sábado, 16 de março de 2019

INSÔNIA



INSÔNIA



O sono é uma grande bênção. Mas, quem nunca perdeu uma noite de sono? Passar a noite em claro é uma tortura, especialmente quando se tem alguém do seu lado que dorme profundamente. Os minutos se tornam horas, a ansiedade pelo amanhecer se agiganta. O cansaço toma conta do corpo, mas a mente resiste em um turbilhão de pensamentos que fervilham e não param.
Em pesquisas realizadas com vinte pacientes, o psiquiatra e psicoterapeuta Christop Nissen[1], da Universidade de Freiburg, na Alemanha, liderou uma pesquisa para entender o porquê de dormirmos cerca de um terço de nossas vidas, visto que o sono é uma função válida e necessária tanto a humanos quanto a animais. Durante a pesquisa constatou-se que uma noite sem dormir, portanto, de insônia, faz com que o cérebro das pessoas fique mais estimulado, por outro lado o cérebro fica prejudicado quanto à formação de memória.
Nissen destaca que o sono é uma recalibragem do cérebro para o ponto certo de aprendizado e formação de memória. "É como se dormir esvaziasse ou limpasse as conexões no cérebro responsáveis por adquirir novas informações", explica o psiquiatra.
A insônia, portanto, é um distúrbio persistente. Ela afeta o humor, consome as energias, reduz o desempenho no trabalho ou nos estudos, afeta a qualidade de vida da pessoa que em geral costuma ficar comprometida pela insônia.
As causas mais comuns da insônia são: o estresse, a depressão, a ansiedade, doenças, mudança de ambiente ou horário de trabalho, maus hábitos de sono, medicações, cafeína, nicotina e álcool, a idade e alimentação em horário avançado da noite. Pode-se dizer que estes motivos são patológicos, pois provocam alterações no corpo.


A Bíblia relata três reis que perderam noite de sono. Foi durante a insônia que Deus corrigiu injustiças contra seus servos, revelou as glórias e ruínas de reinos, revelou-se como o Altíssimo que tudo criou e tem o controle de todas as coisas. 

A INSÔNIA DO REI ASSUERO

 “Naquela mesma noite, o rei não conseguiu pegar no sono; então mandou buscar o livro em que se escrevia o que acontecia no reino e ordenou que os seus funcionários lessem para ele” (Ester 6:1).
O rei Assuero foi o governante da Pérsia. Seu reino se estendeu sobre dento e vinte e sete províncias, que iam desde a Índia até a Etiópia (Ester 1:1). A primeira esposa de Assuero foi Vasti. Ela foi declinada de seu status após uma insubordinação e desrespeito público contra o rei. Para a escolha de uma nova rainha, foi promovido um concurso de beleza. Por providência divina, Ester foi escolhida pelo rei Assuero e casou-se com ela. Ester era uma jovem judia órfã que foi criada por seu tio Mordecai. Obediente e temente a Deus, Ester foi uma mulher sábia que salvou o seu povo de um genocídio.
A Bíblia nos diz que o após ter participado de um banquete oferecido pela rainha Ester, o rei não conseguiu dormir, por isso, ele ordenou que o livro das Memórias ou Crônicas do reino fosse trazido e lido diante dele. Não sabemos as causas desta insônia, mas sabemos o propósito divino desta insônia: corrigir uma injustiça.

Em certa ocasião, o judeu Mordecai que era tio de Ester, descobriu que dois eunucos planejavam matar o rei. Ele, então, livrou o rei da morte denunciando os traidores. O seu feito foi registrado no livro das Memórias e ficou ali esquecido até a noite da insônia de Assuero.


No dia seguinte, logo pela manhã, o rei tomou providências para corrigir a injustiça, visto que nenhuma honra ou agradecimento fora dada a Mordecai (Ester 6:2,3). O primeiro funcionário que chegou ao palácio foi Hamã, um homem ambicioso e que tramava secretamente a morte dos judeus. O rei pediu uma sugestão a Hamã do que ele poderia fazer para honrar uma pessoa a quem ele muito queria o bem. Em sua mente, Hamã logo concluiu que ele mesmo seria a pessoa homenageada, então caprichou e fez uma descrição minuciosa e pomposa da honra; afinal ele se julgava digno de tal reconhecimento do rei. A ambição de Hamã precedeu a sua primeira ruína. Faltava a ele humildade e sobrava arrogância e ódio contra Mordecai e todo o povo judeu.
Veja o tamanho da ambição de Hamã: E respondeu ao rei: Quanto ao homem a quem agrada ao rei honrá-lo, tragam-se as vestes reais, que o rei costuma usar, e o cavalo em que o rei costuma andar montado, e tenha na cabeça a coroa real; entreguem-se as vestes e o cavalo às mãos dos mais nobres príncipes do rei, e vistam delas aquele a quem o rei deseja honrar; levem-no a cavalo pela praça da cidade e diante dele apregoem: Assim se faz ao homem a quem o rei deseja honrar” (Ester 6:7-9). Mal sabia Hamã que ele mesmo seria o indicado pelo rei para fazer a honra a Mordecai. Deus é justo; Ele humilha os soberbos e os que se exaltam e, exalta os que são humilhados -– “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23:12).
A insônia do rei Assuero veio no momento certo e foi a maneira que Deus usou para corrigir uma injustiça do reino em relação a Mordecai dando honra a quem honra. 


