quarta-feira, 18 de novembro de 2015

JESUS É INTERROGADO PELAS AUTORIDADES[1]
João 18:25-40




I.                    INTRODUÇÃO:

Depois de ser preso no Jardim do Getsêmani, Jesus foi levado à presença de três autoridades, sendo duas delas judias e da classe religiosa dos Sumo-Sacerdotes e, a terceira uma autoridade do governo romano.
A primeira autoridade foi Anás. A Bíblia relata que ele era sumo sacerdote desde o tempo em que João Batista exercia seu ministério pregando no deserto; era também o sogro de Caifás (Lucas 3:2). Na cultura judaica, o cargo de sumo sacerdote era vitalício. Entretanto, historiadores informam que Anás foi sumo sacerdote do ano 6 a 15 d.C, nomeado para o cargo por Quirino, governador da Síria, visto que naquela época, a Judeia estava subordinada à Síria como uma província romana de importância menor. Mesmo depois de deposto por Valério Grato, prefeito da Judeia, Anás continuou a ter forte influência, poder e prestígio como ex-sumo sacerdote[2]. Explica-se, portanto, o motivo pelo qual Jesus foi levado a ele para um interrogatório preliminar (v. 13). Anás se eximiu de acusar Jesus a Pilatos, o governador romano e encaminhou o caso a Caifás, o sumo sacerdote em exercício naquele ano, que era seu genro Caifás, o qual cabia essa incumbência (João 18:19-24).  
A segunda autoridade era Caifás (v. 13 e Lucas 3:2). Como sumo sacerdote, Caifás era presidente do Sinédrio. Em João 11:49,50 quando os principais sacerdotes e fariseus convocaram o Sinédrio para tramar a morte de Jesus, Caifás estava presente e declarou que era mais conveniente morrer uma pessoa só do que toda a nação perecer nas mãos do governo romano. A Bíblia afirma que as palavras de Caifás foram profecia vinda da parte de Deus. Embora os líderes religiosos cressem que a morte de Jesus seria uma maneira de tirá-LO do caminho deles, as palavras de Caifás sobre a morte de Jesus serviu como um testemunho da parte de Deus, de que Jesus haveria de morrer não somente pela nação judaica, mas pelo mundo todo, cumprindo assim os propósitos divinos de formar um corpo espiritual: a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo! (João 3:16; João 17:21-23; Romanos 5:12-21).

II.                 PEDRO NEGA SER DISCÍPULO DE JESUS  (18:25-27)
Antes de prosseguir a narrativa de interrogatórios a que Jesus foi submetido, João finaliza o relato da negação de Pedro, em cumprimento à palavra de Jesus em João 13:36-38; Mateus 26:31-35; Marcos 14:27-31; Lucas 22:31-34. A primeira vez que Pedro negou conhecer Jesus e fazer parte de seu colégio apostólico foi no v. 17.
As outras duas negativas estão registradas nos vs. 25-27 e aconteceram na casa do sumo sacerdote Caifás, de madrugada, ao redor de um braseiro onde ele e outras pessoas estavam se aquentando do frio. Pedro foi reconhecido e confrontado pelo parente do servo que ele havia decepado a orelha no jardim do Getsêmani. O canto do galo, "... no mesmo instante..." como João reforça, foi a maneira que Deus usou para lembrar Pedro de sua fragilidade humana, de sua impetuosidade e auto-suficiência. Mateus 26:75) e Lucas 22:62 registram que Pedro "... chorou amargamente". Marcos 14:72 fala que Pedro "... caindo em si, desatou a chorar".
Lucas 22:61 enfatiza que na terceira vez que Pedro negou a Jesus em público, o próprio Jesus, que certamente estava ali por perto, "...fixou os olhos em Pedro..." e este olhar também fez com que Pedro se lembrasse de que fora avisado que negaria seu Mestre.
Quantas vezes temos agido como Pedro?! Deus nos ensina que a nossa suficiência deve estar e vir DELE e não de nós mesmos, pois somos fracos e pecadores – "não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus" ( II Coríntios 3:5)
No Velho Testamento, em Números 22, Deus fez uma jumenta falar para repreender o desobediente, obstinado e interesseiro profeta Balaão.
No livro "Temperamentos controlados"[3] escrito por Tim LaHaye, o autor menciona que:
"Temperamento  é a combinação de características congênitas herdadas de nossos pais e avós e coordenadas com base na nacionalidade, raça, sexo e outros fatores hereditários; Caráter é o verdadeiro eu. A Bíblia o chama de "a essência secreta do coração". O fruto do temperamento burilado pela disciplina e educação recebidos na infância e pelos comportamentos básicos, crenças, princípios e motivações, denominado, às vezes, alma - é composta, esta, por cérebro, emoções e vontade e Personalidade - semblante externo de nós mesmos. Frequentemente uma fachada agradável para um caráter medíocre ou mesmo desprezível, principalmente hoje em dia".

