo tempo em que apresentava a Deus a morte de um animal perfeito e inocente no lugar do povo. O sangue no propiciatório tinha como objetivo reconciliar os pecadores com o Deus Santo, Justo e Reto. No Novo Testamento, o propiciatório é a cruz onde Jesus Cristo foi crucificado e derramou o Seu sangue em favor de muitos, de uma vez por todas - “... porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu. Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção” (Isaías 53:12b; Hebreus 9:11,12).
Ah! Como é grande o Amor de Deus por nós! Não merecemos, mas Deus nos dá abundantemente. Que nossos corações agradecidos cantem exaltando nosso Salvador:
Lindo, lindo, lindo és. Glória, glória eu Te dou, Jesus, Jesus.
Lindo, lindo, lindo és. Glória, glória eu Te dou, Jesus, Jesus...


III.              RECOMENDAÇÕES À PRATICA DO AMOR DE DEUS (I João 4:11,12)

“Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros” (4:11)
Depois de ensinar sobre o Amor de Deus e como Ele se manifestou no mundo, o apóstolo João passa a recomendar aos cristãos a prática do amor de Deus. Seu ensino é conclusivo “Se Deus de tal maneira nos amou”. João chama a atenção dos cristãos para a grandeza do amor de Deus manifesto na pessoa e obra de Jesus. O amor de Deus é imensurável “de tal maneira”. O ensino de João sobre o amor de Deus está em sintonia com o ensino do apóstolo Paulo aos efésios – E assim, pela fé, que Cristo habite no coração de vocês, estando vocês enraizados e alicerçados em amor. Isto para que, com todos os santos, vocês possam compreender qual é a largura, o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que vocês fiquem cheios de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3:17-19).
Impelidos pelo amor de Deus derramado em seus corações os cristãos são conclamados à prática do amor fraternal, à mutualidade cuja reciprocidade é valorizada e incentivada. Os cristãos da igreja primitiva nos dão o exemplo de amor uns para com os outros. Havia amor mútuo; todos perseveravam na sã doutrina pregada pelos apóstolos; a comunhão no partir do pão e nas orações eram notadas no Corpo de Cristo; todos tinham tudo em comum, de maneira que não havia desigualdade social e cristã; a liberalidade era incentivada e praticada; a unanimidade de espírito, a assistência assídua no templo e a comunhão ao redor das mesas nos lares eram motivos de alegria e singeleza de coração; o louvor e o testemunho eram características que contagiavam e atraíam as pessoas de fora para dentro da igreja - “Enquanto isso, acrescentava-lhes o  Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”  (Atos 2:47).
A Igreja cresce quando o Corpo de Cristo vive a prática do Amor de Deus!


“Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor, é em nós, aperfeiçoado” (4:12)
João faz referência ao que ele escreveu no seu evangelho – “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (João 1:18). Nenhum olho mortal viu a Deus, nem mesmo a Moisés foi permitido ver a Deus por ser isso algo impossível (Êxodo 33:15-20), então, qual é o propósito de João ao iniciar o versículo com esta afirmação? A resposta vem logo em seguida. Quando nós amamos o nosso próximo e nossos irmãos uns aos outros por meio de ações concretas, as nossas vidas evidenciam a existência de Deus e a Sua presença viva em nós. O exercício do amor aperfeiçoa a obra de Deus em nossa vida como igreja e revela Deus ao mundo. 
Quando Deus nos transforma segundo a imagem de Cristo, o amor, que é um atributo moral de Deus, entra em nós e assim passamos a evidenciar que Deus habita em nós através do Espírito Santo.
O comentarista Champlin [10] diz que “amar é ter aperfeiçoada em nós a extensão da presença do Pai” e que “amamos a Deus amando a outros; ninguém pode desvincular as duas realidades”.

CONCLUSÃO

Vimos que Deus é amor e que Jesus Cristo, o Seu Unigênito Filho, é a mais perfeita manifestação de amor que Deus nos deu.
E agora? Será que é possível amarmos como Deus nos ama? Sim, é possível, pois quando amamos o nosso próximo, nós o estamos amando com o amor de Deus que foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Romanos 5:5). Ao mesmo tempo, a prática do amor fraternal é um modo de proclamarmos às pessoas que Deus existe, que Ele tem um grande amor por elas e quer tê-las não somente como criaturas, mas como filhos e filhas eternamente.
Que possamos nos dispor para sermos proclamadores das Boas Novas de salvação e bons discípulos na prática do amor cristão conforme o apóstolo João carinhosamente nos orienta – Meus filhinhos, o nosso amor não deve ser somente de palavras e de conversa. Deve ser um amor verdadeiro, que se mostra por meio de ações” (I João 3:18 NTLH).



[1] ORR, Guilherme W. 27 Chaves para o Novo Testamento: um manual prático para estudo bíblico. São Paulo: Imprensa Batista Regular do Brasil, 1981.
[2] CONEGERO, Daniel. O que é amor fraternal. Disponível em https://estiloadoracao.com/amor-fraternal/. Acessado em 12.abr.2020 às 10:48.
[3] O que significa “Fariseu”? Disponível em https://www.gospelprime.com.br/o-que-significa-fariseu/. Acessado em 04.mai.2020 às 10:17.
[4] BUENO, Joel Evangelista. João apresenta Jesus: estudos bíblicos – Volume I – Caps. 1-10. São Paulo: Primeira Igreja Batista Bortolândia/Ministério de Educação Cristã/EBD. Disponível também em http://vidacristasempre.blogspot.com/. Acessado em 19.abr.2020 às 10:48.
[5] BANCROFT, Emery H. Teologia Elementar: doutrinária e conservadora. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1983.
[6] Idem nota 5.
[7] Engastada: assentada, embutida, encravada, inserida, introduzida.
[8] Proto significa: primeiro ou início. Evangelho significa: Boas Novas. O proto-evangelho é o início das Boas Novas.
[9] Informação disponível em https://www.overpopulationawareness.org/pt/. Acessado em 10.mai.2020 às 17:03.
[10] CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Volume IV [Tiago a Apocalipse].  São Paulo: Millenium Distribuidora Cultural Ltda, 1983.

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