A INSÔNIA DO REI NABUCODONOSOR

“No segundo ano de seu reinado, Nabucodonosor teve sonhos que lhe perturbaram o espírito. E isso a tal ponto que o sono o abandonou.” (Daniel 2:1).

Nabucodonosor, foi rei da Babilônia. Ele era um homem violento, idólatra, assassino cruel e sem qualquer temor a Deus. Ele estava dormindo quando teve um sonho que, de tão terrível, tirou o seu sono e fez com que ele não se lembrasse do que havia acordado. Os sonhos foram o meio que Deus usou para trazer insônia ao ditador e tratar com ele.
No primeiro sonho Deus revelou a grandeza do reino de Nabucodonosor e a divisão de seu reino. Deus representou os fatos através de uma gigantesca estátua. A cabeça representava Nabucodonosor com seu reino poderoso, forte e glorioso. Um segundo reino seria inferior ao dele, um terceiro reino teria domínio sobre toda a terra e um quarto reino seria forte como o ferro ao ponto de quebrar e esmiuçar.



Os sábios, adivinhos e feiticeiros de Nabucodonosor não foram capazes de descrever e interpretar o sonho, por isso o rei ordenou que todos os sábios fossem mortos. Entre os sábios estavam Daniel, Hananias, Misael e Azarias. Esses quatro jovens  foram levados com o povo judeu como cativos para a Babilônia. Entretanto, Deus estava com Daniel,  protegeu a vida dele e de seus amigos.  Na Babilônia estes quatro jovens se tornaram altos funcionários no reino de Nabucodonosor e eram considerados como homens sábios.
Foi a Daniel que Deus revelou o sonho e a interpretação do rei Nabucodonosor e assim, Daniel foi poupado da morte, bem como seus amigos e até os magos da Babilônia. Por um tempo, o rei Nabucodonosor reconheceu o poder e a soberania de Deus, mas infelizmente seu coração se inflamou por saber que era poderoso e aconteceu então o segundo passo de sua ruína. Nabucodonosor mandou construir uma grande estátua com a imagem dele e ordenou que todos do seu reino deveriam reverenciá-lo através da imagem. Daniel e seus amigos se recusaram a obedecer a ordem insana do rei e foram condenados à morte em uma fornalha.
Novamente, Deus livrou a Daniel e seus amigos na fornalha de tal forma que, quando saíram, suas roupas nem cheiravam a fumaça. O rei reconheceu o poder de Deus a quem Daniel e seus amigos serviam. Passado um tempo o rei teve outro sonho. Dessa vez, Deus revelou que o rei seria acometido de uma doença mental que o levaria à loucura até ao ponto de agir e se tornar como um animal do campo. A cura do rei aconteceria quando ele reconhecesse que “... o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens; e o dá a quem quer e até aos mais humildes dos homens constitui sobre eles” (Daniel 4:17). Os sonhos de Nabucodonosor serviram como o cajado de Deus para corrigir a altivez do rei e levá-lo a reconhecer que SÓ O SENHOR É DEUS!


