A BÊNÇÃO DE SER UM COLABORADOR
Texto de
Raquel Sueli de Almeida Alcantara da Silva
Brasília, 20 de maio de 2019
A Palavra de Deus é rica em
ensinamentos relativos aos colaboradores. O apóstolo Paulo é uma das pessoas
que faz questão em saudar e mencionar seus colaboradores. Este ato de reconhecimento
que Paulo comumente faz não pode passar desapercebido aos nossos olhos. É muito
importante reconhecer e dar a devida honra às pessoas que Deus levanta para
serem os nossos colaboradores.
O grande ícone da Fórmula 1
no Brasil, Airton Senna, disse “Eu sou
parte de uma equipe. Então, quando venço, não sou eu apenas quem vence. De
certa forma, termino o trabalho de um grupo enorme de pessoas”. Muitos de nós
lembramos da alegria que Airton proporcionava com as vitórias que conquistava.
A vitória e a alegria dele também era a nossa alegria e vitória!
Isaac Newton, o grande gênio da Física e da Matemática, considerado o pai da Ciência Moderna e que descobriu o
segredo da gravidade, teve a humildade de reconhecer que sozinho, ele não teria
chegado onde chegou. Newton diz: “Se
eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes”. Vamos
nos inspirar nesta frase de Isaac Newton e aplicá-la à tarefa missionária da
Igreja no mundo. Deus tem dado a vocacionados específicos a visão mais além de Jerusalém
e Samaria; a visão é para os confins do mundo. Esses que se dispõem a ir aos
confins da terra vão realmente chegar lá se houver gigantes que estejam
dispostas a colaborar e sustenta-los em seus ombros.
Por fim, apresento o provérbio africano
“Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer
ir longe, vá em grupo”. Mais uma vez, vemos a importância dos
colaboradores no alcance da Grande Comissão. Um colaborador, como parte
integrante da equipe é capaz de impulsionar o missionário e acelerar a tarefa
da Igreja, tornando mais abreviada a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.
Neste texto quero destacar quatro
maneiras de você ser um colaborador na obra missionária.
1. Seja um Intercessor
Muitos colaboradores são como Arão e
Hur (Êxodo 17). Eles seguram os nossos braços enquanto estamos na batalha. Por
vezes, nossos braços ficam pesados demais para mantê-los em direção aos Céus
clamando por vitória. Então, Deus levanta pessoas que se colocam ao nosso lado e ajudam segurando os nossos braços já
pesados pelo cansaço, e juntos, chegamos ao Eterno em oração!
Enquanto estamos na linha de frente,
Deus levanta colaboradores dispostos a serem parte da equipe. Precisamos de pessoas
que sejam como a igreja primitiva que levantou a sua voz, unânime, em clamor a
Deus pela libertação de Pedro e João, presos injustamente por pregarem a Palavra
de Deus. O Senhor ouviu e respondeu a oração desses colaboradores intercessores.
Os servos de Deus foram libertos de forma tremenda e poderosa (Atos 4).
Em seu livro “A Missão de Interceder: a
oração na obra missionária” (pp. 49,51), Durvalina Bezerra[1] diz que “A união na oração
deve conduzir-nos à solidariedade, à participação comum na comunidade.
Precisamos de parceiros de oração, de pessoas que se unam a nós no combate
espiritual, que estejam dispostas a lutar conosco em oração para nos mantermos
firmes até o fim [...] O intercessor não é aquele que se enclausura para orar,
alheio à sua realidade. Antes, ele é aquele que se coloca na sua torre de vigia (Hc. 2:3)”. Interceder é um
ministério, é uma forma que Deus proporciona aos cristãos que, por algum
motivo, não podem estar na linha frente, de participar da obra efetiva e
significativamente.
2. Seja um mantenedor financeiro
Seja individualmente ou como
instituição, os mantenedores são importantes para o avanço do trabalho de Deus
na terra. Conheço, tenho e já ouvi histórias de mantenedores individuais e
institucionais que são como a viúva pobre. Mesmo tendo pouco para si mesmos,
têm a alegria de colaborar e se negam a deixar de ter este privilégio de
participar da obra de Deus com seus recursos financeiro. Louvado seja Deus por
esses irmãos! Existem os mantenedores que doam mensalmente, os que doam significativamente
em ocasiões especiais e aqueles que preferem o anonimato de suas contribuições,
entretanto, a disposição de coração de cada um e o compromisso certamente não
são desconhecidos para Deus.
