sábado, 16 de maio de 2020

Nós amamos como Deus nos ama?




Primeira Igreja Batista de Sobradinho
EBD  Classe Cartas Menores do Novo Testamento


Brasília, 17 de maio de 2020
Professora: Raquel Sueli de Almeida Alcantara da Silva



NÓS AMAMOS COMO DEUS NOS AMA?





TEXTO BASE: I João 4:7-12


INTRODUÇÃO

O título da lição de hoje nos chama para uma reflexão. Nós bem sabemos que a resposta a essa pergunta é NÃO. Por nós mesmos, com a nossa velha natureza adâmica, caída e pecaminosa, não conseguimos amar na mesma medida e proporção com que Deus nos ama. O salmista bem afirma esta verdade Eu sou pobre e necessitado, ...” (Salmo 40:17a NAA).
Nós só conseguimos amar como Deus nos ama quando o próprio Deus faz uma mudança radical em nós. Isso acontece quando Deus vem habitar em nós através do Espírito Santo, aí SIM é que conseguimos ver as coisas e as pessoas sob o prisma de Deus; então somos capacitados por Deus a amar e a perdoar como Ele; e, para que isso aconteça, devemos orar como Davi “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Salmo 51:10).
Vamos refletir nas palavras inspiradas do apóstolo João. Vemos na passagem que o autor da carta é bem didático em nos ensinar que Deus é amor. Um Deus amoroso não deixaria a sua criatura perecer; portanto, Deus manifestou Seu amor enviando Seu Filho Amado para realizar a propiciação pelos nossos pecados. Veremos o significado de propiciação mais a frente, no v. 10. Diante de tal manifestação de amor por nós, o que nos cabe é praticar o amor de Deus em nossa vivência e relacionamento diários com nossos semelhantes. Desde o Antigo Testamento, a Palavra de Deus aponta para a cruz de Cristo como um lugar de encontro, de Deus com a humanidade e, do ser humano com o seu próximo.


  

I.     DEUS É AMOR  (I João 4:7,8)

“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus... (4:7a)
Já falamos da forma carinhosa que João trata e conquista a atenção de seus leitores. Ele os chama de “Amados”. Na carta de I João notamos que a palavra “amados” aparece 6 vezes; “filhinhos” 9 vezes e “amor” 19 vezes.
O comentarista bíblico Guilherme W. Orr [1] menciona que a carta de I João...

... é uma carta familiar do Pai Celestial para os Seus filhinhos. O mundo é visto como estando lá fora. Aqui Deus está preocupado com o procedimento de Seus filhos [...] Aqui a família é importante [...] as cartas de João nos fazem sentirmo-nos em casa [...] João está preocupado com a nossa proximidade com o Pai.
           
            Vemos, portanto, o quanto João foi um escritor movido pelo amor e zeloso com o rebanho que Deus colocou sob a sua responsabilidade.  Guilherme Orr diz ainda que a carta de I João é escrita ... para filhos, isto é, “os filhos de Deus, em outras palavras, apenas para os crentes” e que “o capítulo 4 usa a palavra amor mais do que qualquer outro capítulo da Bíblia”. João declara que “Deus é amor (4:8), mas a verdadeira manifestação desse amor é mostrada no versículo 9”.
         É bom ressaltar que a carta é dirigida aos crentes e, portanto, são os cristãos que devem ser a luz no mundo que jaz nas trevas conforme Jesus Cristo disse: Vocês são a luz do mundo. [...] Assim brilhe também a luz de vocês diante dos outros, para que vejam as boas obras que vocês fazem e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus” (Mateus 5:14a,16 NAA).
         João estimula os crentes ao amor fraternal. Escrevendo sobre o amor fraternal, o escritor e teólogo Daniel Conegero [2] diz que
[...] na Bíblia o amor fraternal significa um sentimento de bondade e afeição que vai além dos laços sanguíneos. O amor fraternal enfatizado nos textos bíblicos caracteriza o relacionamento dos verdadeiros cristãos que através de sua união com Cristo são recebidos por Deus em sua família. No Novo Testamento o termo traduzido com o sentido de “amor fraternal” geralmente é a palavra grega philadelphia. Curiosamente na literatura grega esse termo e seus correlatos sempre são empregados para se referir ao sentimento de pessoas da mesma linhagem familiar. Até mesmo no Antigo Testamento a ideia de fraternidade estava muito restrita à comunidade judaica. Palavras como “irmão” ou “próximo” normalmente significam algo como “compatriota israelita” (cf. Levítico 19:17).

            João ensinou o que ele aprendeu com Jesus. Ao contar a parábola do bom samaritano, Jesus ensinou o amor fraternal. O samaritano pertencia a um povo ao qual os judeus não viam com bons olhos e não se relacionavam, entretanto, Jesus mostrou que aquele homem excluído demonstrou amor fraternal a um desconhecido. O samaritano se compadeceu do estado daquele homem semimorto. Ele não quis saber se o moribundo era judeu, ou até mesmo se era outro samaritano. O seu amor o levou a agir em favor de um desconhecido. O samaritano socorreu o homem moribundo prestando cuidados imediatos de assepsia ao colocar óleo e vinho nos ferimentos; prosseguiu a viagem à pé, pois cedeu o seu animal para carregar o ferido; proveu hospedagem e um cuidador para o pobre homem; pagou pelo tratamento e se responsabilizou por cobrir o valor que excedesse ao que ele estava pagando de imediato. (Lucas 10:30-37). O samaritano deu um grande exemplo de amor pelo próximo, ele teve uma atitude muito diferente do sacerdote e do levita judeus que se achavam tão santos e cumpridores da Lei, mas que passaram pelo homem semimorto no caminho e o deixaram lá abandonado. O verdadeiro amor, o Amor de Deus, move o nosso interior levando-nos a fazer algo pelo outro.
“... e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (4:7b)
João prossegue abordando sobre o novo nascimento. Em seu evangelho ele menciona o diálogo de Jesus com Nicodemos sobre esse assunto. Vamos conferir em João 3:1-21. Nicodemos era um homem de proeminência em sua classe social. Ele pertencia a um grupo de judeus que eram devotos à Torá, ou seja, os cinco primeiros livros da Bíblia, também conhecidos como a Lei Mosaica.
O teólogo e escritor Tiago Rosas[3] nos informa sobre o termo Fariseu:
Segundo o Dicionário Wycliffe, é incerta a origem tanto da palavra quanto do grupo religioso judeu que recebe este nome, mas provavelmente, como sugere a palavra hebraica “parash”, fariseu queira dizer “separado” e faça alusão ao partido religioso que ao menos em tese pretendia demonstrar uma vida moral elevada e distinta dos impuros. Provavelmente surgiram durante o cativeiro de Judá em Babilônia ou durante o período interlinear, naqueles quase quatro séculos antes de Cristo.

