JESUS É INTERROGADO PELAS AUTORIDADES[1]
João 18:25-40
I.
INTRODUÇÃO:
Depois de ser preso no Jardim
do Getsêmani, Jesus foi levado à presença de três autoridades, sendo duas delas
judias e da classe religiosa dos Sumo-Sacerdotes e, a terceira uma autoridade
do governo romano.
A primeira autoridade
foi Anás. A Bíblia relata que ele
era sumo sacerdote desde o tempo em que João Batista exercia seu ministério
pregando no deserto; era também o sogro de Caifás (Lucas 3:2). Na cultura judaica, o cargo de sumo sacerdote era
vitalício. Entretanto, historiadores informam que Anás foi sumo sacerdote do
ano 6 a 15 d.C, nomeado para o cargo por Quirino, governador da Síria, visto
que naquela época, a Judeia estava subordinada à Síria como uma província
romana de importância menor. Mesmo depois de deposto por Valério Grato,
prefeito da Judeia, Anás continuou a ter forte influência, poder e prestígio
como ex-sumo sacerdote[2].
Explica-se, portanto, o motivo pelo qual Jesus foi levado a ele para um
interrogatório preliminar (v. 13).
Anás se eximiu de acusar Jesus a Pilatos, o governador romano e
encaminhou o caso a Caifás, o sumo sacerdote em exercício naquele ano, que era
seu genro Caifás, o qual cabia essa incumbência (João 18:19-24).
A segunda autoridade era
Caifás (v. 13 e Lucas 3:2). Como sumo sacerdote,
Caifás era presidente do Sinédrio. Em João 11:49,50
quando os principais sacerdotes e fariseus convocaram o Sinédrio para
tramar a morte de Jesus, Caifás estava presente e declarou que era mais
conveniente morrer uma pessoa só do que toda a nação perecer nas mãos do
governo romano. A Bíblia afirma que as palavras de Caifás foram profecia vinda
da parte de Deus. Embora os líderes religiosos cressem que a morte de Jesus
seria uma maneira de tirá-LO do caminho deles, as palavras de Caifás sobre a
morte de Jesus serviu como um testemunho da parte de Deus, de que Jesus haveria
de morrer não somente pela nação judaica, mas pelo mundo todo, cumprindo assim
os propósitos divinos de formar um corpo espiritual: a Igreja de nosso Senhor
Jesus Cristo! (João 3:16; João
17:21-23; Romanos 5:12-21).
II.
PEDRO NEGA SER DISCÍPULO DE JESUS
(18:25-27)
Antes de prosseguir a narrativa de
interrogatórios a que Jesus foi submetido, João finaliza o relato da negação de
Pedro, em cumprimento à palavra de Jesus em João 13:36-38; Mateus 26:31-35; Marcos 14:27-31; Lucas
22:31-34. A primeira vez que Pedro negou conhecer Jesus e fazer
parte de seu colégio apostólico foi no v. 17.
As outras duas negativas estão registradas nos vs. 25-27 e
aconteceram na casa do sumo sacerdote Caifás, de madrugada, ao redor de um
braseiro onde ele e outras pessoas estavam se aquentando do frio. Pedro foi
reconhecido e confrontado pelo parente do servo que ele havia decepado a orelha
no jardim do Getsêmani. O canto do galo, "... no mesmo instante..."
como João reforça, foi a maneira que Deus usou para lembrar Pedro de sua
fragilidade humana, de sua impetuosidade e auto-suficiência. Mateus 26:75) e Lucas 22:62 registram que Pedro "... chorou amargamente". Marcos 14:72 fala que Pedro "... caindo em si, desatou a
chorar".
Lucas 22:61 enfatiza que na terceira vez que
Pedro negou a Jesus em público, o próprio Jesus, que certamente estava ali por
perto, "...fixou os olhos em Pedro..." e este olhar também
fez com que Pedro se lembrasse de que fora avisado que negaria seu Mestre.
Quantas vezes temos agido como Pedro?! Deus nos
ensina que a nossa suficiência deve estar e vir DELE e não de nós mesmos, pois
somos fracos e pecadores – "não que, por nós mesmos, sejamos
capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a
nossa suficiência vem de Deus" ( II Coríntios 3:5)
No Velho Testamento, em Números 22, Deus fez uma jumenta falar
para repreender o desobediente, obstinado e interesseiro profeta Balaão.