A INSÔNIA DO REI DARIO

“Então, o rei se dirigiu para o seu palácio, passou a noite em jejum e não deixou trazer à sua presença instrumentos de música; e fugiu dele o sono”. (Daniel 6:18)
Dario foi rei da Babilônia após a morte do ímpio rei Belsazar, que era filho de Nabucodonosor. Dario decidiu nomear cento e vinte e sete governadores para as províncias de seu reino e entre os escolhidos estava Daniel.
Daniel se destacou entre os demais  “porque nele havia um espírito excelente. O rei até pensava em colocá-lo sobre todo o reino” (Daniel 6:3). Isso causou ciúmes e inveja entre os presidentes e governadores a tal ponto de começaram a vigiar, perseguir e buscar algo de errado na vida de Daniel que pudesse incriminá-lo e dar um fim à sua carreira diplomática na Babilônia “... mas não conseguiram encontrar esse pretexto, nem culpa alguma, porque ele [Daniel] era fiel, e não se achava nele nenhum erro nem culpa”. (Daniel 6:4). Que testemunho exemplar e maravilhoso dava o governante e político Daniel! É um pesar que hoje são raríssimos os casos iguais a Daniel.
Como não conseguiram atribuir a Daniel qualquer falha ou ato ilícito seus inimigos forjaram uma situação e manipularam a criação de uma lei que proibia todo e qualquer cidadão, num prazo de trinta dias, a fazer “... pedido a qualquer deus ou a qualquer homem e não ao senhor, ó rei” (Daniel 6:7). A pena pela transgressão da lei seria a morte pela dilaceração por meio dos ferozes e famintos leões presos em covas. Sem saber as verdadeiras intenções desses homens, o rei foi convencido a assinar a lei que poderia condenar e eliminar Daniel. A tocaia estava armada para Daniel; era só uma questão de tempo. Bastava vigiar e fazer o flagrante.
Mas não pense que Daniel se abalou. Não! Ele foi para a sua casa e “Em seu quarto, no andar de cima, as janelas abriam para o lado de Jerusalém. Três vezes por dia, ele se punha de joelhos, orava, e dava graças diante do seu Deus, como era o seu costume” (Daniel 6:10).
Penso que, se os algozes tivessem um celular no momento, não hesitariam em registrar a foto condenatória para o auto do processo. Ao verem Daniel orando, foram logo contar ao rei, que muito se entristeceu e tentou até ao pôr do sol livrar o seu amigo da morte. Uma vez assinada e publicada, a lei não podia ser revogada; além disso, os traidores exerciam forte pressão sobre o rei. Dario foi forçado a mandar que Daniel fosse jogado na cova dos leões. Uma verdadeira injustiça!
Tal decisão real fez com que o rei não conseguisse dormir naquela noite. Logo de manhã, ainda triste, mas com uma certa esperança, pois sabia da fé de Daniel, o rei foi até a cova e perguntou: “Daniel, servo do Deus vivo! Será que o seu Deus, a quem você serve continuamente, conseguiu livrá-lo dos leões?” (Daniel 6:20). Para a sua alegria, Dario ouviu Daniel lá de dentro da cova: Que o rei viva eternamente! O meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca dos leões, para que não me fizessem mal algum. Porque fui considerado inocente diante dele. E também não cometi nenhum delito contra o senhor, ó rei”. (Daniel 6:21).



O rei Dario corrigiu a injustiça contra o servo de Deus. A nova ordem real foi que se lançassem na cova dos leões os acusadores de Daniel, suas mulheres e filhos.
O rei Dario reconheceu a soberania de Deus e deu glórias ao Deus Eterno. Quanto a Daniel o Senhor o fez prosperar no reinado de Dario e de Ciro que se seguiu. 


A MINHA E A TUA INSÔNIA


No caso de Dario, a insônia foi motivada pelo estresse de ver o amigo condenado à morte por um decreto assinado por ele sem saber que o mesmo afetaria Daniel. Também serviu para corrigir uma grande injustiça. Nos casos de Assuero e Nabucodonozor, a insônia foi uma intervenção divina a fim de corrigir injustiças contra os servos de Deus e colocar um limite à autossuficiência humana.
Como eu, penso que você também já teve algum dia de insônia e nem sempre sabemos a causa, mas pessoalmente considero a insônia como um  momento estratégico que Deus usa levar-nos mais para perto DELE através da oração ou para nos trazer à mente e coração lembranças, pecados não confessados e até mesmo a necessidade de restaurar possíveis relacionamentos rompidos. Se somos a parte ofendida, o melhor a se fazer é orar pelo ofensor, não endurecer o coração, mas perdoar. Se somos o ofensor a atitude correta é o quebrantamento e a busca pela reconciliação. Ao ofendido e ao ofensor, o conselho é “não resista”;  pois além de não ser inteligente, é uma atitude de soberba porque, “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tiago 4:6).



É até irônico afirmar, mas a insônia pode ter efeito curativo. Portanto, é recomendável seguir o conselho divino: “... consultai no travesseiro o coração e sossegai” (Salmo 4:4b). Enquanto dormimos, Deus trabalha por nós na maneira DELE e no tempo DELE.


Raquel Sueli de Almeida Alcantara da Silva
Vitória da Conquista, 16 de março de 2019


[1] A ciência do sono: o que acontece com o cérebro enquanto dormimos. Disponível em https://canaltech.com.br/entretenimento/a-ciencia-do-sono-o-que-acontece-com-o-cerebro-enquanto-dormimos-77799/. Acessado em 16.mar.2019 às 08h05min.

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