Nicodemos conhecia Jesus de ouvir falar e isso despertou nele o desejo de conhecer o Mestre pessoalmente. Mas como isso poderia acontecer se ele era um homem influente na sociedade? O que as pessoas pensariam dele? Sua posição social estaria comprometida e Nicodemos não queria se expor e se mostrar vulnerável.
Mas havia uma sede naquele coração, algo que o impelia a conhecer os ensinos do Mestre. Nicodemos programou um encontro pessoal com Jesus à noite (v.1). Frente a frente com Jesus, Nicodemos não teve receio de declarar que reconhecia a autoridade divina de Jesus (v.2). O Mestre, todavia, conhecedor do que estava no mais secreto do coração de Nicodemos faz uma declaração que dá início ao diálogo que poderia mudar a vida daquele homem – “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (v.3 ARA). O comentarista bíblico Joel Bueno [4] diz que

A observação de Nicodemos à declaração de Jesus era a expressão viva de sua imaturidade espiritual. Até uma criança teria o mesmo raciocínio! E é nesse ambiente de uma fé infantil e humilde que o Espírito Santo traz discernimento e a inteligência espiritual indispensáveis para o acolhimento da verdade que há no Evangelho. [...] o novo nascimento ocorre quando o Espírito Santo faz uso da Palavra de Deus e gera no pecador a fé que ele precisa para acolher a Graça de Deus, isto é, o amor de Deus imerecido pelo pecador. Nos momentos seguintes daquela noite, Nicodemos teve a oportunidade de ouvir o plano de Deus para a salvação pessoal dele e da humanidade. O novo nascimento é espiritual e é a porta de entrada no Reino de Deus. [...] O que Nicodemos ouviu foi suficiente para nascer de novo. Os frutos do renascido o identificam como filho de Deus”.

Aquela noite de encontro pessoal com Jesus certamente mudou a vida de Nicodemos. Por ocasião da Festa dos Tabernáculos, Jesus foi para o templo e ensinava. Além do povo, estavam presentes os principais sacerdotes e fariseus. Houve um embate entre Jesus, os principais sacerdotes e os fariseus, e o povo foi incitado a se voltar contra Jesus, pois esses líderes não criam que Jesus era de fato o Messias enviado por Deus – “Nós, todavia, sabemos donde este é; quando, porém, vier o Cristo, ninguém saberá donde ele é” (João 7:27). Esses homens procuravam um motivo para prender Jesus e mandaram os guardas prenderem o Mestre – “Os fariseus, ouvindo a multidão murmurar estas coisas a respeito dele, juntamente com os principais sacerdotes, enviaram guardas para o prenderem” (João 7:32).
Ao ouvirem Jesus, os guardas não o prenderam, mas voltaram e testemunharam para os principais sacerdotes e fariseus: “Jamais alguém falou como este homem” (João 7:46). Houve entre esses líderes uma suspeita de que algumas autoridades e fariseus possivelmente teriam crido em Jesus – “Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?” (João 7:48). Nicodemos estava ali no grupo dos fariseus e ele se manifestou, discretamente, sobre a ordem dos demais de seu grupo em mandar prender Jesus – “Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes: Acaso, a nossa lei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez? (João 7:50,51).
Depois que Jesus morreu, José de Arimateia foi até Pilatos requisitar o corpo de Jesus para sepultar. Nicodemos também estava lá, acompanhou o sepultamento de Jesus e colaborou levando perfumes para envolver o corpo do Mestre – Depois disso, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus — ainda que em segredo, porque tinha medo dos judeus —, pediu a Pilatos permissão para tirar o corpo de Jesus. E Pilatos deu permissão. Então José de Arimateia foi e retirou o corpo de Jesus. E Nicodemos, aquele que anteriormente tinha ido falar com Jesus à noite, também foi levando cerca de trinta e cinco quilos de um composto de mirra e aloés. Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com os óleos aromáticos, como é costume entre os judeus na preparação para o sepultamento” (João 19:38-40).
Para estar entre os seguidores de Jesus e sepultando o corpo do Mestre, Nicodemos precisou romper muitas barreiras, a começar, deixando o grupo dos fariseus e optando estar entre os seguidores de Jesus. Creio que naquele momento, mais abertamente, Nicodemos estava dando testemunho de seu novo nascimento, corroborando assim o que a Palavra de Deus: Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos são mais altos do que os pensamentos de vocês. Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não voltam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei” (Isaías 55:9-11).
O novo nascimento nos dá discernimento para conhecer intimamente a Deus e forças para romper com tudo aquilo que nos prende e nos afasta de Deus. O novo nascimento tira de nós tudo o que nos oprime, o medo, o anonimato e nos dá alegria e intrepidez para declarar que somos de Cristo.