No livro "Temperamentos controlados"[3]
escrito por Tim LaHaye, o autor menciona que:
"Temperamento é a combinação
de características congênitas herdadas de nossos pais e avós e coordenadas com
base na nacionalidade, raça, sexo e outros fatores hereditários; Caráter é o verdadeiro eu. A Bíblia o
chama de "a essência secreta do coração". O fruto do temperamento
burilado pela disciplina e educação recebidos na infância e pelos
comportamentos básicos, crenças, princípios e motivações, denominado, às vezes,
alma - é composta, esta, por cérebro, emoções e vontade e Personalidade - semblante externo de nós mesmos. Frequentemente uma
fachada agradável para um caráter medíocre ou mesmo desprezível, principalmente
hoje em dia".
Segundo Moura (2011)[4],
em estudo baseado no livro "Temperamentos controlados", Pedro é uma das pessoas que mais sobressai
nos evangelhos, característica típica de um sanguíneo de chamar a atenção por
onde passa. Dentre os discípulos é o que deixa seus defeitos visíveis a todos,
num momento é amável e alegre, no outro assusta com suas atitudes: Pedro falava
mais que os outros discípulos; o Senhor conversava muito amiúde com ele e foi Pedro
quem teve a ousadia de repreender o Mestre... Mas, Quando Pedro experimentou a
plenitude do Espírito Santo foi o homem de maior influência na Igreja dos
primeiros tempos e um desafio para os cristãos exemplificando o que o Espírito
Santo pode fazer com uma vida entregue a Ele.
Os quatro tipos de
temperamento classificados por LaHaye, são: sanguíneo, colérico, melancólico e
fleumático. Cada um deles apresenta qualidades e defeitos. Moura (idem) ainda
cita que as qualidades do sanguíneo é ser uma pessoa comunicativa,
destacada, entusiasta, afável, simpática, boa companheira, compreensiva,
crédula etc. Entretanto, os defeitos da pessoa sanguínea é ser
pusilânime (falta de decisão e coragem), volúvel, indisciplinado, impulsivo,
inseguro, egocêntrico, barulhento, exagerado, medroso.
Assim como Pedro teve
seu temperamento transformado pelo Espírito Santo, também devemos nos colocar
diante de Deus para esta transformação dia após dia.
III.
JESUS É LEVADO ATÉ CAIFÁS (18:24,28)
Os evangelistas Mateus 27:1,2 ; Marcos 15:1 e Lucas 23:1 mencionam a reunião que
resultou em acordo unânime dos principais sacerdotes, anciãos do povo, escribas
e de todo o Sinédrio para entregar Jesus a Pôncio Pilatos, o governador romano.
Levado à casa de Caifás, amarrado como um
transgressor da Lei, Jesus aguardava a reunião da cúpula que planejava a Sua
morte (Mateus 26:57). Os líderes religiosos se empenharam em buscar
testemunhos falsos contra Jesus para o condenarem à morte (Mateus 26:59), se incumbiram de planejar a morte de Jesus,
porém a execução deixaram à cargo do governador romano. Jesus ouviu as falsas
acusações e insultos, porém ficou em silêncio (Mateus 26:62,63).
As razões que os líderes religiosos encontraram
para que eles mesmos não fossem os executores são: 1) Se com as suas próprias
mãos matassem a Jesus, estariam impuros e impedidos de participarem da Páscoa
que estava próxima (v. 28) e 2) Buscavam se justificaram
que a Lei não concedia a eles o direito lícito de matar ninguém (v. 31).
Ora, as atitudes desses líderes religiosos eram
hipocrisia pura (Mateus 23:1-36). Quem planeja a morte de
alguém é tão autor como quem a executa.
A ironia desses hipócritas é registrada na
maneira como chegam ao pretório de Pilatos - . "Era cedo de manhã" (v. 28). Isso mostra
a avidez por vingança que enchia seus corações. Foi preciso que Pilatos viesse
para fora do Pretório[5]
ao encontro deles. Em nome da "pureza", não entraram no local onde
Pilatos estava habitando.
Antes de seguirmos adiante, é bom mencionar o
que os historiadores dizem a respeito de Pôncio Pilatos e como sua atitude
condiz com o que é dito dele.
Pôncio Pilatos era naquela época o governador
da Judéia. Foi nomeado pelo imperador Tibério em 26 d.C e permaneceu no cargo
praticamente até a morte do imperador em março de 37 d.C. Sobre o perfil de
Pilatos, os historiadores afirmam que ele era um homem fraco que tentava
encobrir sua fraqueza ostentando obstinação e violência. Não tinha tato nas
resoluções de conflito e chegava a ofender a opinião pública judaica; seu
governo foi marcado por rebeliões sangrentas como a que se registra em Lucas 13:1 (F.F.
