segunda-feira, 20 de maio de 2019

A BÊNÇÃO DE SER UM COLABORADOR

A BÊNÇÃO DE SER UM COLABORADOR

 Texto de
Raquel Sueli de Almeida Alcantara da Silva

Brasília, 20 de maio de 2019


A Palavra de Deus é rica em ensinamentos relativos aos colaboradores. O apóstolo Paulo é uma das pessoas que faz questão em saudar e mencionar seus colaboradores. Este ato de reconhecimento que Paulo comumente faz não pode passar desapercebido aos nossos olhos. É muito importante reconhecer e dar a devida honra às pessoas que Deus levanta para serem os nossos colaboradores.
Ser colaborador é ser mais que um ajudador, é ser parte viva e ativa de uma equipe. 
O grande ícone da Fórmula 1 no Brasil, Airton Senna, disse “Eu sou parte de uma equipe. Então, quando venço, não sou eu apenas quem vence. De certa forma, termino o trabalho de um grupo enorme de pessoas”. Muitos de nós lembramos da alegria que Airton proporcionava com as vitórias que conquistava. A vitória e a alegria dele também era a nossa alegria e vitória!
Isaac Newton, o grande gênio da Física e da  Matemática, considerado  o pai da Ciência Moderna e que descobriu o segredo da gravidade, teve a humildade de reconhecer que sozinho, ele não teria chegado onde chegou. Newton diz: “Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes”. Vamos nos inspirar nesta frase de Isaac Newton e aplicá-la à tarefa missionária da Igreja no mundo. Deus tem dado a vocacionados específicos a visão mais além de Jerusalém e Samaria; a visão é para os confins do mundo. Esses que se dispõem a ir aos confins da terra vão realmente chegar lá se houver gigantes que estejam dispostas a colaborar e sustenta-los em seus ombros.
Por fim, apresento o provérbio africano “Se quer ir rápido, vá sozinho. Se  quer ir longe, vá em grupo”. Mais uma vez, vemos a importância dos colaboradores no alcance da Grande Comissão. Um colaborador, como parte integrante da equipe é capaz de impulsionar o missionário e acelerar a tarefa da Igreja, tornando mais abreviada a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.
Neste texto quero destacar quatro maneiras de você ser um colaborador na obra missionária.

    1.  Seja um Intercessor
Muitos colaboradores são como Arão e Hur (Êxodo 17). Eles seguram os nossos braços enquanto estamos na batalha. Por vezes, nossos braços ficam pesados demais para mantê-los em direção aos Céus clamando por vitória. Então, Deus levanta pessoas que se colocam ao nosso lado e ajudam segurando os nossos braços já pesados pelo cansaço, e juntos, chegamos ao Eterno em oração!  


Enquanto estamos na linha de frente, Deus levanta colaboradores dispostos a serem parte da equipe. Precisamos de pessoas que sejam como a igreja primitiva que levantou a sua voz, unânime, em clamor a Deus pela libertação de Pedro e João, presos injustamente por pregarem a Palavra de Deus. O Senhor ouviu e respondeu a oração desses colaboradores intercessores. Os servos de Deus foram libertos de forma tremenda e poderosa (Atos 4).
Em seu livro “A Missão de Interceder: a oração na obra missionária” (pp. 49,51), Durvalina Bezerra[1] diz que “A união na oração deve conduzir-nos à solidariedade, à participação comum na comunidade. Precisamos de parceiros de oração, de pessoas que se unam a nós no combate espiritual, que estejam dispostas a lutar conosco em oração para nos mantermos firmes até o fim [...] O intercessor não é aquele que se enclausura para orar, alheio à sua realidade. Antes, ele é aquele que se coloca na sua torre de vigia (Hc. 2:3)”. Interceder é um ministério, é uma forma que Deus proporciona aos cristãos que, por algum motivo, não podem estar na linha frente, de participar da obra efetiva e significativamente.