II. O AMOR DE DEUS MANIFESTO AO MUNDO  (I João 4:8-10)

“Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (4:8)
Deus é real e a Sua natureza se revela pelos seus atributos. O comentarista Bíblico Bancroft [5] nos ensina que

Os atributos de Deus, portanto, são aquelas características essenciais, permanentes e distintivas, que podem ser afirmados a respeito de Seu Ser. Seus atributos são Suas perfeições, inseparáveis de Sua natureza e que condicionam Seu caráter”.

  Os atributos de Deus se dividem em Naturais e Morais. Os atributos Naturais de Deus são:
1)   Deus é Vida – “Porque assim como o Pai tem a vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter a vida em si mesmo” (João 5:26).
2)   Deus é Espírito – “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (João 4:24).
3)   Deus é Pessoa – “Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros” (Êxodo 3:14).
4)   Deus é Triuno – “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (II Coríntios 13:13).
5)   Deus auto-existe – O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas; nem é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa, pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais. De um só homem fez todas as nações para habitarem sobre a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem Deus se, porventura, tateando, o possam achar, ainda que não esteja longe de cada um de nós; pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns dos poetas de vocês disseram: “Porque dele também somos geração” (Atos 17:24-28).
6)   Deus é eterno – “Antes que os montes nascessem e tu formasses a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Salmo 90:2).
7)   Deus é imutável – “Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Malaquias 3:6).
8)   Deus é onisciente – “A palavra ainda nem chegou à minha língua, e tu, SENHOR, já a conheces toda” (Salmo 139:4).
9)   Deus é onipotente – “Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível” (Mateus 19:26).
10) Deus é onipresente – Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda ali a tua mão me guiará, e a tua mão direita me susterá” (Salmo 139:7-10).


Os atributos Morais de Deus são:
1)   Santidade – “Porque escrito está: Sede santos. Porque eu sou santo” (I Pedro 1:16).
2)   Retidão - “Para anunciar que o Senhor é reto. Ele é a minha rocha, e nele não há injustiça” (Salmo 92:15).
3)   Justiça - “Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras” (Salmo 145:17).
4)   Amor – “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (I João 4:8).
5)   Misericórdia - “Benigno e misericordioso é o SENHOR, tardio em irar-se e de grande clemência” (Salmo 145:8).
6)   Graça - “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Efésios 2:8).

Vimos então, que o Amor é um atributo moral de Deus. Isso nos mostra que é sempre Deus quem toma a iniciativa para se comunicar com o ser humano; e é Ele, somente Ele, que tem o melhor para a humanidade. Quando a pessoa conhece a Deus por meio do sacrifício vicário de Jesus Cristo, então é capaz de amar, pois o atributo moral de Deus é compartilhado no coração humano. Deus nos dá do Seu amor – “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo” ( I João 3:1).
         O amor de Deus é gratuito e está disponível a toda a humanidade agora mesmo!

“Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho Unigênito ao mundo para vivermos por meio dele” (4:9)
João escreve aos cristãos e relembra-os que Jesus Cristo é a manifestação perfeita do amor de Deus em nós.  Bancroft [6] diz que

A Pessoa de Jesus Cristo não somente está firmemente  engastada [7] na história humana e gravada nas páginas abertas das Escrituras Sagradas, mas também é experimentalmente materializada nas vidas de milhões de crentes e entrelaçada no tecido de toda a civilização digna desse nome.

É Jesus é quem dá sentido à nossa razão de viver. Fora de Jesus Cristo não há vida. A vida eterna está NELE, porque Jesus é o Cordeiro perfeito que satisfez o pagamento pelo pecado, pela ofensa a Deus  - “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus” (Hebreus 10:12).
A iniciativa de salvar o mundo partiu de Deus em enviar seu Filho. Em Gênesis 3:15 temos a primeira profecia do envio de Jesus Cristo, o Filho amado de Deus e de Sua obra redentora pela humanidade. Gênesis 3:15 é o proto-evangelho no Antigo Testamento; isso quer dizer que foi a primeira vez no mundo que houve um vislumbre ou um reflexo de luz do Evangelho, das Boas Novas de salvação. E o mais maravilhoso é que esse proto-evangelho foi pregado e prometido pelo próprio Deus.
Deus comunicou imediatamente ao Diabo o proto-evangelho [8] e fez com que o Diabo soubesse em primeira mão que ele já estava derrotado, pois o Filho Único e perfeito de Deus, “... o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo...” (João 1:29) haveria de derrotá-lo e destruí-lo para sempre. O Diabo conseguiu fazer com que Adão e Eva pecassem desobedecendo o Criador e como consequência o casal e toda a humanidade que deles procederam também estão espiritualmente separados de Deus, sujeitos a uma vida terrena pecaminosa, perecível e destinados à morte física e espiritual. O que parecia uma vitória do Diabo se tornou em sua derrota e juízo, pois os planos de Deus são eternos e jamais são frustrados. Temos de Deus esta abençoada promessa: “Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo” (I Coríntios 15:21,22).
Em Cristo temos a vida plena, eterna e a vitória sobre Satanás e a morte.
“Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória?
Onde está, ó morte, o teu aguilhão?
O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.
Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.
(I Coríntios 15:54d-57)

