INSÔNIA
O sono é
uma grande bênção. Mas, quem nunca perdeu uma noite de sono? Passar a noite em
claro é uma tortura, especialmente quando se tem alguém do seu lado que dorme
profundamente. Os minutos se tornam horas, a ansiedade pelo amanhecer se
agiganta. O cansaço toma conta do corpo, mas a mente resiste em um turbilhão de
pensamentos que fervilham e não param.
Em
pesquisas realizadas com vinte pacientes, o psiquiatra e psicoterapeuta Christop Nissen[1],
da Universidade de Freiburg, na Alemanha, liderou uma pesquisa para entender o
porquê de dormirmos cerca de um terço de nossas vidas, visto que o sono é
uma função válida e necessária tanto a humanos quanto a animais. Durante a
pesquisa constatou-se que uma noite sem dormir, portanto, de insônia, faz com
que o cérebro das pessoas fique mais estimulado, por outro lado o cérebro fica prejudicado
quanto à formação de memória.
Nissen destaca que o sono é uma
recalibragem do cérebro para o ponto certo de aprendizado e formação de
memória. "É como se dormir esvaziasse ou limpasse as conexões no cérebro
responsáveis por adquirir novas informações", explica o psiquiatra.
A insônia,
portanto, é um distúrbio persistente. Ela afeta o humor, consome as
energias, reduz o desempenho no trabalho ou nos estudos, afeta a qualidade de
vida da pessoa que em geral costuma ficar comprometida pela insônia.
As causas mais comuns da insônia são: o estresse, a depressão, a
ansiedade, doenças, mudança de ambiente ou horário de trabalho, maus hábitos de
sono, medicações, cafeína, nicotina e álcool, a idade e alimentação em horário
avançado da noite. Pode-se dizer que estes motivos são patológicos, pois
provocam alterações no corpo.
A Bíblia relata três reis que perderam noite de sono. Foi durante a insônia
que Deus corrigiu injustiças contra seus servos, revelou as glórias e ruínas de
reinos, revelou-se como o Altíssimo que tudo criou e tem o controle de todas as
coisas.
A INSÔNIA DO REI ASSUERO
“Naquela mesma noite, o rei não conseguiu pegar no
sono; então mandou buscar o livro em que se
escrevia o que acontecia no reino e ordenou que os seus funcionários lessem
para ele” (Ester 6:1).
O rei Assuero foi o governante da Pérsia. Seu reino se
estendeu sobre dento e vinte e sete províncias, que iam desde a Índia até a
Etiópia (Ester 1:1). A primeira esposa de Assuero foi Vasti. Ela foi declinada
de seu status após uma insubordinação e desrespeito público contra o rei. Para
a escolha de uma nova rainha, foi promovido um concurso de beleza. Por
providência divina, Ester foi escolhida pelo rei Assuero e casou-se com ela. Ester
era uma jovem judia órfã que foi criada por seu tio Mordecai. Obediente e
temente a Deus, Ester foi uma mulher sábia que salvou o seu povo de um
genocídio.
A Bíblia nos diz que o após ter participado de um banquete oferecido pela
rainha Ester, o rei não conseguiu dormir, por isso, ele ordenou que o livro das
Memórias ou Crônicas do reino fosse trazido e lido diante dele. Não sabemos as
causas desta insônia, mas sabemos o propósito divino desta insônia: corrigir uma
injustiça.
Em certa ocasião, o judeu Mordecai que era tio de Ester, descobriu que
dois eunucos planejavam matar o rei. Ele, então, livrou o rei da morte
denunciando os traidores. O seu feito foi registrado no livro das Memórias e
ficou ali esquecido até a noite da insônia de Assuero.
No dia seguinte, logo pela manhã, o rei tomou providências para corrigir
a injustiça, visto que nenhuma honra ou agradecimento fora dada a Mordecai
(Ester 6:2,3). O primeiro funcionário que chegou ao palácio foi Hamã, um homem
ambicioso e que tramava secretamente a morte dos judeus. O rei pediu uma
sugestão a Hamã do que ele poderia fazer para honrar uma pessoa a quem ele
muito queria o bem. Em sua mente, Hamã logo concluiu que ele mesmo seria a pessoa
homenageada, então caprichou e fez uma descrição minuciosa e pomposa da honra;
afinal ele se julgava digno de tal reconhecimento do rei. A ambição de Hamã
precedeu a sua primeira ruína. Faltava a ele humildade e sobrava arrogância e
ódio contra Mordecai e todo o povo judeu.