     2. Seja um mantenedor financeiro
Seja individualmente ou como instituição, os mantenedores são importantes para o avanço do trabalho de Deus na terra. Conheço, tenho e já ouvi histórias de mantenedores individuais e institucionais que são como a viúva pobre. Mesmo tendo pouco para si mesmos, têm a alegria de colaborar e se negam a deixar de ter este privilégio de participar da obra de Deus com seus recursos financeiro. Louvado seja Deus por esses irmãos! Existem os mantenedores que doam mensalmente, os que doam significativamente em ocasiões especiais e aqueles que preferem o anonimato de suas contribuições, entretanto, a disposição de coração de cada um e o compromisso certamente não são desconhecidos para Deus.
O mantenedor, segundo o apóstolo Paulo, é aquela pessoa ou instituição, que faz bem, ou seja, que faz a coisa certa ao se associar na tribulação dos que necessitam do recurso financeiro. O apóstolo Paulo agradece a igreja dos Filipenses porque ela o socorreu financeiramente não apenas uma, mas duas vezes! Essa igreja contribuiu com tanta liberalidade que o apóstolo chegou a exclamar que ele tinha abundância de recursos e estava suprido. (Filipenses 4:10-20).
Ser mantenedor é ter uma missão. Seja com pouco ou com muito, o mantenedor abençoa e é muito abençoado por Deus, porque à medida que ele dá, Deus retribui generosamente e nunca há falta de nada. Ser mantenedor é ter um coração grato a Deus; é ser disposto a socorrer os necessitados, é obedecer e ser fiel Àquele que é o dono do ouro e da prata (Ageu 2:8).

    3.  Seja um hospedeiro
Por mais simples que seja, é tão bom ter um lugar aprazível para ficar, uma cama aconchegante, uma alimentação simples, pessoas carinhosas e amorosas que abrem seu coração e seu lar pelo prazer de hospedar servos de Deus. Certa vez, meu esposo, minha filha ainda bebezinha e eu participamos com os irmãos de nossa igreja de um congresso que seria realizado em uma igreja no estado de Minas Gerais. Os congressistas foram divididos nas casas dos membros da igreja hospedeira. Fomos os últimos a sair da igreja. Alguém foi nos levar para a casa que ia nos hospedar. Fomos recebidos pela empregada. Passou a tarde e os donos da casa chegaram quase à noite. Para o nosso constrangimento, a senhora da casa foi logo nos dizendo que não podia receber ninguém em sua casa por ser uma pessoa muito ocupada em seu ateliê de artes, o que deixava o seu tempo escasso até para frequentar a igreja. Mas como já tinham nos levado para lá... Que tristeza! Que pobreza de espírito! A casa mostrava ser de pessoas que tinham uma condição financeira muito boa. Não vimos mais a senhora. No domingo à tarde tivemos um tempinho com o esposo e o filho deles, falamos de nosso ministério entre os indígenas. Foi um final de semana solitário, longo e muito constrangedor. Este é um exemplo negativo de “hospedeira”, se é que assim podemos considerar aquela senhora e sua família de hospedeiros. Por outro lado, e graças ao Bom Deus, temos várias experiências ótimas de pessoas que nos hospedaram e ainda continuam nos hospedando com amor em seus lares, em nossas andanças dentro e fora do Brasil.
Abraão, o pai da fé, morava nos carvalhais de Manre, na região de Hebrom. Certo dia, quando o sol estava na hora mais quente do dia, ele viu ao longe três homens bem em frente à sua tenda. Abraão não sabia quem eram aqueles homens, mas cordialmente convidou-os para entrar em seu lar, lavou-lhes os pés cheios de poeira, deu a eles uma farta e deliciosa refeição de carne, coalhada e leite, comida reservada a convidados de honra. Ele não sabia que se tratava do próprio Senhor acompanhado por dois anjos! Abraão foi abençoado com a notícia do cumprimento da promessa que ele tanto aguardava: o nascimento de um filho dele e de Sara (Gênesis 18:1-15).