“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (4:10)
Quando Adão e Eva pecaram eles sentiram medo e se esconderam. Em seu esconderijo buscaram uma solução paliativa e efêmera para cobrir a sua nudez e se apresentarem perante Deus. Agora eram pecadores, desfigurados espiritualmente e incapazes de resolver a sua salvação. Deus, em Sua infinita misericórdia, providenciou uma roupa de peles de animal. Com isso, Deus estava ensinando-os o sentido da expiação pelo pecado.
O pecado produziu a inimizade entre Deus e a sua criatura. A única maneira de estabelecer as pazes novamente, ou seja, a reconciliação, seria o derramamento do sangue de um inocente. A vida está no sangue. Um inocente estava morrendo no lugar do casal para que eles pudessem ser cobertos, purificados e se apresentassem perante o Seu Criador sem a mácula do pecado. A iniciativa e o ensino de Deus estava apontando para o futuro e para a obra que Jesus faria na cruz, expiando, pagando pelos nossos pecados através do derramamento de Seu sangue em favor dos pecados da humanidade desde o Éden até hoje. Quando aceitamos pela fé a Jesus Cristo em nossa vida como nosso Senhor e Salvador, estamos fazendo as pazes com Deus e somos aceitos por Ele. Deus olha para nós e vê o sangue do Cordeiro Santo e Imaculado. Deus vê Jesus Cristo! – “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Efésios 1:7).
Deus não implora o nosso amor por Ele e nem impõe condições para O amarmos. O amor de Deus é incondicional – “Mas Deus demonstra o seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando éramos ainda pecadores” (Romanos 5:8).  O amor de Deus se move de íntima compaixão pelas mais de 7 bilhões e 700 milhões (7,7) [9] de vidas que habitam o planeta Terra hoje. Ele conhece cada uma dessas pessoas particularmente. Isso quer dizer que você e eu não passamos despercebidos aos olhos de Deus.
E porque somos tão preciosos e especiais para Deus, por amor a nós Ele fez de Seu Filho querido a propiciação pelos nossos pecados. A palavra propiciação descreve um aspecto importantíssimo da salvação, ela está ligada ao fato de aplacar ou acalmar a ira de Deus. Vimos no versículo 7 que Deus é Amor. Deus também é Santo, Justo e Reto. Portanto, todo e qualquer pecado e perversão estão sob a ira de Deus – “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Romanos 1: 18).
O propiciatório que estava no tabernáculo era a tampa da arca da aliança. Uma vez por ano o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos e colocava no propiciatório o sangue do sacrifício de animais feito pelos pecados do povo de Israel. O sangue era um pedido de perdão pelos pecados cometidos, ao mesmo tempo em que apresentava a Deus a morte de um animal perfeito e inocente no lugar do povo. O sangue no propiciatório tinha como objetivo reconciliar os pecadores com o Deus Santo, Justo e Reto. No Novo Testamento, o propiciatório é a cruz onde Jesus Cristo foi crucificado e derramou o Seu sangue em favor de muitos, de uma vez por todas - “... porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu. Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção” (Isaías 53:12b; Hebreus 9:11,12).
Ah! Como é grande o Amor de Deus por nós! Não merecemos, mas Deus nos dá abundantemente. Que nossos corações agradecidos cantem exaltando nosso Salvador:
Lindo, lindo, lindo és. Glória, glória eu Te dou, Jesus, Jesus.
Lindo, lindo, lindo és. Glória, glória eu Te dou, Jesus, Jesus...


III.              RECOMENDAÇÕES À PRATICA DO AMOR DE DEUS (I João 4:11,12)

“Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros” (4:11)
Depois de ensinar sobre o Amor de Deus e como Ele se manifestou no mundo, o apóstolo João passa a recomendar aos cristãos a prática do amor de Deus. Seu ensino é conclusivo “Se Deus de tal maneira nos amou”. João chama a atenção dos cristãos para a grandeza do amor de Deus manifesto na pessoa e obra de Jesus. O amor de Deus é imensurável “de tal maneira”. O ensino de João sobre o amor de Deus está em sintonia com o ensino do apóstolo Paulo aos efésios – E assim, pela fé, que Cristo habite no coração de vocês, estando vocês enraizados e alicerçados em amor. Isto para que, com todos os santos, vocês possam compreender qual é a largura, o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que vocês fiquem cheios de toda a plenitude de Deus” (Efésios 3:17-19).
Impelidos pelo amor de Deus derramado em seus corações os cristãos são conclamados à prática do amor fraternal, à mutualidade cuja reciprocidade é valorizada e incentivada. Os cristãos da igreja primitiva nos dão o exemplo de amor uns para com os outros. Havia amor mútuo; todos perseveravam na sã doutrina pregada pelos apóstolos; a comunhão no partir do pão e nas orações eram notadas no Corpo de Cristo; todos tinham tudo em comum, de maneira que não havia desigualdade social e cristã; a liberalidade era incentivada e praticada; a unanimidade de espírito, a assistência assídua no templo e a comunhão ao redor das mesas nos lares eram motivos de alegria e singeleza de coração; o louvor e o testemunho eram características que contagiavam e atraíam as pessoas de fora para dentro da igreja - “Enquanto isso, acrescentava-lhes o  Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos”  (Atos 2:47).
A Igreja cresce quando o Corpo de Cristo vive a prática do Amor de Deus!


“Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor, é em nós, aperfeiçoado” (4:12)
João faz referência ao que ele escreveu no seu evangelho – “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (João 1:18). Nenhum olho mortal viu a Deus, nem mesmo a Moisés foi permitido ver a Deus por ser isso algo impossível (Êxodo 33:15-20), então, qual é o propósito de João ao iniciar o versículo com esta afirmação? A resposta vem logo em seguida. Quando nós amamos o nosso próximo e nossos irmãos uns aos outros por meio de ações concretas, as nossas vidas evidenciam a existência de Deus e a Sua presença viva em nós. O exercício do amor aperfeiçoa a obra de Deus em nossa vida como igreja e revela Deus ao mundo. 
Quando Deus nos transforma segundo a imagem de Cristo, o amor, que é um atributo moral de Deus, entra em nós e assim passamos a evidenciar que Deus habita em nós através do Espírito Santo.
O comentarista Champlin [10] diz que “amar é ter aperfeiçoada em nós a extensão da presença do Pai” e que “amamos a Deus amando a outros; ninguém pode desvincular as duas realidades”.