Bruce). A diplomacia também não fazia parte de sua pessoa nem governo conforme Hendriksen
(2004)[6].
Pilatos questionou os líderes religiosos sobre
o quê estavam acusando Jesus. A resposta foi que Jesus era um malfeitor (v.30).
É interessante notar que, quando Jesus estava
sendo interrogado por Anás a respeito dos seus discípulos e sua doutrina, Ele responde
pacificamente (v. 20);
depois pergunta a Anás o motivo de estar sendo interrogado sobre algo que Ele
nunca havia feito ou dito às escondidas, mas publicamente. Em seguida, Jesus
sugere que Anás pergunte aos que ouviram os seus ensinos se estes eram bons ou
não. Um guarda que estava próximo
considerou o tom das palavras de Jesus como "desacato à autoridade" e desferiu uma bofetada em Jesus. No v.30, se Pilatos
fosse usar da mesma medida de autoridade que aquele soldado do v. 20, os líderes
religiosos é que seriam presos por desacato, pois a resposta deles não foi nada
respeitosa – "Se este homem não fosse malfeitor, não to entregaríamos".
Pilatos respondeu à altura, devolvendo a responsabilidade de julgar Jesus aos
líderes religiosos e apontou que o crivo
de julgamento deveria ser a Lei judaica, visto que tanto os líderes religiosos
como Jesus eram judeus.
Pilatos se esquivou de aplicar a lei romana.
Aquele cenário que se passava fora do pretório era um verdadeiro jogo de
empurra. Cada lado queria "salvar sua pele" e "tirar o corpo
fora" pela morte de Jesus (v.31). Em outras
palavras, Pilatos estava dizendo: "eu
não tenho nada a ver com isso, resolvam vocês". A declaração dos
judeus religiosos apontava para o tipo de castigo que desejavam que fosse
aplicado a Jesus: a pena de morte (v.31,32).
IV.
JESUS É INTERROGADO POR PILATOS PELA PRIMEIRA VEZ (18:33-40)
A
segunda vez que Jesus é interrogado por Pilatos acontece em 19:9-11.
Forçado pelos judeus religiosos, Jesus é levado para dentro do pretório
onde foi interrogado por Pilatos. Analisemos este interrogatório:
Pilatos inicia o interrogatório, entretanto,
vemos que Jesus é quem dirige o rumo do interrogatório. Jesus é Deus e é Ele
quem deve questionar o ser humano, a criatura e não o contrário conforme diz o
profeta Isaias no capítulo 45:9 – "Ai daquele que contende com o seu
Criador! E não passa de um caco de barro entre outros cacos. Acaso dirá o barro
ao que lhe dá forma: que fazes? Ou: a tua obra não tem alça".
Pilatos: v. 33 – És tu o rei dos judeus?
Jesus: v. 34 – não respondeu diretamente
"sim ou não" à pergunta de Pilatos. Como Deus, Jesus não precisava
ficar se explicando. Jesus redarguiu[7]
a Pilatos fazendo outra pergunta que inclui duas possibilidades: 1) Esta
pergunta partiu de você mesmo? OU, 2) você está me perguntando isto porque
outras pessoas disseram a você a meu respeito?
Jesus dominava a arte de responder perguntas. Ele bem sabia que a
pergunta de Pilatos era uma armadilha.
Réplica
de Pilatos: v. 35 – a réplica é a resposta de Pilatos às
perguntas feitas por Jesus no v. 34. A resposta
traz à tona o caráter fraco deste governante. Em outras palavras, Pilatos estava
dizendo que o cunho daquele interrogatório era para cumprir uma obrigação
imposta pelo ofício, visto que ele não era judeu, não tinha conhecimento e nem
lhe interessava saber do quê Jesus era acusado pela liderança religiosa do seu
próprio povo.
Resposta de Jesus: v. 36 – Jesus não se declara Rei, por sua própria boca,
conforme Pilatos queria que fizesse, mas Ele fala indiretamente que, "seu reino não era deste
mundo", ou seja, seu reino não era
terreno, porque se fosse, Ele teria sido aceito e defendido pelos seus. Nesta
resposta, Jesus induz Pilatos à pensar, concluir e gerar uma resposta
conclusiva à pergunta inicial. Essa resposta vinda da própria boca da
autoridade romana não era motivo para condená-LO.
Resposta de Pilatos: v. 37 – Pilatos conclui, volta à pergunta inicial ele
fizera a Jesus e declara em voz audível que "Jesus é Rei". Jesus
afirma que esta declaração vinha da boca de Pilatos.