A hospitalidade é uma ordem expressa na Palavra de Deus – “... praticai a hospitalidade” (Romanos 12:13b). Nas recomendações paulinas ao jovem pastor Timóteo para a escolha das viúvas que a igreja deveria ajudar, a prática da hospitalidade é um dos requisitos que deveria ser levada em consideração (I Timóteo 5:3-16). Possivelmente se referindo à hospitalidade de Abraão, o escritor de Hebreus exorta:  Não vos esqueçais da hospitalidade, pela qual alguns, sem o saberem, hospedaram anjos (Hebreus 13:2).

    4. Seja um divulgador
Ser um divulgador, alguém que é parte da equipe, implica em ser alguém que tem empatia, amor, afinidade, dinamismo e criatividade. Divulgar o trabalho de um missionário ou de instituição missionária requer demanda de convivência a fim de conhecer o trabalho ao ponto de saber repassar a informação com responsabilidade e compromisso à outras pessoas e instituições interessadas. Ser um bom comunicador é importante, todavia, não é tudo. É necessário ao divulgador estar comprometido com a missão, a visão e os valores da obra a que está se dispondo a compartilhar com outras pessoas.
O divulgador é alguém que valoriza a alteridade; alguém disposto a dividir o seu tempo em prol de outros. É um incentivador e o carisma é a sua marca.
Hoje, há várias maneiras de ser um divulgador. Seja presencial ou à distância pelas redes sociais, o divulgador é alguém que valoriza o relacionamento interpessoal nos contatos, pois os interessados podem vir a ser novos colaboradores, tanto como divulgadores como em outras áreas ou, até mesmo, serem despertados para atender ao Ide de Jesus. Eu vejo na pessoa de Barnabé, além de um missionário, alguém que sabia consolar e ao mesmo tempo ser um grande incentivador. Barnabé sabia conquistar as pessoas, depositava sua confiança nelas, fazia com que as pessoas se tornassem preparadas e aprovadas para se engajarem na obra missionária. Barnabé foi um grande divulgador e mobilizador! (Atos 9:26-30; 13:13; 15:36-41; II Timóteo 4:11).

O colaborador: um cuidador da bagagem
A obra de Deus é feita em sistema de cooperação e simultaneidade. Todos, de alguma forma, podem participar aqui, ali, acolá e fazer algo de valor para Deus em Sua obra. Ser um cuidador da bagagem é alguém que, não podendo estar na linha de frente, fica na base participando ativamente para que a obra de Deus não pare.
Em I Samuel 30, duzentos homens não puderam acompanhar Davi e os outros quatrocentos na perseguição aos amalequitas, pois estavam cansados e exauridos de outra batalha. Os amalequitas haviam saqueado a cidade de Ziclague e levado cativos os familiares do povo e do próprio rei Davi.
Davi consultou ao Senhor se deveria ou não perseguir seus inimigos e resgatar os cativos e, se teria ou não êxito. Deus respondeu afirmativamente às duas perguntas. Sob a direção de Deus e a liderança de Davi começaram a perseguição. Aos que estavam impossibilitados de ir para o “front” da guerra, Davi deu ordem para que ficassem ali mesmo para recobrar as forças e  guardar as bagagens. A luta não foi fácil, mas Deus concedeu a vitória. A grande discussão que se formou quando foram repartir os despojos foi resolvida com sabedoria pelo rei.  
Primeiro, Davi fez com que o povo reconhecesse que a vitória foi alcançada não pelos méritos e nem pela força do braço humano, mas pela atuação sobrenatural do SENHOR em guardá-los e entregar nas mãos em suas mãos os amalequitas. Em segundo lugar, Davi pôs a equidade como parâmetro na divisão dos despojos - Porque qual é a parte dos que desceram à peleja, tal será a parte dos que ficaram com a bagagem: receberão partes iguais (v.24).