CONCLUSÃO

Vimos que Deus é amor e que Jesus Cristo, o Seu Unigênito Filho, é a mais perfeita manifestação de amor que Deus nos deu.
E agora? Será que é possível amarmos como Deus nos ama? Sim, é possível, pois quando amamos o nosso próximo, nós o estamos amando com o amor de Deus que foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Romanos 5:5). Ao mesmo tempo, a prática do amor fraternal é um modo de proclamarmos às pessoas que Deus existe, que Ele tem um grande amor por elas e quer tê-las não somente como criaturas, mas como filhos e filhas eternamente.
Que possamos nos dispor para sermos proclamadores das Boas Novas de salvação e bons discípulos na prática do amor cristão conforme o apóstolo João carinhosamente nos orienta – Meus filhinhos, o nosso amor não deve ser somente de palavras e de conversa. Deve ser um amor verdadeiro, que se mostra por meio de ações” (I João 3:18 NTLH).



[1] ORR, Guilherme W. 27 Chaves para o Novo Testamento: um manual prático para estudo bíblico. São Paulo: Imprensa Batista Regular do Brasil, 1981.
[2] CONEGERO, Daniel. O que é amor fraternal. Disponível em https://estiloadoracao.com/amor-fraternal/. Acessado em 12.abr.2020 às 10:48.
[3] O que significa “Fariseu”? Disponível em https://www.gospelprime.com.br/o-que-significa-fariseu/. Acessado em 04.mai.2020 às 10:17.
[4] BUENO, Joel Evangelista. João apresenta Jesus: estudos bíblicos – Volume I – Caps. 1-10. São Paulo: Primeira Igreja Batista Bortolândia/Ministério de Educação Cristã/EBD. Disponível também em http://vidacristasempre.blogspot.com/. Acessado em 19.abr.2020 às 10:48.
[5] BANCROFT, Emery H. Teologia Elementar: doutrinária e conservadora. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1983.
[6] Idem nota 5.
[7] Engastada: assentada, embutida, encravada, inserida, introduzida.
[8] Proto significa: primeiro ou início. Evangelho significa: Boas Novas. O proto-evangelho é o início das Boas Novas.
[9] Informação disponível em https://www.overpopulationawareness.org/pt/. Acessado em 10.mai.2020 às 17:03.
[10] CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Volume IV [Tiago a Apocalipse].  São Paulo: Millenium Distribuidora Cultural Ltda, 1983.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Qual o problema com o mundo?


QUAL O PROBLEMA COM O MUNDO?

Lição referente ao dia 13/04/2020, publicada no whatsapp da EBD "Cartas Menores do Novo Testamento" da Primeira Igreja Batista de Sobradinho, Brasília-DF,  para os alunos estudarem em suas casas por ocasião do período de pandemia no Brasil. Professora: Raquel Sueli de Almeida Alcantara da Silva. 

Texto Base: I João 2:15-18



INTRODUÇÃO:
O título da lição de hoje é bem sugestivo para a nossa meditação. Desde que o pecado entrou no mundo (Gênesis 3) a Criação enfrenta grandes problemas em várias áreas; eis algumas delas: física, moral, espiritual, emocional, financeira, social, política, ambiental e outras.
Antes de prosseguirmos, vamos definir a palavra “mundo”.
A palavra “mundo” é de origem grega “kosmos”  e significa “o mundo organizado”. É usada no Novo Testamento, algumas vezes no sentido de “universo, o mundo criado” e no Antigo Testamento  no sentido de “todas as coisas”  ou como “o céu e a terra” (Atos 17:24 NAA[1] - O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas”). Nesse sentido, o “mundo” foi criado pelo Verbo (João 1:10 NAA -  O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o conheceu”.) e era justamente desse “mundo” que Jesus falava quando afirmou – “De que adiantará uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará uma pessoa em troca de sua alma?”  (Mateus 16:26 NAA) [2].
     Entretanto, a humanidade é a parte mais importante do universo, por esta causa,
o vocábulo “kosmos” é mais frequentemente utilizado no sentido limitado de seres humanos, sendo então sinônimo da expressão grega hẽ oikoumenẽ gẽ, “a terra habitada” que em português é igualmente traduzida por “mundo” no Novo Testamento[3].

         Assim sendo, desde que o pecado entrou no mundo, a humanidade está em rebelião contra Deus, conforme nos dizem Salomão, em Eclesiastes 7:20 NAA Não há nenhum justo sobre a terra que faça o bem e que não peque” e o apóstolo Paulo em Romanos 3:23 NAA -pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”. Além da rebeldia, o pecado produziu consequências universais. O mundo se transformou em um lugar desordenado e está debaixo do domínio do maligno conforme o apóstolo João nos informa em I João 5:19 NAA -“Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno”.     
         O mundo em que vivemos não é mais o mundo que Deus desejava, mas antes é o “mundo” em oposição a Deus, seguindo a sua própria sabedoria humana e seu viver à luz de sua própria razão – I Coríntios 1:21 NAA “Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, Deus achou por bem salvar os que creem por meio da loucura da pregação” . O comentarista Douglas nos esclarece que
As duas características dominantes desse mundo são o orgulho, originado do fato que o homem não aceita a posição de criatura nem sua dependência do Criador, e que o leva a agir como se ele mesmo fosse o senhor e doador da vida; e a cobiça, que o leva a desejar e a possuir tudo quanto é atrativo aos seus sentidos físicos (I João 2:16 NAA - Porque tudo o que há no mundo - os desejos da carne, os desejos dos olhos e a soberba da vida — não procede do Pai, mas procede do mundo).

         Creio que já deu para perceber o que está acontecendo com o mundo, mas vamos continuar nossa reflexão sobre o texto bíblico proposto na lição.

I.            A VIDA QUE NÃO TEM FUTURO (2:15-17)
O comentarista bíblico Barclay[4] nos informa que na antiguidade, os judeus da dispersão entraram em contato com a religião dos persas, o zoroastrismo; e essa religião deixou rastros no pensamento judeu.
O zoroastrismo via o mundo como o campo de batalha entre as forças opostas da luz e das trevas. O deus da luz era Ahura-Mazda, e o das trevas Ahura-Mainyu. Havia entre os dois um conflito eterno, e a grande decisão na vida era decidir de que lado servir. Todo homem devia decidir aliar-se ou com a luz ou com as trevas. Os judeus conheciam muito bem esta concepção religiosa.