Segundo Moura (2011)[4], em estudo baseado no livro "Temperamentos controlados", Pedro é uma das pessoas que mais sobressai nos evangelhos, característica típica de um sanguíneo de chamar a atenção por onde passa. Dentre os discípulos é o que deixa seus defeitos visíveis a todos, num momento é amável e alegre, no outro assusta com suas atitudes: Pedro falava mais que os outros discípulos; o Senhor conversava muito amiúde com ele e foi Pedro quem teve a ousadia de repreender o Mestre... Mas, Quando Pedro experimentou a plenitude do Espírito Santo foi o homem de maior influência na Igreja dos primeiros tempos e um desafio para os cristãos exemplificando o que o Espírito Santo pode fazer com uma vida entregue a Ele.
Os quatro tipos de temperamento classificados por LaHaye, são: sanguíneo, colérico, melancólico e fleumático. Cada um deles apresenta qualidades e defeitos. Moura (idem) ainda cita que as qualidades do sanguíneo é ser uma pessoa comunicativa, destacada, entusiasta, afável, simpática, boa companheira, compreensiva, crédula etc. Entretanto, os defeitos da pessoa sanguínea é ser pusilânime (falta de decisão e coragem), volúvel, indisciplinado, impulsivo, inseguro, egocêntrico, barulhento, exagerado, medroso.
Assim como Pedro teve seu temperamento transformado pelo Espírito Santo, também devemos nos colocar diante de Deus para esta transformação dia após dia.

III.               JESUS É LEVADO ATÉ CAIFÁS (18:24,28)
Os evangelistas Mateus 27:1,2 ; Marcos 15:1 e Lucas 23:1 mencionam a reunião que resultou em acordo unânime dos principais sacerdotes, anciãos do povo, escribas e de todo o Sinédrio para entregar Jesus a Pôncio Pilatos, o governador romano.
Levado à casa de Caifás, amarrado como um transgressor da Lei, Jesus aguardava a reunião da cúpula que planejava a Sua morte (Mateus 26:57).  Os líderes religiosos se empenharam em buscar testemunhos falsos contra Jesus para o condenarem à morte (Mateus 26:59),  se incumbiram de planejar a morte de Jesus, porém a execução deixaram à cargo do governador romano. Jesus ouviu as falsas acusações e insultos, porém ficou em silêncio (Mateus 26:62,63)
As razões que os líderes religiosos encontraram para que eles mesmos não fossem os executores são: 1) Se com as suas próprias mãos matassem a Jesus, estariam impuros e impedidos de participarem da Páscoa que estava próxima (v. 28)  e 2) Buscavam se justificaram que a Lei não concedia a eles o direito lícito de matar ninguém (v. 31).
Ora, as atitudes desses líderes religiosos eram hipocrisia pura  (Mateus 23:1-36). Quem planeja a morte de alguém é tão autor como quem a executa.