Ser um colaborador em missão é promover o Reino de Deus na terra. Por isso, tanto os que vão à luta quanto os que ficam guardando a bagagem intercedendo, mantendo financeiramente, hospedando ou divulgando todos receberão partes iguais. Aos colaboradores, a Palavra de Deus assegura que “... Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes  para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos” (Hebreus 6:10).
Louvo a Deus pelos colaboradores que Ele tem levantado nesses 30 anos de nosso ministério no movimento missionário de Tradução da Bíblia. Eles têm sido importantíssimos para que Palavra de Deus chegue mais rapidamente aos confins da terra!  




                                                                                                    




[1] BEZERRA, Durvalina B. A missão de interceder: Oração na obra missionária. Londrina-PR: Editora Descoberta, 2001.

sábado, 16 de março de 2019

INSÔNIA



INSÔNIA



O sono é uma grande bênção. Mas, quem nunca perdeu uma noite de sono? Passar a noite em claro é uma tortura, especialmente quando se tem alguém do seu lado que dorme profundamente. Os minutos se tornam horas, a ansiedade pelo amanhecer se agiganta. O cansaço toma conta do corpo, mas a mente resiste em um turbilhão de pensamentos que fervilham e não param.
Em pesquisas realizadas com vinte pacientes, o psiquiatra e psicoterapeuta Christop Nissen[1], da Universidade de Freiburg, na Alemanha, liderou uma pesquisa para entender o porquê de dormirmos cerca de um terço de nossas vidas, visto que o sono é uma função válida e necessária tanto a humanos quanto a animais. Durante a pesquisa constatou-se que uma noite sem dormir, portanto, de insônia, faz com que o cérebro das pessoas fique mais estimulado, por outro lado o cérebro fica prejudicado quanto à formação de memória.
Nissen destaca que o sono é uma recalibragem do cérebro para o ponto certo de aprendizado e formação de memória. "É como se dormir esvaziasse ou limpasse as conexões no cérebro responsáveis por adquirir novas informações", explica o psiquiatra.
A insônia, portanto, é um distúrbio persistente. Ela afeta o humor, consome as energias, reduz o desempenho no trabalho ou nos estudos, afeta a qualidade de vida da pessoa que em geral costuma ficar comprometida pela insônia.
As causas mais comuns da insônia são: o estresse, a depressão, a ansiedade, doenças, mudança de ambiente ou horário de trabalho, maus hábitos de sono, medicações, cafeína, nicotina e álcool, a idade e alimentação em horário avançado da noite. Pode-se dizer que estes motivos são patológicos, pois provocam alterações no corpo.


A Bíblia relata três reis que perderam noite de sono. Foi durante a insônia que Deus corrigiu injustiças contra seus servos, revelou as glórias e ruínas de reinos, revelou-se como o Altíssimo que tudo criou e tem o controle de todas as coisas. 

A INSÔNIA DO REI ASSUERO

 “Naquela mesma noite, o rei não conseguiu pegar no sono; então mandou buscar o livro em que se escrevia o que acontecia no reino e ordenou que os seus funcionários lessem para ele” (Ester 6:1).
O rei Assuero foi o governante da Pérsia. Seu reino se estendeu sobre dento e vinte e sete províncias, que iam desde a Índia até a Etiópia (Ester 1:1). A primeira esposa de Assuero foi Vasti. Ela foi declinada de seu status após uma insubordinação e desrespeito público contra o rei. Para a escolha de uma nova rainha, foi promovido um concurso de beleza. Por providência divina, Ester foi escolhida pelo rei Assuero e casou-se com ela. Ester era uma jovem judia órfã que foi criada por seu tio Mordecai. Obediente e temente a Deus, Ester foi uma mulher sábia que salvou o seu povo de um genocídio.
A Bíblia nos diz que o após ter participado de um banquete oferecido pela rainha Ester, o rei não conseguiu dormir, por isso, ele ordenou que o livro das Memórias ou Crônicas do reino fosse trazido e lido diante dele. Não sabemos as causas desta insônia, mas sabemos o propósito divino desta insônia: corrigir uma injustiça.