A religião também faz parte da cultura dos povos e revela a visão que cada povo tem do mundo. Toda cultura tem algo que aproxima ou assemelha às verdades transmitidas da Palavra de Deus e outras que destoam, distorcem ou se distanciam da Palavra inspirada por Deus. Precisamos estar atentos a isso.
À luz da Palavra de Deus, existe uma batalha invisível, mas real que está sendo travada entre o Bem e o Mal, ou seja, entre Deus e Satanás desde que o pecado entrou no mundo – Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestiais” (Efésios 6:12 NAA). O alvo desta batalha são os seres humanos. Nós sabemos que Satanás já está derrotado, mas até que ele seja preso eternamente, a guerra continua. O diabo não está amarrado coisa nenhuma! Ele está solto e ativo no intuito de arrebanhar para si as vidas preciosas que Deus criou e deseja salvar.
Quando o apóstolo João diz “Não ameis o mundo...” (v. 15a) ele não está aconselhando, mas ordenando. O cristão não deve se enamorar e nem amar o mundo caído, depravado e desornado pelo pecado. O cristão deve amar e servir a Deus, este é um mandamento proferido por Deus na Lei mosaica – Portanto, ame o SENHOR, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e com toda a sua força. Estas palavras que hoje lhe ordeno estarão no seu coração” (Deuteronômio 6:5,6) e reiterado por Jesus Cristo - “Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, com todas as suas forças e todo o seu entendimento.” (Lucas 10:27a).
Da mesma maneira, “...nem as coisas que há no mundo”  (v.15a) devem ser o alvo do amor do cristão. E o que há neste mundo desfigurado pelo pecado? O apóstolo Paulo nos apresenta claramente em Gálatas 5:19-21 que no mundo existem obras provenientes de corações humanos caídos pelo pecado. São obras produzidas pela carne –  Ora, as obras da carne são conhecidas e são: imoralidade sexual, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçarias, inimizades, rixas, ciúmes, iras, discórdias, divisões, facções, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas. Declaro a vocês, como antes já os preveni, que os que praticam tais coisas não herdarão o Reino de Deus” (NAA).
João continua ensinando aos cristãos que “Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (v. 15b).  O amor ao mundo pode ser visto na maneira como a pessoa fala, se comporta, age e faz suas escolhas. Jesus advertiu que é impossível viver uma vida dupla, amando o mundo e dizendo que ama a Deus – Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou irá odiar um e amar o outro, ou irá se dedicar a um e desprezar o outro” (Mateus 6:24a NAA). Quem ama o mundo tem uma visão de amor distorcida e egoísta. O comentarista bíblico Champlin[5] nos diz que
O amor do Pai libera o amor ao próximo, pois o amor ao próximo, é na realidade, uma forma de amor a Deus, segundo se vê em Mateus 25:35-40 -  Porque tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; eu era forasteiro, e vocês me hospedaram; eu estava nu, e vocês me vestiram; enfermo, e me visitaram; preso, e foram me ver.” — Então os justos perguntarão: “Quando foi que vimos o senhor com fome e lhe demos de comer? Ou com sede e lhe demos de beber? E quando foi que vimos o senhor como forasteiro e o hospedamos? Ou nu e o vestimos? E quando foi que vimos o senhor enfermo ou preso e fomos visitá-lo?” — O Rei, respondendo, lhes dirá: “Em verdade lhes digo que, sempre que o fizeram a um destes meus pequeninos irmãos, foi a mim que o fizeram”. Portanto, o amor a Deus nos “envolve” no mundo; mas na capacidade de servir aos outros, e não em capacidade egoísta [...] O amor a Deus exige que nos interessemos pelos outros, que sejamos servos de todos.

      Assim sendo, o cristão que tem o amor Pai é aquele que vive e age guiado pelo fruto que o Espírito Santo produz em sua vida - Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito”  (Gálatas 5:22-25).
      O verdadeiro amor vem de Deus, pois Deus é amor – Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus, e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (I João 4:7,8). O verdadeiro amor é cultivo do Espírito Santo conforme vimos em Gálatas 5:22-25 e ele fornece a base para uma vida de santidade e nos torna cada dia mais parecidos com a imagem de Cristo.
      A seguir, João apresenta três origens do pecado aos quais o cristão não deve jamais amar – “porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo” (v. 16).
Definindo o significado de Concupiscência: O Novo Dicionário da Bíblia[6] explica que na língua hebraica, o termo hebraico concupiscêncianephesh” expressa “ânsia ou desejo e traz em si a promessa de satisfação; e, na língua grega a palavra se traduz como “epithimia”  e expressa qualquer desejo violento, onde o contexto ou adjetivo qualificativo determina sua natureza, boa ou má como por exemplo: O puro desejo de Cristo declarado em Lucas 22:15 NAA – “Então Jesus lhes disse: — “Tenho desejado ansiosamente comer esta Páscoa com vocês, antes do meu sofrimento”; e o desejo do apóstolo Paulo em estar com Cristo manifesto em Filipenses 1:23 NAA -  Estou cercado pelos dois lados, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” . Entretanto, em I Pedro 4:3 NAA – Porque basta que, no passado, vocês tenham feito a vontade dos gentios, tendo andado em práticas libertinas, desejos carnais, bebedeiras, orgias, embriaguez e em detestáveis idolatrias”  a palavra concupiscência esta palavra está em uma lista de vícios praticados pelos gentios e junto aos adjetivos: “mundana” em  Tito 2:12 NTLH[7]Essa graça nos ensina a abandonarmos a descrença e as paixões mundanas e a vivermos neste mundo uma vida prudente, correta e dedicada a Deus” ; maligno/maus desejos”, em Colossenses 3:5 NAA - Portanto, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena: imoralidade sexual, impureza, paixões, maus desejos e a avareza, que é idolatria” ;  da mocidade”, em II Timóteo 2:22 NAA Fuja das paixões da mocidade. Siga a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor”  e do “engano” em Efésios 4:22 ARA[8]no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano.
         1. Concupiscência da carne: a concupiscência da carneestá diretamente ligada aos apetites sensuais, aos desejos da carne e pela carne.
A seita herética dos gnósticos era muito perigosa e ameaçava a igreja primitiva durante os primeiros três séculos. O Gnosticismo se origina da palavra grega gnosis, a qual significa “saber”, pois os gnósticos acreditam que possuem um conhecimento mais elevado, não da Bíblia, mas um conhecimento adquirido por algum plano místico e superior de existência. Os gnósticos se enxergam como uma classe privilegiada e mais elevada sobre todas as outras devido ao seu conhecimento superior e mais profundo de Deus. Influenciado por filósofos como Platão, o Gnosticismo é baseado em duas premissas falsas. Primeiro, essa teoria sustenta um dualismo em relação ao espírito e à matéria. Os gnósticos acreditam que a matéria seja essencialmente perversa e que o espírito seja bom. Como resultado dessa pressuposição, os gnósticos acreditam que qualquer coisa feita no corpo, até mesmo o pior dos pecados, não tem valor algum porque a vida verdadeira existe no reino espiritual apenas[9].