A ironia desses hipócritas é registrada na maneira como chegam ao pretório de Pilatos - . "Era cedo de manhã" (v. 28). Isso mostra a avidez por vingança que enchia seus corações. Foi preciso que Pilatos viesse para fora do Pretório[5] ao encontro deles. Em nome da "pureza", não entraram no local onde Pilatos estava habitando.
Antes de seguirmos adiante, é bom mencionar o que os historiadores dizem a respeito de Pôncio Pilatos e como sua atitude condiz com o que é dito dele.
Pôncio Pilatos era naquela época o governador da Judéia. Foi nomeado pelo imperador Tibério em 26 d.C e permaneceu no cargo praticamente até a morte do imperador em março de 37 d.C. Sobre o perfil de Pilatos, os historiadores afirmam que ele era um homem fraco que tentava encobrir sua fraqueza ostentando obstinação e violência. Não tinha tato nas resoluções de conflito e chegava a ofender a opinião pública judaica; seu governo foi marcado por rebeliões sangrentas como a que se registra em Lucas 13:1 (F.F. Bruce). A diplomacia também não fazia parte de sua pessoa nem governo conforme Hendriksen (2004)[6].
Pilatos questionou os líderes religiosos sobre o quê estavam acusando Jesus. A resposta foi que Jesus era um malfeitor (v.30).
É interessante notar que, quando Jesus estava sendo interrogado por Anás a respeito dos seus discípulos e sua doutrina, Ele responde pacificamente (v. 20); depois pergunta a Anás o motivo de estar sendo interrogado sobre algo que Ele nunca havia feito ou dito às escondidas, mas publicamente. Em seguida, Jesus sugere que Anás pergunte aos que ouviram os seus ensinos se estes eram bons ou não. Um  guarda que estava próximo considerou o tom das palavras de Jesus como "desacato à autoridade"  e desferiu uma bofetada em Jesus. No v.30, se Pilatos fosse usar da mesma medida de autoridade que aquele soldado do v. 20, os líderes religiosos é que seriam presos por desacato, pois a resposta deles não foi nada respeitosa – "Se este homem não fosse malfeitor, não to entregaríamos". Pilatos respondeu à altura, devolvendo a responsabilidade de julgar Jesus aos líderes religiosos e  apontou que o crivo de julgamento deveria ser a Lei judaica, visto que tanto os líderes religiosos como Jesus eram judeus.
Pilatos se esquivou de aplicar a lei romana. Aquele cenário que se passava fora do pretório era um verdadeiro jogo de empurra. Cada lado queria "salvar sua pele" e "tirar o corpo fora" pela morte de Jesus (v.31).  Em outras palavras, Pilatos estava dizendo: "eu não tenho nada a ver com isso, resolvam vocês". A declaração dos judeus religiosos apontava para o tipo de castigo que desejavam que fosse aplicado a Jesus: a pena de morte (v.31,32).