Veja o tamanho da ambição de Hamã: “E respondeu ao rei: Quanto ao homem a quem agrada
ao rei honrá-lo, tragam-se as vestes reais, que o rei costuma usar, e o
cavalo em que o rei costuma andar montado, e tenha na cabeça a coroa
real; entreguem-se as vestes e o cavalo às mãos dos mais nobres príncipes
do rei, e vistam delas aquele a quem o rei deseja honrar; levem-no a cavalo
pela praça da cidade e diante dele apregoem: Assim se faz ao homem a quem o rei
deseja honrar” (Ester 6:7-9). Mal sabia Hamã que ele mesmo
seria o indicado pelo rei para fazer a honra a Mordecai. Deus é justo; Ele
humilha os soberbos e os que se exaltam e, exalta os que são humilhados -– “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado;
e quem a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23:12).
A insônia do
rei Assuero veio no momento certo e foi a maneira que Deus
usou para corrigir uma injustiça do reino em relação a Mordecai dando honra a
quem honra.
A INSÔNIA DO REI NABUCODONOSOR
“No
segundo ano de seu reinado, Nabucodonosor teve sonhos que lhe perturbaram o
espírito. E isso a tal ponto que o sono o abandonou.”
(Daniel 2:1).
Nabucodonosor, foi rei da Babilônia. Ele era um
homem violento, idólatra, assassino cruel e sem qualquer temor a Deus. Ele
estava dormindo quando teve um sonho que, de tão terrível, tirou o seu sono e
fez com que ele não se lembrasse do que havia acordado. Os sonhos foram o meio
que Deus usou para trazer insônia ao ditador e tratar com ele.
No primeiro sonho Deus revelou a grandeza do reino
de Nabucodonosor e a divisão de seu reino. Deus representou os fatos através de
uma gigantesca estátua. A cabeça representava Nabucodonosor com seu reino
poderoso, forte e glorioso. Um segundo reino seria inferior ao dele, um
terceiro reino teria domínio sobre toda a terra e um quarto reino seria forte
como o ferro ao ponto de quebrar e esmiuçar.
Os sábios, adivinhos e feiticeiros de Nabucodonosor
não foram capazes de descrever e interpretar o sonho, por isso o rei ordenou
que todos os sábios fossem mortos. Entre os sábios estavam Daniel, Hananias,
Misael e Azarias. Esses quatro jovens foram
levados com o povo judeu como cativos para a Babilônia. Entretanto, Deus estava
com Daniel, protegeu a vida dele e de
seus amigos. Na Babilônia estes quatro
jovens se tornaram altos funcionários no reino de Nabucodonosor e eram
considerados como homens sábios.
Foi a Daniel que Deus revelou o sonho e a
interpretação do rei Nabucodonosor e assim, Daniel foi poupado da morte, bem
como seus amigos e até os magos da Babilônia. Por um tempo, o rei Nabucodonosor
reconheceu o poder e a soberania de Deus, mas infelizmente seu coração se
inflamou por saber que era poderoso e aconteceu então o segundo passo de sua
ruína. Nabucodonosor mandou construir uma grande estátua com a imagem dele e
ordenou que todos do seu reino deveriam reverenciá-lo através da imagem. Daniel
e seus amigos se recusaram a obedecer a ordem insana do rei e foram condenados à
morte em uma fornalha.
Novamente, Deus livrou a Daniel e seus amigos na
fornalha de tal forma que, quando saíram, suas roupas nem cheiravam a fumaça. O
rei reconheceu o poder de Deus a quem Daniel e seus amigos serviam. Passado um
tempo o rei teve outro sonho. Dessa vez, Deus revelou que o rei seria acometido
de uma doença mental que o levaria à loucura até ao ponto de agir e se tornar
como um animal do campo. A cura do rei aconteceria quando ele reconhecesse que “...
o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens; e o dá a quem quer e até aos
mais humildes dos homens constitui sobre eles” (Daniel 4:17). Os sonhos de Nabucodonosor serviram como o cajado de
Deus para corrigir a altivez do rei e levá-lo a reconhecer que SÓ O SENHOR É
DEUS!
A INSÔNIA DO REI DARIO
“Então, o rei se
dirigiu para o seu palácio, passou a noite em jejum e não deixou trazer à sua
presença instrumentos de música; e fugiu dele o sono”. (Daniel 6:18)
Dario foi rei da Babilônia após a morte do ímpio rei Belsazar, que era
filho de Nabucodonosor. Dario decidiu nomear cento e vinte e sete governadores
para as províncias de seu reino e entre os escolhidos estava Daniel.
Daniel se destacou entre os demais “porque nele havia um
espírito excelente. O rei até pensava em colocá-lo sobre todo o reino” (Daniel 6:3). Isso
causou ciúmes e inveja entre os presidentes e governadores a tal ponto de
começaram a vigiar, perseguir e buscar algo de errado na vida de Daniel que
pudesse incriminá-lo e dar um fim à sua carreira diplomática na Babilônia “...
mas não conseguiram encontrar esse pretexto, nem culpa alguma, porque ele
[Daniel] era fiel, e não se achava nele nenhum erro nem culpa”. (Daniel
6:4). Que testemunho exemplar e maravilhoso dava o governante e político
Daniel! É um pesar que hoje são raríssimos os casos iguais a Daniel.