O gnosticismo é um sério perigo à nossa fé cristã ainda nos dias de hoje. A Palavra de Deus ensina que o nosso corpo pertence a Deus e é a habitação do Espírito Santo – Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?
Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus”
(I Coríntios 6:19,20 - ACF[10]). Sendo o templo do Espírito Santo, nossos corpos devem ser apresentados e consagrados a Deus – Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional; e não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que proveis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:1,2 TB[11]).
2. Concupiscência dos olhos: A concupiscência dos olhos”  também está relacionada à concupiscência da carne, porém o apóstolo João a menciona porque ele quer enfatizar que a visão, ou seja, os olhos são a porta de entrada de desejos ilícitos. Foi através dos olhos que Satanás seduziu Eva levando-a a pecar – Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido e ele comeu” (Gênesis 3:6 ARA).  
O pecado entra através dos sentidos do corpo humano, que produz o pecado no coração. É por isso que Deus é o maior interessado em nosso coração Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos se agradem dos meus caminhos  (Provérbios 23:26).
A concupiscência dos olhos é o desejo de possuir o que vemos e não temos, ou seja, as coisas com forte apelo visual. Satanás usa dessa estratégia para atacar os discípulos de Jesus, fazendo-os cair em pecado e isso acontece conosco também, algumas vezes abertamente e em outras de forma camuflada, sorrateira e quase imperceptível. A respeito disso, Jesus nos adverte – Os olhos são a lâmpada do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz; se, porém, os seus olhos forem maus, todo o seu corpo estará em trevas. Portanto, se a luz que existe em você são trevas, que grandes trevas serão!” (Mateus 6:22,23).  
Vale aqui transcrever o texto de Vanderlei L. Bokorski publicado em seu blog “Príncipe da Paz” [12]:
A concupiscência dos olhos abarca a cobiça, as conquistas materiais, a ambição não do ser, mas do ter. Por essa concupiscência muitas pessoas abandonam a Deus, seus caminhos para tornarem-se adictos do trabalho (escravos), sem tempo para a família, para aproveitar o dom da vida e principalmente para dedicar tempo e disposição para as coisas de Deus. Um bom exemplo disso é Judas Iscariotes. Apesar de ter andado com Cristo, aprendido com Cristo, visto as obras de Cristo, foi capaz de vender sua lealdade por 30 moedas [...] Satanás o tentou com a ambição, ambição já demonstrada anteriormente pelo relato do Apóstolo João que refere-se a ele (Judas) como ladrão. (João 12:6 NAA Ele disse isso não porque se preocupava com os pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa do dinheiro, tirava o que era colocado nela”)

Portanto, é necessário estar alerta e saber discernir as astutas artimanhas do diabo, o nosso adversário, que “... anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (I Pedro 5:8b - ARA).
3. “Soberba da vida”: uma vez que os olhos são atraídos despertando o desejo de TER, como consequência, o desejo de SER acompanha a descida para o pecado da soberba da vida. Os olhos de Eva viram que o fruto da árvore era bom para se comer e agradável aos olhos; isso despertou nela as papilas gustativas e o gosto por levar à boca e provar. A função das papilas gustativas é enviar mensagens ao sistema nervoso central dizendo se o alimento é bom ou não, identificando seu gosto. Eva também viu que o fruto era desejável para dar entendimento, mas este entendimento não era vindo de Deus, senão uma falsa promessa que o diabo despertou em Eva.
A mentira e a usurpação são próprias da natureza de Satanás. Nem mesmo Jesus foi poupado quando foi tentado (ver Mateus 4:1-10).
Bokorski[13] ainda diz sobre a soberba da vida:
A soberba da vida abarca a ambição não do Ter, mas do Ser. É a busca pelo reconhecimento. Soberba, arrogância, prepotência são alguns dos frutos dessa vaidade. Em geral esse mal aflige aqueles que já conquistaram fortuna, mas isso não é o bastante, almejam também fama e poder. Particularmente acho esse mal o mais letal, porque é comumente encontrado nas igrejas assim como no mundo. Quantos não são os homens de Deus que vendem seus ministérios por um conchavo político, que toleram o pecado dentro da igreja para manter o templo cheio, e com isso obter prestígio (Ap 2:20 ARA – Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos” ). Sem contar que esse tipo de concupiscência traz também em seu bojo condutas imorais, corrupção e toda sorte de mazelas. É por esse tipo de canal que se estabelece teologias materialistas, como a da prosperidade e da confissão positiva (que são quase sinônimas). Um bom exemplo de alguém que vendeu seu ministério é Balaão, Profeta de Deus, mas que pelas promessas de reconhecimento, de poder ensinou a Balaque a lançar tropeços diante do povo de Deus. "Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem”  (Apocalipse 2:14 ARA).