Em certa ocasião, o judeu Mordecai que era tio de Ester, descobriu que dois eunucos planejavam matar o rei. Ele, então, livrou o rei da morte denunciando os traidores. O seu feito foi registrado no livro das Memórias e ficou ali esquecido até a noite da insônia de Assuero.


No dia seguinte, logo pela manhã, o rei tomou providências para corrigir a injustiça, visto que nenhuma honra ou agradecimento fora dada a Mordecai (Ester 6:2,3). O primeiro funcionário que chegou ao palácio foi Hamã, um homem ambicioso e que tramava secretamente a morte dos judeus. O rei pediu uma sugestão a Hamã do que ele poderia fazer para honrar uma pessoa a quem ele muito queria o bem. Em sua mente, Hamã logo concluiu que ele mesmo seria a pessoa homenageada, então caprichou e fez uma descrição minuciosa e pomposa da honra; afinal ele se julgava digno de tal reconhecimento do rei. A ambição de Hamã precedeu a sua primeira ruína. Faltava a ele humildade e sobrava arrogância e ódio contra Mordecai e todo o povo judeu.
Veja o tamanho da ambição de Hamã: E respondeu ao rei: Quanto ao homem a quem agrada ao rei honrá-lo, tragam-se as vestes reais, que o rei costuma usar, e o cavalo em que o rei costuma andar montado, e tenha na cabeça a coroa real; entreguem-se as vestes e o cavalo às mãos dos mais nobres príncipes do rei, e vistam delas aquele a quem o rei deseja honrar; levem-no a cavalo pela praça da cidade e diante dele apregoem: Assim se faz ao homem a quem o rei deseja honrar” (Ester 6:7-9). Mal sabia Hamã que ele mesmo seria o indicado pelo rei para fazer a honra a Mordecai. Deus é justo; Ele humilha os soberbos e os que se exaltam e, exalta os que são humilhados -– “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23:12).
A insônia do rei Assuero veio no momento certo e foi a maneira que Deus usou para corrigir uma injustiça do reino em relação a Mordecai dando honra a quem honra. 


A INSÔNIA DO REI NABUCODONOSOR

“No segundo ano de seu reinado, Nabucodonosor teve sonhos que lhe perturbaram o espírito. E isso a tal ponto que o sono o abandonou.” (Daniel 2:1).

Nabucodonosor, foi rei da Babilônia. Ele era um homem violento, idólatra, assassino cruel e sem qualquer temor a Deus. Ele estava dormindo quando teve um sonho que, de tão terrível, tirou o seu sono e fez com que ele não se lembrasse do que havia acordado. Os sonhos foram o meio que Deus usou para trazer insônia ao ditador e tratar com ele.
No primeiro sonho Deus revelou a grandeza do reino de Nabucodonosor e a divisão de seu reino. Deus representou os fatos através de uma gigantesca estátua. A cabeça representava Nabucodonosor com seu reino poderoso, forte e glorioso. Um segundo reino seria inferior ao dele, um terceiro reino teria domínio sobre toda a terra e um quarto reino seria forte como o ferro ao ponto de quebrar e esmiuçar.