IV.              JESUS É INTERROGADO POR PILATOS PELA PRIMEIRA VEZ  (18:33-40)
A segunda vez que Jesus é interrogado por Pilatos acontece em 19:9-11.
Forçado pelos judeus religiosos, Jesus é levado para dentro do pretório onde foi interrogado por Pilatos. Analisemos este interrogatório:
Pilatos inicia o interrogatório, entretanto, vemos que Jesus é quem dirige o rumo do interrogatório. Jesus é Deus e é Ele quem deve questionar o ser humano, a criatura e não o contrário conforme diz o profeta Isaias no capítulo 45:9 – "Ai daquele que contende com o seu Criador! E não passa de um caco de barro entre outros cacos. Acaso dirá o barro ao que lhe dá forma: que fazes? Ou: a tua obra não tem alça".
Pilatos:  v. 33 – És tu o rei dos judeus?
Jesus: v. 34 – não respondeu diretamente "sim ou não" à pergunta de Pilatos. Como Deus, Jesus não precisava ficar se explicando. Jesus redarguiu[7] a Pilatos fazendo outra pergunta que inclui duas possibilidades: 1) Esta pergunta partiu de você mesmo? OU, 2) você está me perguntando isto porque outras pessoas disseram a você a meu respeito?
Jesus dominava a arte de responder perguntas. Ele bem sabia que a pergunta de Pilatos era uma armadilha.
 Réplica de Pilatos: v. 35  – a réplica é a resposta de Pilatos às perguntas feitas por Jesus no v. 34.  A resposta traz à tona o caráter fraco deste governante. Em outras palavras, Pilatos estava dizendo que o cunho daquele interrogatório era para cumprir uma obrigação imposta pelo ofício, visto que ele não era judeu, não tinha conhecimento e nem lhe interessava saber do quê Jesus era acusado pela liderança religiosa do seu próprio povo.
Resposta de Jesus: v. 36 – Jesus não se declara Rei, por sua própria boca, conforme Pilatos queria que fizesse, mas Ele fala indiretamente  que, "seu reino não era deste mundo", ou seja, seu reino  não era terreno, porque se fosse, Ele teria sido aceito e defendido pelos seus. Nesta resposta, Jesus induz Pilatos à pensar, concluir e gerar uma resposta conclusiva à pergunta inicial. Essa resposta vinda da própria boca da autoridade romana não era motivo para condená-LO.
Resposta de Pilatos: v. 37 – Pilatos conclui, volta à pergunta inicial ele fizera a Jesus e declara em voz audível que "Jesus é Rei". Jesus afirma que esta declaração vinha da boca de Pilatos.
Ainda neste mesmo versículo, Jesus explica o motivo pelo qual Ele veio ao mundo: veio para reinar na vida e no coração de todos quantos O ouvem, obedecem a Sua voz e O professam como seu Senhor. Jesus também revela que veio para dar testemunho da verdade. Isso gerou uma nova pergunta instigadora da parte de Pilatos: "Que é a verdade?" (v.38).  Todavia, esta pergunta ficou sem resposta e o interrogatório cessou. Isso me faz lembrar o Rei Agripa, que após ter ouvido o testemunho de Paulo a respeito de seu chamado missionário e de sua conversão a Jesus Cristo  (Atos 23). Impressionado, o rei Agripa se esquivou de crer no evangelho dizendo a Paulo: "Por pouco me persuades a me fazer cristão" (Atos 26:28).
Quantos Pilatos e Agripas têm deixado para depois uma decisão tão importante como esta: ouvir e obedecer à voz do Rei e Salvador Jesus Cristo!
Pilatos não queria saber o que realmente era "a verdade" e tratou logo de interromper o ciclo de perguntas dando o seu parecer aos judeus a respeito de Jesus: "Eu não acho nele crime algum". Pilatos se viu "entre a cruz e a espada", pois de um lado tinha um homem que a ele não parecia ser alguém periculoso; e, do outro lado tinha toda uma cúpula de líderes religiosos que esperavam uma ação enérgica do governador em relação a Jesus, já que eles, como "homens santos" que eram não podiam se contaminar matando alguém próximo à festa da Páscoa. Era melhor que a ordem assassina viesse validada por uma instância governamental e não religiosa.
O relato de João nos vs. 33-38 dá a entender que não havia ninguém mais no pretório, além de Jesus e Pilatos. Entretanto, Mateus 27:11-14, Marcos 15:1-5 e Lucas 23:1-4 relatam a presença dos principais sacerdotes acusando Jesus o tempo todo. Relatam também que era um costume do governador conceder a  liberdade a um preso ao se aproximar a festa da Páscoa. João v.39, informa este costume na pergunta que Pilatos fez aos judeus religiosos e consulta-os se desejavam que Jesus, o rei dos judeus, fosse solto naquela ocasião. Agindo assim, Pilatos se coloca numa posição de "falsa neutralidade" e se exime da responsabilidade. Pilatos agiu com parcialidade ficando com a maioria, pois esta traria a ele muitas benesses.
Para mim, nessa situação e em tantas outras, a voz do povo não é a voz de Deus.
Por não ser a voz de Deus, deu no que deu. João conclui o triste relato informando que sob gritos, Jesus, o Filho de Deus, o Salvador da humanidade, perdeu a sua liberdade e foi trocado por um bandido (v.40).