Ainda neste mesmo versículo, Jesus explica o
motivo pelo qual Ele veio ao mundo: veio para reinar na vida e no coração de
todos quantos O ouvem, obedecem a Sua voz e O professam como seu Senhor. Jesus
também revela que veio para dar testemunho da verdade. Isso gerou uma nova
pergunta instigadora da parte de Pilatos: "Que é a verdade?" (v.38).
Todavia, esta pergunta ficou sem resposta e o interrogatório
cessou. Isso me faz lembrar o Rei Agripa, que após ter ouvido o testemunho de
Paulo a respeito de seu chamado missionário e de sua conversão a Jesus
Cristo (Atos 23). Impressionado, o rei Agripa se
esquivou de crer no evangelho dizendo a Paulo: "Por pouco me persuades a me
fazer cristão" (Atos 26:28).
Quantos Pilatos e Agripas têm deixado para
depois uma decisão tão importante como esta: ouvir e obedecer à voz do Rei e
Salvador Jesus Cristo!
Pilatos não queria saber o que realmente era
"a verdade" e tratou logo de interromper o ciclo de perguntas dando o
seu parecer aos judeus a respeito de Jesus: "Eu não acho nele crime
algum". Pilatos se viu "entre a cruz e a espada", pois
de um lado tinha um homem que a ele não parecia ser alguém periculoso; e, do
outro lado tinha toda uma cúpula de líderes religiosos que esperavam uma ação enérgica
do governador em relação a Jesus, já que eles, como "homens santos"
que eram não podiam se contaminar matando alguém próximo à festa da Páscoa. Era
melhor que a ordem assassina viesse validada por uma instância governamental e
não religiosa.
O relato de João nos vs. 33-38 dá a entender que não havia ninguém mais no
pretório, além de Jesus e Pilatos. Entretanto, Mateus 27:11-14, Marcos 15:1-5 e Lucas 23:1-4 relatam a presença dos principais sacerdotes acusando Jesus o
tempo todo. Relatam também que era um costume do governador conceder a liberdade a um preso ao se aproximar a festa
da Páscoa. João v.39,
informa este costume na pergunta que Pilatos fez aos judeus religiosos e
consulta-os se desejavam que Jesus, o rei dos judeus, fosse solto naquela
ocasião. Agindo assim, Pilatos se coloca numa posição de "falsa
neutralidade" e se exime da responsabilidade. Pilatos agiu com
parcialidade ficando com a maioria, pois esta traria a ele muitas benesses.
Para mim, nessa situação e em tantas outras, a
voz do povo não é a voz de Deus.
Por não ser a voz de Deus, deu no que deu. João
conclui o triste relato informando que sob gritos, Jesus, o Filho de Deus, o
Salvador da humanidade, perdeu a sua liberdade e foi trocado por um bandido (v.40).
V.
CONCLUSÃO
Embora
nos cause tristeza, não é motivo para desanimar e entristecer, porque tudo que aconteceu
estava de acordo com os propósitos divinos e sob o controle de Deus.
Jesus
foi submisso ao Seu Pai e se entregou – "o qual se entregou a si mesmo pelos
nossos pecados, para nos desarraigar[8]
deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai"
(Gálatas 1:4).
No
final, Jesus foi vitorioso sobre a morte. Ele é vitorioso. E, se Jesus venceu,
nós também somos mais que vencedores com Ele! (Romanos 8:31-39).
"Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio
daquele que nos amou" (Romanos
8:37)
[1]
Lição ministrada por Raquel
Alcantara, em 15/novembro/2015, na Classe de Adultos (Livro de João), da
Primeira Igreja Batista de Sobradinho, Brasília-DF.
[2] BRUCE. F. F. João: introdução e comentário. 1ª Edição. São Paulo: Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova e Associação Religiosa Editora Mundo Cristão, 1987.
[3]
LaHAYE, Tim F.. Temperamentos controlados. 2ª Edição
Revisada. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2011 .
[4] MOURA, Josias. Estudo: Temperamentos transformados pela atuação do Espírito Santo.
Disponível em http://descubraessepoder.blogspot.com.br/2011/11/estudo-temperamentos-transformados-pela.html. Acessado em 14.nov.2015 às 14:35.
[5]
PRETÓRIO: o termo pretório
indica o quartel general de um governador militar romano (F.F. Bruce)
[6]
HENDRIKSEN, William. O
evangelho de João. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004.
[7]
Redarguir: significa
argumentar; responder com outra pergunta
[8]
DESARRAIGAR significa
"arrancar pela raiz ou com raízes"(Dicionário Michaelis Online).
Disponível em http://michaelis.uol.com.br . Acessado em 14.nov.2015 às 18:48.
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