O mantenedor, segundo o apóstolo Paulo,
é aquela pessoa ou instituição, que faz bem, ou seja, que faz a coisa certa ao se associar na tribulação dos que necessitam do
recurso financeiro. O apóstolo Paulo agradece a igreja dos Filipenses
porque ela o socorreu financeiramente não apenas uma, mas duas vezes! Essa
igreja contribuiu com tanta liberalidade que o apóstolo chegou a exclamar que
ele tinha abundância de recursos e estava suprido. (Filipenses 4:10-20).
Ser mantenedor é ter uma missão. Seja
com pouco ou com muito, o mantenedor abençoa e é muito abençoado por Deus,
porque à medida que ele dá, Deus retribui generosamente e nunca há falta de
nada. Ser mantenedor é ter um coração grato a Deus; é ser disposto a socorrer os
necessitados, é obedecer e ser fiel Àquele que é o dono do ouro e da prata (Ageu
2:8).
3. Seja um hospedeiro
Por mais simples que seja, é tão bom ter
um lugar aprazível para ficar, uma cama aconchegante, uma alimentação simples,
pessoas carinhosas e amorosas que abrem seu coração e seu lar pelo prazer de
hospedar servos de Deus. Certa vez, meu esposo, minha filha ainda bebezinha e
eu participamos com os irmãos de nossa igreja de um congresso que seria
realizado em uma igreja no estado de Minas Gerais. Os congressistas foram
divididos nas casas dos membros da igreja hospedeira. Fomos os últimos a sair
da igreja. Alguém foi nos levar para a casa que ia nos hospedar. Fomos
recebidos pela empregada. Passou a tarde e os donos da casa chegaram quase à
noite. Para o nosso constrangimento, a senhora da casa foi logo nos dizendo que
não podia receber ninguém em sua casa por ser uma pessoa muito ocupada em seu
ateliê de artes, o que deixava o seu tempo escasso até para frequentar a
igreja. Mas como já tinham nos levado para lá... Que tristeza! Que pobreza de
espírito! A casa mostrava ser de pessoas que tinham uma condição financeira
muito boa. Não vimos mais a senhora. No domingo à tarde tivemos um tempinho com
o esposo e o filho deles, falamos de nosso ministério entre os indígenas. Foi
um final de semana solitário, longo e muito constrangedor. Este é um exemplo
negativo de “hospedeira”, se é que assim podemos considerar aquela senhora e
sua família de hospedeiros. Por outro lado, e graças ao Bom Deus, temos várias
experiências ótimas de pessoas que nos hospedaram e ainda continuam nos
hospedando com amor em seus lares, em nossas andanças dentro e fora do Brasil.
Abraão, o pai da fé, morava
nos carvalhais de Manre, na região de Hebrom. Certo dia, quando o sol estava na
hora mais quente do dia, ele viu ao longe três homens bem em frente à sua tenda.
Abraão não sabia quem eram aqueles homens, mas cordialmente convidou-os para
entrar em seu lar, lavou-lhes os pés cheios de poeira, deu a eles uma farta e
deliciosa refeição de carne, coalhada e leite, comida reservada a convidados de
honra. Ele não sabia que se tratava do próprio Senhor acompanhado por dois
anjos! Abraão foi abençoado com a notícia do cumprimento da promessa que ele
tanto aguardava: o nascimento de um filho dele e de Sara (Gênesis 18:1-15).
A hospitalidade é uma ordem expressa na
Palavra de Deus – “... praticai a
hospitalidade” (Romanos 12:13b). Nas
recomendações paulinas ao jovem pastor Timóteo para a escolha das viúvas que a
igreja deveria ajudar, a prática da hospitalidade é um dos requisitos que
deveria ser levada em consideração (I Timóteo 5:3-16). Possivelmente se
referindo à hospitalidade de Abraão, o escritor de Hebreus exorta: “ Não
vos esqueçais da hospitalidade, pela qual alguns, sem o saberem, hospedaram anjos” (Hebreus 13:2).