Como não
conseguiram atribuir a Daniel qualquer falha ou ato ilícito seus inimigos
forjaram uma situação e manipularam a criação de uma lei que proibia todo e
qualquer cidadão, num prazo de trinta dias, a fazer “... pedido a qualquer deus ou a
qualquer homem e não ao senhor, ó rei” (Daniel 6:7). A pena pela
transgressão da lei seria a morte pela dilaceração por meio dos ferozes e
famintos leões presos em covas. Sem saber as verdadeiras intenções desses
homens, o rei foi convencido a assinar a lei que poderia condenar e eliminar
Daniel. A tocaia estava armada para Daniel; era só uma questão de tempo.
Bastava vigiar e fazer o flagrante.
Mas não
pense que Daniel se abalou. Não! Ele foi para a sua casa e “Em seu quarto, no andar de cima,
as janelas abriam para o lado de Jerusalém. Três vezes por dia, ele se punha de
joelhos, orava, e dava graças diante do seu Deus, como era o seu costume”
(Daniel 6:10).
Penso
que, se os algozes tivessem um celular no momento, não hesitariam em registrar
a foto condenatória para o auto do processo. Ao verem Daniel orando, foram logo
contar ao rei, que muito se entristeceu e tentou até ao pôr do sol livrar o seu
amigo da morte. Uma vez assinada e publicada, a lei não podia ser revogada; além
disso, os traidores exerciam forte pressão sobre o rei. Dario foi forçado a
mandar que Daniel fosse jogado na cova dos leões. Uma verdadeira injustiça!
Tal
decisão real fez com que o rei não conseguisse dormir naquela noite. Logo de
manhã, ainda triste, mas com uma certa esperança, pois sabia da fé de Daniel, o
rei foi até a cova e perguntou: “Daniel, servo do Deus vivo! Será que o seu
Deus, a quem você serve continuamente, conseguiu livrá-lo dos leões?”
(Daniel 6:20). Para a sua alegria, Dario ouviu Daniel lá de dentro da cova: “Que o rei viva eternamente! O meu Deus enviou o seu anjo e
fechou a boca dos leões, para que não me fizessem mal algum. Porque fui
considerado inocente diante dele. E também não cometi nenhum delito contra o
senhor, ó rei”. (Daniel 6:21).
O rei Dario
corrigiu a injustiça contra o servo de Deus. A nova ordem real foi que se lançassem
na cova dos leões os acusadores de Daniel, suas mulheres e filhos.
O rei Dario reconheceu a soberania de Deus e deu glórias ao Deus Eterno.
Quanto a Daniel o Senhor o fez prosperar no reinado de Dario e de Ciro que se seguiu.
A MINHA E A TUA INSÔNIA
No caso de Dario, a insônia foi motivada pelo estresse de ver o amigo
condenado à morte por um decreto assinado por ele sem saber que o mesmo
afetaria Daniel. Também serviu para corrigir uma grande injustiça. Nos casos de
Assuero e Nabucodonozor, a insônia foi uma intervenção divina a fim de corrigir
injustiças contra os servos de Deus e colocar um limite à autossuficiência
humana.
Como eu, penso que você também já teve algum dia de insônia e nem sempre sabemos a causa, mas pessoalmente considero a insônia como um momento estratégico que Deus usa levar-nos
mais para perto DELE através da oração ou para nos trazer à mente e coração
lembranças, pecados não confessados e até mesmo a necessidade de restaurar
possíveis relacionamentos rompidos. Se somos a parte ofendida, o melhor a se
fazer é orar pelo ofensor, não endurecer o coração, mas perdoar. Se somos o
ofensor a atitude correta é o quebrantamento e a busca pela reconciliação. Ao
ofendido e ao ofensor, o conselho é “não resista”; pois além de não ser inteligente, é uma
atitude de soberba porque, “Deus resiste
aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tiago 4:6).
É até irônico afirmar, mas a insônia pode ter efeito curativo. Portanto,
é recomendável seguir o conselho divino: “...
consultai no travesseiro o coração e
sossegai” (Salmo 4:4b). Enquanto dormimos, Deus trabalha por nós na maneira DELE e no tempo DELE.
Raquel Sueli de Almeida Alcantara da Silva
Vitória da Conquista, 16 de março de 2019
[1]
A ciência do sono: o que acontece com o cérebro enquanto dormimos. Disponível
em https://canaltech.com.br/entretenimento/a-ciencia-do-sono-o-que-acontece-com-o-cerebro-enquanto-dormimos-77799/.
Acessado em 16.mar.2019 às 08h05min.
Nenhum comentário:
Postar um comentário