Os sábios, adivinhos e feiticeiros de Nabucodonosor não foram capazes de descrever e interpretar o sonho, por isso o rei ordenou que todos os sábios fossem mortos. Entre os sábios estavam Daniel, Hananias, Misael e Azarias. Esses quatro jovens  foram levados com o povo judeu como cativos para a Babilônia. Entretanto, Deus estava com Daniel,  protegeu a vida dele e de seus amigos.  Na Babilônia estes quatro jovens se tornaram altos funcionários no reino de Nabucodonosor e eram considerados como homens sábios.
Foi a Daniel que Deus revelou o sonho e a interpretação do rei Nabucodonosor e assim, Daniel foi poupado da morte, bem como seus amigos e até os magos da Babilônia. Por um tempo, o rei Nabucodonosor reconheceu o poder e a soberania de Deus, mas infelizmente seu coração se inflamou por saber que era poderoso e aconteceu então o segundo passo de sua ruína. Nabucodonosor mandou construir uma grande estátua com a imagem dele e ordenou que todos do seu reino deveriam reverenciá-lo através da imagem. Daniel e seus amigos se recusaram a obedecer a ordem insana do rei e foram condenados à morte em uma fornalha.
Novamente, Deus livrou a Daniel e seus amigos na fornalha de tal forma que, quando saíram, suas roupas nem cheiravam a fumaça. O rei reconheceu o poder de Deus a quem Daniel e seus amigos serviam. Passado um tempo o rei teve outro sonho. Dessa vez, Deus revelou que o rei seria acometido de uma doença mental que o levaria à loucura até ao ponto de agir e se tornar como um animal do campo. A cura do rei aconteceria quando ele reconhecesse que “... o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens; e o dá a quem quer e até aos mais humildes dos homens constitui sobre eles” (Daniel 4:17). Os sonhos de Nabucodonosor serviram como o cajado de Deus para corrigir a altivez do rei e levá-lo a reconhecer que SÓ O SENHOR É DEUS!


A INSÔNIA DO REI DARIO

“Então, o rei se dirigiu para o seu palácio, passou a noite em jejum e não deixou trazer à sua presença instrumentos de música; e fugiu dele o sono”. (Daniel 6:18)
Dario foi rei da Babilônia após a morte do ímpio rei Belsazar, que era filho de Nabucodonosor. Dario decidiu nomear cento e vinte e sete governadores para as províncias de seu reino e entre os escolhidos estava Daniel.
Daniel se destacou entre os demais  “porque nele havia um espírito excelente. O rei até pensava em colocá-lo sobre todo o reino” (Daniel 6:3). Isso causou ciúmes e inveja entre os presidentes e governadores a tal ponto de começaram a vigiar, perseguir e buscar algo de errado na vida de Daniel que pudesse incriminá-lo e dar um fim à sua carreira diplomática na Babilônia “... mas não conseguiram encontrar esse pretexto, nem culpa alguma, porque ele [Daniel] era fiel, e não se achava nele nenhum erro nem culpa”. (Daniel 6:4). Que testemunho exemplar e maravilhoso dava o governante e político Daniel! É um pesar que hoje são raríssimos os casos iguais a Daniel.
Como não conseguiram atribuir a Daniel qualquer falha ou ato ilícito seus inimigos forjaram uma situação e manipularam a criação de uma lei que proibia todo e qualquer cidadão, num prazo de trinta dias, a fazer “... pedido a qualquer deus ou a qualquer homem e não ao senhor, ó rei” (Daniel 6:7). A pena pela transgressão da lei seria a morte pela dilaceração por meio dos ferozes e famintos leões presos em covas. Sem saber as verdadeiras intenções desses homens, o rei foi convencido a assinar a lei que poderia condenar e eliminar Daniel. A tocaia estava armada para Daniel; era só uma questão de tempo. Bastava vigiar e fazer o flagrante.
Mas não pense que Daniel se abalou. Não! Ele foi para a sua casa e “Em seu quarto, no andar de cima, as janelas abriam para o lado de Jerusalém. Três vezes por dia, ele se punha de joelhos, orava, e dava graças diante do seu Deus, como era o seu costume” (Daniel 6:10).
Penso que, se os algozes tivessem um celular no momento, não hesitariam em registrar a foto condenatória para o auto do processo. Ao verem Daniel orando, foram logo contar ao rei, que muito se entristeceu e tentou até ao pôr do sol livrar o seu amigo da morte. Uma vez assinada e publicada, a lei não podia ser revogada; além disso, os traidores exerciam forte pressão sobre o rei. Dario foi forçado a mandar que Daniel fosse jogado na cova dos leões. Uma verdadeira injustiça!
Tal decisão real fez com que o rei não conseguisse dormir naquela noite. Logo de manhã, ainda triste, mas com uma certa esperança, pois sabia da fé de Daniel, o rei foi até a cova e perguntou: “Daniel, servo do Deus vivo! Será que o seu Deus, a quem você serve continuamente, conseguiu livrá-lo dos leões?” (Daniel 6:20). Para a sua alegria, Dario ouviu Daniel lá de dentro da cova: Que o rei viva eternamente! O meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca dos leões, para que não me fizessem mal algum. Porque fui considerado inocente diante dele. E também não cometi nenhum delito contra o senhor, ó rei”. (Daniel 6:21).