João não deixa dúvidas ao afirmar que a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida presentes no mundo NÃO têm a sua origem em Deus, o Pai. Elas procedem do mundo e do diabo.
Prosseguindo, o apóstolo João mostra porquê este mundo em que vivemos não tem futuro. Ele diz: “Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; (v. 17a). O mundo em que vivemos é passageiro, tem um tempo de existência limitado por Deus e, tudo o que nele existe também tem sua finitude.
Deus revelou ao apóstolo João na Ilha de Patmos que Ele (Deus) há de criar um novo céu e uma nova terra, livre do poder do pecado, da presença e do domínio de Satanás – E vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” (Apocalipse 21:1 NAA).
João também anima os cristãos e assegura que aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (v. 17b). As pessoas são importantes para Deus. Ele as ama, quer salvá-las por meio de Jesus Cristo e habitar nelas através do Espírito Santo. Deus não tem prazer na morte das pessoas, mas em que vivam com a Trindade Santa na eternidade O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a julguem demorada. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento”  (II Pedro 3:9 NAA).  
Mais à frente, João assegura aos cristãos de seu tempo e a nós, a quem pertencemos e registra outro motivo pelo qual este mundo em que vivemos não tem futuro – Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno”  (I João 5:19). 

II.         O TEMPO DA ÚLTIMA HORA  (2:18)
“Filhinhos, esta é a última hora. E, como vocês ouviram que o anticristo vem, também agora muitos anticristos têm surgido; por isso sabemos que é a última hora”  (v. 18)
Após a seção de ensino e exortação, João passa a advertir os cristãos para que fiquem alertas para os sinais que precedem a vinda do Senhor, a Parousia, à qual ele chama de “a última hora”. O apóstolo expressa seu carinho e amor pelos cristãos chamando-os de “Filhinhos”. É também uma forma carinhosa do idoso apóstolo se referir ao seu querido rebanho eclesiástico.
O comentarista Champlin[14] afirma que a expressão “a última hora” aparece somente nesta passagem e deve ser considerada equivalente às expressões “último dia” e últimos dias” e que, quando João a utiliza, está reforçando o fato de que dias “críticos” estão por vir.
João chama a atenção dos cristãos para a realidade de que o aparecimento do “anticristo”, aquele que há de se opor à Cristo, é certa; bem como o aparecimento de seus seguidores, os falsos profetas gnósticos, os “anticristos” que se opunham e se opõem a Deus, à pessoa e obra de Jesus Cristo, à Igreja e sua tarefa no mundo. A respeito desses opositores, Jesus predisse em Mateus 24:23-28 – Então, se alguém disser a vocês: “Olhem! Aqui está o Cristo!” ou: “Ali está ele!”, não acreditem. Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando grandes sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos. Eis que tenho predito isso a vocês. Portanto, se disserem a vocês: “Eis que ele está no deserto!”, não vão lá. Ou, se disserem: “Eis que ele está no interior da casa!”, não acreditem. Porque, assim como o relâmpago sai do Oriente e brilha até o Ocidente, assim será a vinda do Filho do Homem. Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres”.
Como cristãos, precisamos ler e meditar na Palavra de Deus a fim de não sermos enganados.

CONCLUSÃO:
A solução para o problema do mundo está em Deus.
É de Deus que vem a salvação e é NELE que está a nova vida. Deus enviou Seu Único Filho para morrer pela humanidade. Jesus veio, morreu, ressuscitou venceu a morte, subiu ao Céu e voltará para levar para Si todos quantos o receberam como Salvador e Senhor de suas vidas. Enquanto isso não acontece, é nosso dever, como cristãos que somos, propagar a mensagem do Evangelho até que Ele venha.
Estamos vivendo dias críticos e não nos resta muito tempo neste mundo desfigurado pelo pecado. Que possamos trabalhar para ganhar o máximo de almas para o Senhor enquanto aguardamos a bendita esperança de Sua vinda em glória.

Porque o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Portanto, consolem uns aos outros com estas palavras.           (I Tessalonicenses 4:16-18)






[1] N.A.A: Versão Nova Almeida Atualizada.
[2] DOUGLAS, J. D. (Org.). O Novo Dicionário da Bíblia. Tradução: João Bentes. Volume II, São Paulo: Edições Vida Nova, 1962 [ Reimpressões: 1978,1979,1981,1983].
[3] Idem nota n° 2.
[4] BARCLAY, William. Comentário de I João. Tradução: Carlos Biagini. Disponível em https://files.comunidades.net/pastorpatrick/1Joao_Barclay.pdf. Acessado em 01.abr.2020 às 11:15.
[5] CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. 1ª. Edição, Volume VI (Tiago, I Pedro, II Pedro, I João, II João, III João, Judas, Apocalipse). São Paulo: Milenium Distribuidora Cultural Ltda, 1979.
[6] Idem nota n° 2
[7] NTLH: Nova Tradução na Linguagem de Hoje.
[8] ARA: Almeida Revista e Atualizada
[9] O que é gnosticismo cristão?. Disponível em https://www.gotquestions.org/Portugues/Gnosticismo-Cristao.html. Acessado em 03.abr.2020 às 11:04.
[10] ACF: Almeida Corrigida Fiel.
[11] TB: Tradução Brasileira.
[12] BOKORSKI, Vanderlei L. Concupiscência da Carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida. Disponível em http://jesuscristoprincipedapaz.blogspot.com/2011/08/concupiscencia-da-carne-concupiscencia.html. Acessado em 03.abr.2020 às 17:09.
[13] Idem nota n° 12.
[14] Idem nota n° 5.