V.                 CONCLUSÃO
Embora nos cause tristeza, não é motivo para desanimar e entristecer, porque tudo que aconteceu estava de acordo com os propósitos divinos e sob o controle de Deus.
Jesus foi submisso ao Seu Pai e se entregou – "o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar[8] deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai" (Gálatas 1:4).
No final, Jesus foi vitorioso sobre a morte. Ele é vitorioso. E, se Jesus venceu, nós também somos mais que vencedores com Ele! (Romanos 8:31-39).



"Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou"  (Romanos 8:37)




[1] Lição ministrada por Raquel Alcantara, em 15/novembro/2015, na Classe de Adultos (Livro de João), da Primeira Igreja Batista de Sobradinho, Brasília-DF.
[2] BRUCE. F. F. João: introdução e comentário. 1ª Edição. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova e Associação Religiosa Editora Mundo Cristão, 1987.

[3] LaHAYE, Tim F.. Temperamentos controlados. 2ª Edição Revisada. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2011 .
[4] MOURA, Josias. Estudo: Temperamentos transformados pela atuação do Espírito Santo. Disponível em    http://descubraessepoder.blogspot.com.br/2011/11/estudo-temperamentos-transformados-pela.html. Acessado em 14.nov.2015  às 14:35.
[5] PRETÓRIO: o termo pretório indica o quartel general de um governador militar romano (F.F. Bruce)
[6] HENDRIKSEN, William. O evangelho de João. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004.
[7] Redarguir: significa argumentar; responder com outra pergunta
[8] DESARRAIGAR significa "arrancar pela raiz ou com raízes"(Dicionário Michaelis Online). Disponível em http://michaelis.uol.com.br . Acessado em 14.nov.2015 às 18:48.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

OFICINA DA PALAVRA

CONTEXTO:
A atividade "Oficina da Palavra" foi realizada em 2006, quando eu cursava Pedagogia na Universidade de Brasília (UnB). A atividade fazia parte da disciplina "Processos de Alfabetização". A professora propôs que cada aluno caminhasse ao redor da Faculdade de Educação observando as árvores. Em seguida, devíamos escolher uma ou mais árvore e "conversar" com ela(s), observando a similaridade dela(s) com a nossa própria vida e extrair alguma lição.
Depois da "conversa" devíamos coletar uma folha da/ de cada árvore e escrever um texto que fosse um diálogo das árvores escolhidas. Eu escolhi a folha do bambuzal e a folha da amoreira. 
Meu texto produzido foi este:



AS PLANTAS TAMBÉM NOS ENSINAM:
Uma alegoria da "Folha do Bambuzal" e da "Folha da Amoreira"




Aconteceu numa manhã de quarta-feira. De repente, vimos um grupo vindo em nossa direção, mas nem suspeitávamos que aquele seria um dia diferente para nós.
Fomos escolhidas dentre as nossas colegas. Ela, a Folha da Amoreira e eu, a Folha do Bambuzal.
Aproximamo-nos uma da outra e fomos levadas para uma roda que o grupo acabara de formar. O que ouvimos naquela manhã a nosso respeito e de outras colegas foram declarações preciosas, profundas e carregadas de emoção!
Como sou mais falante, tomei logo a iniciativa com minha colega Folha da Amoreira. Enquanto conversávamos, percebemos que ambas usávamos a terceira pessoa do plural. Nosso sentimento de coletividade falava mais alto.
Disse à Folha da Amoreira do nosso prazer em tê-las bem a nossa frente com seus galhos espraiados, dia após dia, sempre convidando os que ali passam para saborear a doçura de suas pequeninas amoras. Disse-lhe que as Amoreiras são dignas de serem admiradas, dado o seu exemplo de bondade, generosidade, companheirismo e de trabalho em grupo.
Para nós era admirável sua virtude de saber conviver com o diferente que se erguia esbelto e majestoso entre seus galhos.
Além disso, manifestei a nossa alegria pelos novos brotos, sinal da vida que se renova e da bondade do Criador que as recompensa. Emocionada, a Folha da Amoreira agradeceu e não poupou palavras generosas a nós.
A Folha da Amoreira expressou a sua admiração ao contemplar-nos unidos, à beira da rua, sempre agraciando com uma brisa refrescante e uma sombra benfazeja os que por ali se assentam ou transitam. Lembrou-nos com humor da disputa dos carros por nossa sombra logo pela manhãzinha. Semelhantemente, parabenizaram-nos pelos nossos brotos, também dádivas do Criador!
Nossa conversa não parou por aí. A Folha da Amoreira relembrou-nos de outras contribuições que damos à humanidade como os móveis que amparam os corpos cansados, os que adornam os ambientes e aqueles que dentre nós são escolhidos para servir o homem nas tarefas mais humildes como a condução da preciosa água e tantas outras utilidades.
Nós as agradecemos pela maneira como são úteis além do espaço que ocupam. Pois afinal, poucos são os que resistem a uma geleia ou torta dos saborosos frutos de nossas amigas.
A conversa estava boa, mas a manhã havia se passado. Estávamos felizes por termos sido escolhidas. Não voltaremos para contar as novas para as nossas amigas. Estamos certas de que elas comungam conosco do mesmo sentimento que justifica a nossa existência. Vivemos e morremos para servir! Morremos despertando consciências, quem sabe até então, desapercebidas da beleza, singularidade, diversidade e do valor da vida que as rodeiam. Para nós a morte não é o fim e nem motivo de entristecimento. A morte para nós é uma prova de amor incondicional!


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"O amor que se dá enriquece infinitamente mais que o amor que se recebe".
A.    Borçóis- Macé