O rei Dario corrigiu a injustiça contra o servo de Deus. A nova ordem real foi que se lançassem na cova dos leões os acusadores de Daniel, suas mulheres e filhos.
O rei Dario reconheceu a soberania de Deus e deu glórias ao Deus Eterno. Quanto a Daniel o Senhor o fez prosperar no reinado de Dario e de Ciro que se seguiu. 


A MINHA E A TUA INSÔNIA


No caso de Dario, a insônia foi motivada pelo estresse de ver o amigo condenado à morte por um decreto assinado por ele sem saber que o mesmo afetaria Daniel. Também serviu para corrigir uma grande injustiça. Nos casos de Assuero e Nabucodonozor, a insônia foi uma intervenção divina a fim de corrigir injustiças contra os servos de Deus e colocar um limite à autossuficiência humana.
Como eu, penso que você também já teve algum dia de insônia e nem sempre sabemos a causa, mas pessoalmente considero a insônia como um  momento estratégico que Deus usa levar-nos mais para perto DELE através da oração ou para nos trazer à mente e coração lembranças, pecados não confessados e até mesmo a necessidade de restaurar possíveis relacionamentos rompidos. Se somos a parte ofendida, o melhor a se fazer é orar pelo ofensor, não endurecer o coração, mas perdoar. Se somos o ofensor a atitude correta é o quebrantamento e a busca pela reconciliação. Ao ofendido e ao ofensor, o conselho é “não resista”;  pois além de não ser inteligente, é uma atitude de soberba porque, “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tiago 4:6).



É até irônico afirmar, mas a insônia pode ter efeito curativo. Portanto, é recomendável seguir o conselho divino: “... consultai no travesseiro o coração e sossegai” (Salmo 4:4b). Enquanto dormimos, Deus trabalha por nós na maneira DELE e no tempo DELE.


Raquel Sueli de Almeida Alcantara da Silva
Vitória da Conquista, 16 de março de 2019


[1] A ciência do sono: o que acontece com o cérebro enquanto dormimos. Disponível em https://canaltech.com.br/entretenimento/a-ciencia-do-sono-o-que-acontece-com-o-cerebro-enquanto-dormimos-77799/. Acessado em 16.mar.2019 às 08h05min.

sábado, 2 de março de 2019

Até o mar se recolhe!


ATÉ O MAR SE RECOLHE!