4. Seja um divulgador
Ser
um divulgador, alguém que é parte da equipe, implica em ser alguém que tem empatia,
amor, afinidade, dinamismo e criatividade. Divulgar o trabalho de um
missionário ou de instituição missionária requer demanda de convivência a fim
de conhecer o trabalho ao ponto de saber repassar a informação com
responsabilidade e compromisso à outras pessoas e instituições interessadas. Ser
um bom comunicador é importante, todavia, não é tudo. É necessário ao divulgador
estar comprometido com a missão, a visão e os valores da obra a que está se
dispondo a compartilhar com outras pessoas.
O
divulgador é alguém que valoriza a alteridade; alguém disposto a dividir o seu
tempo em prol de outros. É um incentivador e o carisma é a sua marca.
Hoje,
há várias maneiras de ser um divulgador. Seja presencial ou à distância pelas
redes sociais, o divulgador é alguém que valoriza o relacionamento interpessoal
nos contatos, pois os interessados podem vir a ser novos colaboradores, tanto
como divulgadores como em outras áreas ou, até mesmo, serem despertados para atender
ao Ide de Jesus. Eu vejo na pessoa de Barnabé, além de um missionário, alguém
que sabia consolar e ao mesmo tempo ser um grande incentivador. Barnabé sabia
conquistar as pessoas, depositava sua confiança nelas, fazia com que as pessoas
se tornassem preparadas e aprovadas para se engajarem na obra missionária. Barnabé
foi um grande divulgador e mobilizador! (Atos 9:26-30; 13:13; 15:36-41; II
Timóteo 4:11).
O colaborador: um
cuidador da bagagem
A obra de Deus é feita em sistema de
cooperação e simultaneidade. Todos, de alguma forma, podem participar aqui,
ali, acolá e fazer algo de valor para Deus em Sua obra. Ser um cuidador da
bagagem é alguém que, não podendo estar na linha de frente, fica na base
participando ativamente para que a obra de Deus não pare.
Em I Samuel 30, duzentos homens não
puderam acompanhar Davi e os outros quatrocentos na perseguição aos
amalequitas, pois estavam cansados e exauridos de outra batalha. Os amalequitas
haviam saqueado a cidade de Ziclague e levado cativos os familiares do povo e do
próprio rei Davi.
Davi consultou ao
Senhor se deveria ou não perseguir seus inimigos e resgatar os cativos e, se
teria ou não êxito. Deus respondeu afirmativamente às duas perguntas. Sob a
direção de Deus e a liderança de Davi começaram a perseguição. Aos que estavam
impossibilitados de ir para o “front” da guerra, Davi deu ordem para que ficassem
ali mesmo para recobrar as forças e
guardar as bagagens. A luta não foi fácil, mas Deus concedeu a vitória. A
grande discussão que se formou quando foram repartir os despojos foi resolvida com
sabedoria pelo rei.
Primeiro, Davi fez
com que o povo reconhecesse que a vitória foi alcançada não pelos méritos e nem
pela força do braço humano, mas pela atuação sobrenatural do SENHOR em guardá-los
e entregar nas mãos em suas mãos os amalequitas. Em segundo lugar, Davi pôs a equidade
como parâmetro na divisão dos despojos - Porque
qual é a parte dos que desceram à peleja, tal será a parte dos que ficaram com
a bagagem: receberão partes iguais” (v.24).
Ser um colaborador em
missão é promover o Reino de Deus na terra. Por isso, tanto os que vão à luta quanto
os que ficam guardando a bagagem intercedendo, mantendo financeiramente, hospedando
ou divulgando todos receberão partes iguais. Aos colaboradores, a Palavra de
Deus assegura que “... Deus não é injusto
para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda
servis aos santos” (Hebreus 6:10).
Louvo a Deus pelos colaboradores
que Ele tem levantado nesses 30 anos de nosso ministério no movimento missionário
de Tradução da Bíblia. Eles têm sido importantíssimos para que Palavra de Deus
chegue mais rapidamente aos confins da terra!
[1]
BEZERRA, Durvalina B. A missão de interceder: Oração na obra missionária.
Londrina-PR: Editora Descoberta, 2001.