Raquel Sueli de Almeida Alcantara da Silva


Este texto nasceu durante uma caminhada. É uma  reflexão sobre o cuidado integral do missionário.  
De meados de fevereiro a meados de março, meu esposo e eu estaremos em Nova Viçosa, litoral da Bahia. Viemos para fazer companhia e servir uma missionária de 93 anos enquanto a amiga dela, também missionária, está lecionando Antropologia Cultural no curso de formação de missionários em Brasília-DF, na Missão ALEM.  
Diariamente, pela manhã, tenho caminhado na praia por quase duas horas. Tem sido um momento de solitude com Deus, de apreciação da natureza e de exercício físico.
Hoje presenciei algo espetacular. Ao chegar na praia vi o mar bem distante, recolhido e uma enorme faixa de areia ao longo da costa. Incrível o fenômeno! Fui andando pelo enorme banco de areia, com certo temor porque o gigante poderia voltar, mas ao mesmo tempo pensando na maravilha que estava diante dos meus olhos e buscando entender o que isso poderia me ensinar. Foi então que veio à minha mente o título deste texto e a ligação deste fenômeno com a necessidade que o missionário tem de se recolher em certas ocasiões.
Continuei andando e observando que em determinados lugares, o gigante começava a retornar lentamente para os limites que Deus impôs a ele. Assim como o mar vez ou outra se recolhe, nós missionários também precisamos nos recolher, dar um tempo ao labor a fim de recarregar as energias. E como isso é difícil para nós!
O sentimento de urgência que o trabalho requer, a ideia de que um tempo para se recolher e descansar pode ser interpretado como “corpo mole” por pessoas que não conhecem a nossa exaustiva rotina e embates diretos e constantes com o inimigo no Ministério, o pensamento de que não somos merecedores de “regalias”, o autoflagelo de que precisamos ter sempre a agenda cheia de compromissos, porque afinal é isso que esperam de nós. Tudo isso e muitos outros motivos nos levam a negligenciar o que o sábio diz em Eclesiastes 9:10 Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma”.
Nós missionários, bem sabemos que o nosso corpo fala, alerta e até clama por um recolhimento ou arrefecimento das atividades do dia a dia, mas costumamos adiar e fazer-nos surdos aos alertas até que, o corpo entra em colapso. Nós missionários não somos de ferro. Somos tão humanos quanto qualquer outro membro do Corpo de Cristo. O recolhimento para descansar não é luxo, não é só para quem pode, mas para todos quantos necessitam.
Nosso amado Mestre Jesus Cristo nos ensina pelo exemplo que há momentos em que precisamos nos recolher, ficarmos sozinhos para orar, para meditar, para apreciar a natureza e deixar Deus falar conosco – “Sendo dia, saiu para um lugar deserto... Partindo Jesus dali, foi para junto do Mar da Galileia; e, subindo ao monte, assentou-se ali”  (Lucas 4:42a; Mateus 15:29). É o que tenho feito nestes preciosos dias e recomendo o mesmo para todos os missionários, especialmente àqueles que são “workaholic”, ou seja, compulsivos por trabalho.
E quando o missionário tem dificuldade de dizer não, de parar e se recolher para descansar? Com certeza existem pessoas que estão observando o missionário e algumas até gostariam de sugerir que ele descanse. Meu conselho para essas pessoas e igrejas mantenedoras, enviadoras ou  intercessoras é que não se omitam em dizer e proporcionar para o missionário tais momentos de merecido descanso. Isso é parceria!
A cobrança por resultados rápidos ou imediatos e a desconsideração pelo limite físico, espiritual e emocional do missionário só contribuem para o seu esgotamento e saída do campo precocemente, e pior, sob um sentimento de frustração e de abandono. Se nós carregamos nossos celulares algumas vezes ao dia para mantê-lo funcionando e conectando-nos com o mundo, porque não deveriam os missionários receber cargas de energia durante o ano?
Quando eu voltei da caminhada, vi que em alguns lugares o mar ainda não havia voltado de seu recolhimento e isso me fez pensar que os períodos de recolhimento para descanso do missionário devem ser de acordo com a necessidade de cada um. Cada corpo e mente responde de maneira subjetiva. Deus respeita a necessidade individual das pessoas. Ele nos criou e sabe o tempo que cada corpo leva para se refazer. Deus não apressa, não atropela e nem interrompe, pelo contrário, Ele sabe esperar e, enquanto espera, Deus sustenta e nunca nos abandona.
O mar continua lá forte, vivo e nos abençoando com seu espetáculo que encanta. Nós missionários continuamos aqui também vivos e prontos para ir, mas restaurados. Nós somos a igreja indivíduo onde a igreja instituição não consegue chegar. Concluo minha reflexão com a inspiradora frase do pai das Missões Modernas, William Carey, missionário tradutor da Bíblia na Índia, no século 18 – “A Índia é uma mina de ouro. Eu vou descer e cavar, mas vocês devem segurar as cordas”.

Nova Viçosa-BA, 02 de março de 2019.